Decisão de divulgar dados sobre miséria após as eleições foi do Ipea, diz ministra
Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados
Tereza Campello insistiu que a pobreza no Brasil está diminuindo.
A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, disse hoje na Câmara dos Deputados que os dados que permitem o cálculo dos números da pobreza e da miséria no Brasil foram disponibilizados pelo governo em 18 de setembro. Segundo ela, qualquer pesquisador poderia ter consultado os números e feito análises a partir da página do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na internet.
Em resposta à crítica da oposição de que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) só publicou a análise dos dados no início deste mês, após o segundo turno das eleições, Tereza Campello disse que foi uma decisão tomada pela diretoria do órgão. A decisão, disse, foi tomada em agosto, antes mesmo da divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) pelo IBGE em setembro.
"Eu não sabia da decisão, muito menos a presidenta [Dilma Rousseff]", disse a ministra em audiência nas comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; e de Seguridade Social e Família.
De acordo com os números publicados pelo Ipea, é a primeira vez desde 2003 (quando havia 26,24 milhões de brasileiros em situação de miséria) que o indicador registra alta: entre 2012 e 2013, o número passou de 10,08 milhões para 10,45 milhões, crescimento de 3,68%.
Trajetória de queda
Apesar de os números indicarem um crescimento da miséria, Tereza Campello ressaltou que a extrema pobreza tem tido trajetória de queda no País: passou de 13,6%, em 1992, para 4%, em 2013. O número de pobres também diminuiu: de 31,4%, em 1992, para 8,8%, em 2013.
A alteração verificada agora, explicou a ministra, é uma flutuação normal e estaria dentro da margem de erro das pesquisas. Ainda segundo ela, nada na economia do País justifica a reversão de queda no combate à pobreza: o salário mínimo cresce acima da inflação, a taxa de desemprego está caindo e o Bolsa Família teve um aumento real no valor médio recebido por família (84% no governo de Dilma). Ela disse ainda que o aumento da inflação não justifica o crescimento do número apenas de miseráveis, sem qualquer influência sobre a taxa de pobreza.
Tereza Campello destacou ainda os dados referentes à população com “renda zero”, que inclui pessoas que não se encaixam entre os miseráveis, mas que podem não ter renda. “Por exemplo, um advogado que não teve honorários no mês. A pessoa não é extremamente pobre, mas está na curva”, explicou.
Segundo a ministra, a análise nos 2,4 milhões de pessoas com renda zero apontou a existência de 1,7 milhão sem perfil de extrema pobreza (69,5%). “Ou seja, dos 2,4 milhões com renda zero, somente 744 mil (30,5%) teriam perfil com extrema pobreza.”
Benefício eleitoral
O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) discordou dos dados e criticou sua divulgação pelo Ipea apenas recentemente. Para ele, o governo se utilizou da situação para se beneficiar nas eleições. “A fraude eleitoral vai se configurar cada vez mais no momento em que tudo isso vier à tona, como veio agora aumento da gasolina, da energia elétrica, da inflação, da pobreza, concentração de renda e o não cumprimento da meta do superávit fiscal”, listou.
Caiado disse que iria requerer à Advocacia Geral da União (AGU) para saber o porquê de interditar os números do Ipea no período das eleições.
Deputados petistas, por outro lado, saíram em defesa do governo. “A oposição não se conforma que a resposta da presidenta Dilma à crise mundial não seja arrocho, desemprego e recessão”, afirmou o deputado Afonso Florence (PT-BA).
Edição - Natalia Doederlein