Uso de animais em experimentos científicos provoca divergência entre participantes
Os participantes divergiram quanto à substituição de animais por soluções alternativas, porém houve consenso quando o assunto foi a falta de investimentos que ampliem as pesquisas com métodos substitutivos nas áreas de ciência e tecnologia. O deputado Ricardo Tripoli, do PSDB de São Paulo, coordenador de Fauna da Frente Parlamentar Ambientalista do Congresso Nacional e autor da proposta do debate, afirmou estar preocupado com o sigilo de informações em experimentos científicos.
Ele citou o caso do Instituto Royal, em São Roque, no interior de São Paulo, que no ano passado foi invadido por ativistas, culminando no resgate de aproximadamente 250 cães, que eram supostamente usados em testes toxicológicos. "Nós temos que buscar realmente uma alternativa. O que se faz hoje no Brasil, em certos lugares, como nesse caso específico, é uma atrocidade, um holocausto contra os animais. E acho que o debate de hoje completa o trabalho legislativo do Congresso Nacional. E apresentando propostas. Eu acho que hoje é o início de um processo".
Segundo o diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Marcelo Morales, "não se pode falar somente em metodologias alternativas, mas no desenvolvimento de metodologias cientificamente provadas". Ele afirma que é impossível dispensar o uso de animais em pesquisas científicas e que isso poderia pôr em risco a população brasileira. "É por isso que fiz o apelo aqui nesta audiência pública para que o parlamento brasileiro invista mais em ciência e tecnologia e também nas metodologias alternativas, porque não podemos ainda prescindir do uso de animais no mundo, e no Brasil muito menos. Caso contrário, nós ficaríamos dependentes das tecnologias externas e colocaríamos a nossa população em risco".
O pesquisador Thales Trez, do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), disse que o uso de animais em pesquisas é apenas uma tradição que se perpetua na comunidade científica e que sua manutenção prejudica o desenvolvimento de novas alternativas. "A insistência na manutenção do modelo animal ocasiona uma perda muito grande em termos de avanço, inclusive para o desenvolvimento de novas terapias para os seres humanos, em função da própria falência, da própria pobreza do poder preditivo desses modelos animais".
Os deputados se comprometeram a marcar uma reunião com o Colégio de Líderes da Câmara, para colocar em pauta a discussão do Código Federal de Bem-Estar Animal (PL 215/2007) e do projeto (PL 2.833/2011) que criminaliza os maus-tratos praticados contra cães e gatos, ambas as iniciativas de autoria do deputado Tripoli.
Da Rádio Câmara, de Brasília, Thyago Marcel.