Seminário LGBT do congresso Nacional discute dificuldades do mercado de trabalho
O principal dado da discussão foi uma pesquisa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), com informações de que no Brasil 90% dos transexuais e travestis utilizam a prostituição como única fonte de renda, e que o alto número se deve a falta de oportunidades no mercado de trabalho. “Esse espaço ainda é negado para as pessoas trans. Ainda que algumas queiram estar nesse lugar, muitas delas não querem, e isso se torna de fato uma falta de opção”, explica Marcelo Caetano, professor na faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB) e mediador da discussão.
:: INVISIBILIDADE TRANS IMPEDE O ACESSO A EMPREGOS FORMAIS
Transexuais e travestis enfrentam o maior desafio quando o assunto é inserção em cargos formais no mercado de trabalho.
Marcelo aponta que a principal dificuldade de inserção profissional se deve ao preconceito e falta de compreensão dos empregadores e da sociedade. “A gente tem também muitos homens trans com nível acima da média nacional, mas o diploma continua insuficiente para garantir a inserção no mercado de trabalho. Se o motivo fosse falta de capacitação, eu e outras pessoas que temos diploma não passaríamos por esse problema”, conta.
Para a ativista e vice-presidente da União Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – UNALGBT, Silvia Cavalleire, a formação individual não é suficiente para pensar a empregabilidade trans, pois “nós já estamos no mercado informal, em atividades mal remuneradas, na prostituição,” é importante “primeiramente o combate às diferentes formas de violência”, e “a primeira delas é a violência familiar, é no seio da família que a pessoa LGBT sofre as primeiras violências”, e “talvez as mais letais para seu desenvolvimento como indivíduo”.
A travesti Amanda Anderson reforça a situação de que a busca pela prostituição se dá pela falta de oportunidades. A cabeleireira relata que mesmo após ter concluído três faculdades, possuir a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ter conhecimento em cinco idiomas, não encontrou espaço para atuação no mercado formal. “Não importa a capacidade intelectual, o que importa mesmo é a sua sexualidade”, diz. “Eu fugi da prostituição, mas também não posso dizer que não fiz, porque houve um tempo que precisei. Não é o caminho mais fácil, mas é o local que a sociedade designa”, complementa.
Valeria Houston, cantora transexual, se considera privilegiada por ter tido a oportunidade em um emprego formal. Ela atuou como recepcionista de um hotel, e explica que a selecionaram por conta das habilidades em idiomas e comunicação. “Eu sei que muitas de nós não conseguem fazer isso, por não ter essa oportunidade e chance.” E conta que os empregadores deveriam ter mais empatia nos momentos de seleção. “Pense em alguém que quer ingressar no mercado de trabalho. Nós estamos preparadas para trabalhar, a população que não está para receber, mas estamos abertas para o diálogo”, diz.
O deputado Jean Wyllys (Psol/RJ) explica que articulações entre o debate econômico e de gênero, como o que ocorreu no seminário, é dos temas mais atuais e importante para a nova política. “Como não levar em conta que mesmo as travestis sendo excluídas do mercado de trabalho pagam impostos na medida que consomem e que, por isso, o estado tem que devolver a elas políticas públicas?”, pontua o parlamentar.
por Lis Gabriela Cappi - @ascom.ctasp