Viajantes LGBTQIA+ gastam quatro vezes mais. Brasil precisa se preparar para recebê-los

26/08/2021 09h36

Quando o assunto é turismo, o Brasil logo aparece no topo da lista dos destinos com maior potencial turístico do mundo. Seja pela beleza natural, gastronomia, praias paradisíacas ou festejos culturais. Uma pesquisa recente feita pelo o Fórum de Turismo LGBT mostrou que o nosso país, é o que mais tem capacidade econômica, em toda América Latina, para crescer com o turismo para esse segmento.

Uma outra pesquisa de turismo LGBT, aponta que, apesar da gravidade da pandemia do covid-19, o segmento pode ser uma ferramenta positiva na recuperação do setor de viagens no Brasil.

Mesmo com as pesquisas que possam parecer animadoras economicamente, o retrocesso nas políticas públicas, do atual governo, foi a principal reclamação das entidades LGBTQIA+ que participaram da audiência pública que discutiu o turismo para o segmento. O encontro virtual foi promovido pela comissão de Turismo da Câmara dos Deputados, nesta quarta (25), e contou com a participação do movimento LGBTQIA+ e representantes do ministério do Turismo e Embratur. A audiência atendeu ao requerimento do deputado Bacelar (Podemos/BA), presidente do colegiado.

Em tom de desabafo, Ricardo Gomes, presidente da Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil, contou que, desde de 2019, tem tentado negociar com ministério do Turismo a produção, revisão e atualização de cartilhas e materiais informativos que têm como objetivo melhorar a experiência desse público e de evitar que casos de preconceito estraguem uma viagem, mas sem sucesso.

Outra questão apontada por Gomes foi o acordo de cooperação entre o Ministério do Turismo, Embratur e a Câmara LGBT do Brasil, assinado em 2018. O acordo, que tem como objetivo promover e apoiar a comercialização do Brasil como destino gay-friendly nos mercados doméstico e internacional e sensibilizar prestadores de serviços turísticos para evitar o preconceito no atendimento a esse público, é válido até 2023, mas segundo ele, não foi cumprido por Bolsonaro. “ O governo tem tratado o turismo LGBTQIA+ com descaso, irresponsabilidade e falta de compromisso.”
Bons Exemplos

Ele citou Tel Aviv (Israel) e a Argentina como exemplos bem sucedidos no segmento e nos quais as políticas claras de proteção aos direitos da população LGBT local resultaram em uma captação maior de turistas mundo afora. “O Ministério do Turismo de Israel faz promoção para o turista brasileiro, é um investimento oficial. A Colômbia realiza um trabalho de sensibilização com a polícia em termos de acolhimento. Tudo perpassa pela garantia de direitos”, detalhou.

Economia e capacitação profissional

Clóvis Casemiro, representante da IGLTA, ressaltou que o turismo LGBTQ+ é 30% mais rentável do que o convencional e que as empresas e destinos devem se preparar para receber os viajantes LGBTQ+. Os dados reforçam ainda mais a importância da equidade, diversidade e inclusão nos destinos. “Sabemos que a comunidade vai viajar mais rapidamente no pós-pandemia, então precisamos garantir que esses negócios estejam prontos para recebê-los.” completou.

O deputado Bacelar afirmou que é essencial que os empreendedores estejam sempre atentos e que, assim como em qualquer outro nicho, os clientes se sintam valorizados e atendidos de forma satisfatória. Outro ponto que precisa ser levado em consideração é a segurança e entretenimento para pessoas que fazem parte da sigla. "Cativar esse público e oferecer opções aos viajantes é essencial para promoção da equidade, diversidade e inclusão nos destinos escolhidos e os destinos com tradição e reconhecidos como friendly deveriam ter a adesão de órgãos oficiais de turismo do país, estado ou município” afirmou.

O ministério do Turismo, representado por William França, secretário Nacional de Desenvolvimento e Competitividade do Mtur, reconheceu as ponderações como legítimas, mas afirmou que a pasta tem trabalhado com o orçamento reduzido. França disse ainda que a falta de estudos oficiais dificultam ainda mais o plano de ações para o setor. Já a Embratur afirmou que tem acompanhado as ações do ministério e que a intenção é mostrar ao mundo que o Brasil é um destino friendly.