Viagem da Deputada Professora Raquel Teixeira à Africa do Sul

08/07/2010 18h46

 

 A Copa de 2014 é uma excelente oportunidade para o Brasil valorizar a sua marca e ampliar a presença no mercado internacional de viagens e lazer. Presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara, essa é a convicção da deputada Professora Raquel Teixeira (PSDB-GO), que viajou em missão oficial à África do Sul para saber como o governo daquele país solucionou os problemas para hospedar o maior evento midiático do mundo. Nesta entrevista, a deputada elogia as rodovias, aeroportos e megacomplexos hoteleiros sul-africanos e adverte para a necessidade de o Brasil oferecer qualificação profissional a todos os que terão, durante a Copa, a tarefa de se relacionar com turistas do mundo inteiro. 

Como a senhora avalia o trabalho realizado pelo governo da África do Sul para hospedar a Copa do Mundo Fifa de Futebol?

 

Professora Raquel Teixeira - A África do Sul realizou um trabalho exemplar para hospedar a Copa do Mundo de 2010. Investiu pesadamente em infra-estrutura e ofereceu aos que desembarcaram no país condições efetivas para deslocarem-se.

 

Previamente ao evento, foram feitas muitas críticas ao setor de transporte público. Esse gargalo foi solucionado?

 

Os investimentos realizados em infra-estrutura rodoviária permitiram a construção de rodovias de mão única, com quatro calhas de rolamento, com asfalto de primeira qualidade. E não foi apenas com infra-estrutura rodoviário que o governo sul-africano preocupou-se.

 

Que outros setores foram motivo de preocupação efetiva e quais os resultados obtidos?

 

Houve, também, grande preocupação com os aeroportos. Em virtude da atenção que dedicaram a esse setor, o país, hoje, conta com aeroportos modernos, dotados de equipamento de alta qualidade, que garantem ao turista que desembarca na África do Sul desembaraço ágil e rápido.

 

Apesar de muitas reservas feitas por turistas da Europa terem sido canceladas em cima da hora, qual a avaliação que a senhora faz sobre o setor de hospitalidade?

 

Em relação à indústria do turismo, a África do Sul teve o cuidado de investir em hotéis de elevada categoria. Em Joanesburgo, por exemplo, foi construído um megacomplexo de hospitalidade, com três hotéis, centro de convenções com diversos ambientes, restaurantes, lojas, e dotado de um esquema de segurança extremamente rigoroso.

 

E os estádios da Copa da África do Sul atenderam as exigências da Fifa?

 

Os estádios da Copa da África do Sul são, no meu entendimento, impecáveis. Os sul-africanos fizeram, com grande competência, o dever de casa. O que era necessário realizar para a Copa do Mundo foi feito, ainda que em alguns casos as obras só tenham sido concluídas na undécima hora.

 

Quais, na sua constatação, os maiores gargalos com que se depararam os turistas?

 

Um dos grande problemas não solucionados pela África do Sul foi quanto à qualificação profissional, especialmente em matéria de comunicação interpessoal. Constatei que as pessoas encarregadas de se relacionar com o público em geral, como motoristas, voluntários, policiais e demais atendentes nas mais diversas áreas não sabiam dar informações.

 

Por quê?

 

Por não terem sido treinados para isso. No dia do jogo de estréia do Brasil, os motoristas dos ônibus que levavam comitivas para o estádio não sabiam informar para qual área os motoristas das viaturas deveriam se dirigir. E, no estádio, os responsáveis por transmitir informações igualmente sobre onde estacionar não estavam preparados para a tarefa. Com isso, uma rotina que deveria se realizar com grande facilidade resultou em excessiva perda de tempo.

 

E o acesso ao interior dos estádios foi caracterizado pela agilidade?

 

Não. Pelo contrário. Essa foi outra falha que constatei. A verificação a que os torcedores tinham de se submeter era lenta, complexa. Não havia agilidade, o que implicava tumultos nas áreas de acesso, tornando muito difícil o escoamento das pessoas.

 

Como a senhora avalia as responsabilidades assumidas pelo Brasil em relação à Copa de 2014?

 

Organizar a Copa do Mundo vai exigir, tanto por parte dos governos federal, estaduais e das cidades-sedes quanto do Comitê Organizador Local, agilidade, bom senso e competência. O Brasil convive com graves problemas em matéria de infra-estrutura rodoviária e aeroportuária, logística, mobilidade urbana. Sem falar no setor de hospitalidade, pois não contamos com hotéis suficientemente capazes de atender as exigências geradas por um evento do porte da Mundial de futebol.

 

Além desses problemas a serem solucionados ao longo dos próximos quatro anos, quais os outros a que se deve dar prioridade?

Temos a obrigação de solucionar um dos grande gargalos existentes no setor de prestação de serviços, que é o da baixa qualificação profissional dos trabalhadores que lidam, na ponta, com os turistas internacionais.

 

Assegurando qualificação aos trabalhadores da indústria do turismo brasileiro estará o dever de casa realizado?

 

Não. Em hipótese alguma. É urgente educar esses trabalhadores, mas não estou me referindo apenas a quem atende turistas internacionais em restaurantes, por exemplo. Todos os que terão alguma relação profissional, ainda que momentânea, com turistas durante a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, como motoristas, policiais e voluntários, terão a necessidade obrigatória de expressar-se em inglês e espanhol.

 

Com o domínio dessas duas línguas o atendimento de qualidade estará garantido?

 

Não, não basta saber utilizar essas duas línguas. É imprescindível que todas essas pessoas recebam treinamento que as capacite a se comunicar com clareza, para informar, com precisão, o que lhes vai ser perguntado. Necessitarão ter capacidade para prestar informações singelas, como a respeito de onde fica um área específica do estádio, para onde um pessoa portando um determinado tipo de ingresso deve se dirigir. É simples. Mas é indispensável.

 

Atualmente, uma das maiores preocupações em relação à Copa de 2014 é com os aeroportos. Pelo que a senhora constatou na África do Sul, quais outras providências necessitam ser tomadas para garantir aos torcedores movimentação ágil durante o evento?

 

É óbvio que a preocupação com aeroportos é imensa. Mas é fundamental, também, que os responsáveis pela organização da Copa de 2014 preocupem-se em dotar os estádios das cidades-sedes de equipamentos de controle de acesso que facilitam a entrada e a saída das pessoas. O Ellis Park, em Joanesburgo, apesar de ser um estádio de primeira qualidade, não cuidou desse aspecto. Em virtude disso, aconteceram tumultos.

 

Para a senhora, quais os impactos positivos que o Brasil colherá com a realização da Copa de 2014?

 

Os megaeventos são, sem sombra de dúvida, grandes oportunidades para um país se promover no mercado internacional e para valorizar a sua marca. A Alemanha aproveitou, com extrema sensibilidade, o fato de sediar a Copa de 2006. Mas, em compensação, a Grécia convive, até hoje, com prejuízos em virtude dos investimentos que realizou para hospedar os Jogos Olímpicos de 2004. É preciso haver equilíbrio e bom senso para evitar investimentos que não gerarão retorno, como construir estádios a custos faraônicos que não conseguirão, por falta de eventos, de jogos, de espetáculos, se sustentar.

 

Quais os benefícios que a indústria brasileira do turismo colherá com a Copa de 2014?

 

A partir de domingo, quando terminar a Copa da África do Sul, teremos o direito e a oportunidade, durante quatro anos, de promover o Destino Brasil em função da Copa do Mundo. Esse trabalho, no entanto, já teve início, com a inauguração, no dia em que a seleção brasileira estreou na Copa da África do Sul, com a inauguração da Casa Brasil.

 

A Casa Brasil, que a senhora conheceu no dia da inauguração, é um projeto que vende, de fato, o Destino Brasil?

 

É um projeto extremamente competente. É linda, plasticamente. E não se limita a apresentar as 12 cidades que receberão os jogos da Copa de 2014. Outros destinos, definidos pelo Ministério do Turismo e pela Embratur, também estão sendo divulgados. Além disso, a Casa Brasil contempla a necessidade de vocalizar para o mundo que o Brasil é um país moderno, contemporâneo, o que foi possível com a instalação de um espaço que apresenta 12 projetos brasileiros de inovação tecnológica.

 

Quando a Copa de 2014 começar ...

 

A Copa de 2014, na verdade, já começou. Compete, agora, que as urgências em termos de infra-estrutura sejam atendidas, que os compromissos com a qualificação profissional tornem-se realidade e que os investimentos em estádios e segurança pública aconteçam para que o Brasil possa, com a realização do evento, valorizar sua marca e firmar-se com destino maior da indústria internacional de viagens e lazer.