Presidente do COB condiciona melhores resultados em Olimpíadas à existência de mais recursos financeiros
Os atletas brasileiros só conquistarão melhores resultados nos Jogos Olímpicos se houver mais recursos financeiros para aprimorar a preparação da delegação nacional. Esse foi o recado que o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Nuzman, deu aos membros da Comissão de Turismo e Desporto ao apresentar ontem, em reunião na sede do Comitê, no Rio de Janeiro, um balanço da atividade da entidade nos últimos anos. Durante a apresentação do relatório de atividades do COB à deputada Professora Raquel Teixeira (PSDB-GO), presidente da CTD, e ao deputado Rômulo Gouveia (PSDB-PB), Nuzman informou que Austrália, Grã-Bretanha, Alemanha e China, países que nos últimos 16 anos ficaram entre as dez maiores potências esportivas do mundo, investiram para os Jogos de Beijing, respectivamente, quantias superiores a US$ 730 milhões, US$ 1 bilhão, US$ 1,9 bilhão e US$ 2 bilhões. O Brasil dispôs de pouco mais de US$ 200 milhões para preparar a delegação olímpica. Nuzman deixou claro que recursos financeiros insuficientes em matéria de esporte de alto rendimento são incapazes de garantir um resultado de ponta em Jogos Olímpicos. Fundamentou essa relação apresentando os resultados colhidos por Cuba, Espanha e Grécia nos Jogos de Atlanta, em 1996, e nos Jogos de Beijing, em 2008. "Por força de investimentos cadentes, esses três países regrediram do oitavo, décimo terceiro e décimo sexto lugares para o 14º, 28º e 59º lugares". Apesar de a delegação brasileira que competiu nos Jogos de 2008 ter terminado a competição em 23º lugar no quadro de medalhas, o presidente do COB sustentou que o desempenho dos atletas brasileiros não pode ser medido apenas em virtude do número de medalhas conquistadas. De acordo com Nuzman, em que pese o Brasil ter ficado em 16º lugar nos Jogos de 2004, o resultado na China foi superior. "O Brasil ficou em 23º lugar, mas os atletas brasileiros registraram em Beijing 41 disputas por finais. Em Sydney, foram apenas 22 disputas por finais. Já em Atenas, foram 30. Entre 2000 e 2008, o rendimento da delegação brasileira apresentou um crescimento de 86%", ressaltou o presidente do COB, para consignar que "na China o Brasil disputou o maior número de finais de toda sua história olímpica". Dinheiro público Sobre a aplicação dos recursos garantidos pela Lei Agnelo-Piva que registrou uma arrecadação entre 2001 e 2009 de R$ 622,4 milhões, Nuzman explicou que desse total 43% ficaram com o COB, 42% foram destinados a entidades dirigentes do esporte (confederações), 10% ao esporte escolar e 5% ao esporte universitário. Destino da maior parcela dos recursos, o COB aplicou sua fatia na preparação técnica das equipes brasileiras e no envio das delegações (30%), em desenvolvimento esportivo (21%), na capacitação de treinadores e qualificação de profissionais de administração esportiva (12%), em infra-estrutura esportiva (9%) e na manutenção da entidade (17%). As confederações, que ficaram com 42% do total, aplicaram em detecção de talentos (12%), manutenção das entidades (12%), capacitação de profissionais esportivos (2%), preparação técnica de atletas e centros de treinamento (25%), ajuda de custo a atletas (7%) e participação e organização de competições esportivas (43%). Para o presidente do COB, a aprovação da Lei Agnelo-Piva e os efeitos que a legislação gerou para o esporte olímpico brasileiro podem ser mensurados por quem se der ao trabalho de comparar a quantidade de medalhas conquistadas pelo Brasil nos Jogos disputados entre 1920 e 2000, que somaram 66, média de 4,4 por competição, e as obtidas nos Jogos de 2004 e de 2008: "Na duas últimas Olimpíadas, o Brasil somou 25 medalhas, uma média de 12,5%, o que atesta a necessidade de haver recursos financeiros efetivos para a preparação dos atletas", observou. Atuação e planejamento Com o objetivo de obter resultados mais expressivos nos Jogos de 2012, em Londres, e de preparar uma equipe capaz de terminar os Jogos do Rio, em 2016, entre as dez melhores colocadas no quadro de medalhas, o COB elaborou um projeto que privilegia quatro focos: capacitação de atletas, qualificação de profissionais, infra-estrutura esportiva e promoção das modalidades olímpicas através de eventos. Para a capacitação dos atletas brasileiro de alto rendimento, o projeto prioriza implantação de escola de treinadores; capacitação para assegurar excelência esportiva no desenvolvimento dos atletas; análise, discussão e desenvolvimento de trabalhos sobre situações de treinamento; e intercâmbios nacionais e internacionais. A qualificação profissional será garantida pela oferta anual de um curso avançado de gestão esportiva, de seis cursos anuais de administração esportiva, de três cursos anuais de fundamentos da administração esportiva e, ainda, pela realização de seminários de desenvolvimento esportivo e pela oferta de ensino à distância. Quanto à preparação dos atletas de alto rendimento, o COB vai transformar a infra-estrutura do Complexo Aquático Maria Lenk e do Velódromo em Centro Olímpico para Desenvolvimento de Talentos, onde funcionará um laboratório de ciências do esporte. Já os eventos destinados à promoção das modalidades olímpicas são os seguintes: Jogos Olímpicos, Jogos Olímpicos de Inverno, Jogos Olímpicos da Juventude, Jogos Pan Americanos, Jogos Sul Americanos, Jogos Sul Americanos de Praia e Jogos da Lusofonia. Jogos do Rio Durante a reunião, o presidente do COB também apresentou o projeto da Comissão responsável pela organização dos Jogos do Rio. Nuzman assegurou que 54% das instalações necessárias para sediar o evento já existem, 26% serão implantadas e os restantes 20% serão de instalações temporárias. Segundo Nuzman, como o planejamento do Projeto Rio 2016 está "alinhado com o plano de longo prazo da cidade", todas as instalações dos Jogos Pan Americanos de 2007 serão utilizadas nos Jogos do Rio. O objetivo, ressaltou o presidente do COB para a deputada Professora Raquel Teixeira e para o deputado Rômulo Gouveia, é "utilizar a oportunidade de hospedar o maior evento esportivo do mundo em fonte de excelência técnica em todas as áreas, na oferta de uma experiência única para todos os participantes, transformando não apenas a cidade, mas a nação". Em relação ao modelo de governança, o presidente do COB fez questão de deixar claro que os orçamentos do Comitê Organizador dos Jogos e da Autoridade Pública Olímpica (APO), criada por intermédio da Medida Provisória 489, baixada pelo presidente Lula no dia 12 de maio, não se confundem. Ao total, pelas contas hoje disponíveis, serão gastos, pelo Comitê Rio 2016 e pela APO, US$ 14,4 bilhões, cerca de R$ 28 bilhões. O Comitê investirá US$ 2,8 bilhões em operações de instalações esportivas, mão de obra, sistemas de informação, publicidade, operação e preparação da Vila Olímpica e outras vilas, telecomunicações, Jogos Paraolímpicos, administração, operação de transporte, cerimônias e atividades culturais. Quanto ao orçamento e gastos em infra-estrutura, a APO se responsabilizará por gastos da ordem de US$ 11,6 bilhões. Impacto dos jogos Apesar de o COB não dispor, ainda, de uma estimativa de gastos durante os Jogos de 2016, a entidade prevê que a oportunidade de hospedar o evento beneficiará pelo menos 100 cidades brasileiras, que serão utilizadas para aclimatação das delegações estrangeiras. Em matéria de promoção turística do Brasil, as Olimpíadas do Rio sensibilizarão cerca de 300 mil visitantes, além de garantir a promoção do país para um audiência global por intermédio da transmissão dos eventos pela televisão. Em números, segundo a apresentação feita por Nuzman, os Jogos Olímpicos do Rio, que concentração campeonatos, em 28 modalidades durante 17 dias, implicarão o credenciamento de 200 mil pessoas, sendo 31 mil jornalistas, e a utilização de 60 mil voluntários e de mais de 14 mil veículos. Quanto à participação de atletas, número de ingressos a serem comercializados e países impactados pela transmissão ao vivo do evento não existe, ainda, estimativas. Nos Jogos de Beijing, em 2008, 11 mil atletas participaram do evento, representando 205 países, mais de 6,5 milhões de ingressos foram comercializados e 220 países tiveram acesso a mais de 5 mil horas de transmissão ao vivo. Buraco negro Questionado pela deputada Professora Raquel Teixeira sobre qual contribuição a Comissão de Turismo e Desporto pode oferecer ao desenvolvimento do esporte brasileiro, objetivando uma identificação de talentos mais ampla e uma preparação mais adequada, que permita aos atletas brasileiros ter um melhor rendimento nas competições do calendário internacional, Nuzman disse que "o esporte brasileiro tem um buraco negro. O Brasil não tem centros de treinamento. Por isso, quando se descobre um talento, em geral ele se perde, porque não há para onde enviá-los". A presidente da CTD, depois de observar que o Congresso Nacional é extremamente sensível às pressões da sociedade, sugeriu que os atletas brasileiros movimentem-se para estimular os parlamentares a apresentar emendas destinadas à construção de centros de treinamento esportivo e, também, à realização de eventos esportivos. Em relação à legislação atual, Nuzman, respondendo a uma outra questão levantada pela deputada, admitiu que seria conveniente ampliar o limite de inserção previsto na Lei de Incentivos Fiscais para o Esporte, hoje de 1%. Em relação à criação de estímulos ao desenvolvimento do esporte nas escolas e nas universidades, a deputada Professora Raquel Teixeira e Nuzman convergiram para a necessidade de se avaliar a possibilidade de propor uma iniciativa parlamentar que conceda benefícios a instituições de ensino para investir no esporte.