Petróleo caro e meio ambiente vão ditar projetos da EMBRAER
Antes de dar qualquer resposta à concorrente Bombardier, que anunciou esta
semana ambicioso projeto de uma nova família de jatos para distâncias curtas, a
Embraer pretende levar em conta outros fatores que começam a pesar na mudança de
cenário da aviação no mundo. "A Europa está cada vez mais rigorosa nos programas
de redução de emissões de poluentes e a alta nos preços do petróleo levará todas
as companhias a trocarem as frotas por aviões mais econômicos", afirma o
vice-presidente para o mercado de aviação comercial da Embraer, Mauro
Kern.
Kern participa está semana da Farnborough International Airshow, famosa
feira aeronáutica da localidade inglesa, onde o preço do petróleo está no centro
das atenções. "Vimos os efeitos mais agudos nos Estados Unidos, com empresas com
dificuldades perdendo dinheiro a patamares históricos, mas este não é um
problema exclusivo do mercado americano", afirma o executivo.
Diante do novo
cenário mundial, a indústria aeronáutica não vai perder a oportunidade de
desenvolver projetos de jatos menores . O plano da Bombardier prevê
investimentos de US$ 3,4 bilhões para a nova família de jatos. "Haverá uma
redução substancial na demanda de capacidade das aeronaves", afirma Kern. Para
ele, nesse movimento, crescerá a demanda por aeronaves de última geração, mais
confortáveis, econômicas e de porte menor, como é o caso da família 170/190 da
Embraer.
"Nossos aviões estão bem posicionados no mercado, mas não posso
dizer que não há importância nas ações do nosso concorrente", destaca Kern. O
lançamento da nova família da Bombardier está programada para 2013. O executivo
da Embraer lembra que a empresa brasileira tem como atender a uma inversão de
demanda das companhias aéreas desde já.
Segundo Kern, trocar aviões de
gerações antigas e menos econômicos por aeronaves mais novas pode representar um
ganho anual de US$ 3 milhões em economia de combustível e mais US$ 1 milhão em
redução no custo de manutenção. A frota regional, com aviões com capacidade
entre 70 e 100 assentos, absorvem entre 30% e 40% dos mercados da Europa e
Estados Unidos.
O executivo espera uma mudança de comportamento das
companhias aéreas também no Brasil, onde prevalece o uso de aviões de grande
porte, um mercado dominado pela Airbus e Boeing.
A Embraer já conquistou
empresas que começam a investir em rotas regionais, como a Azul e a Trip. Kern
lembra que o Brasil vive problemas estruturais com a concentração do movimento
nos maiores aeroportos. "Há falta de vôos diretos para cidades importantes",
destaca. Para ele, as empresas que aumentarem a freqüência para destinos não
atendidos diretamente hoje tendem a ser bem-sucedidas.
A feira de Farnborough
também está mostrando o potencial dos negócios de mercados como o Oriente Médio.
"Existe um claro aumento de participação de regiões emergentes", destaca Kern. O
executivo lembra que a dependência da Embraer do mercado americano está,
conseqüentemente, caindo. Segundo ele, há alguns anos, as companhias americanas
ficavam com 60% das vendas da Embraer. Hoje a participação das empresas
americanas na carteira de pedidos da companhia está em 28%. A participação da
soma dos pedidos de países como China, Índia e Oriente Médio já supera as
encomendas dos Estados Unidos, diz o executivo.
Na segunda-feira, o primeiro
dia da feira na Inglaterra, a Embraer recebeu encomendas por 22 jatos avaliados
em mais de US$ 800 milhões de companhias aéreas do México, Áustria e Arábia
Saudita.
Ontem foi a vez de a empresa brasileira negociar a venda dos
jatinhos executivos, uma das mais recentes investidas da empresa para crescer. A
Royal Jet, que representa o grupo Al Habtoor, dos Emirados Árabes Unidos, firmou
contrato para a aquisição de um jato executivo Lineage 1000, que será operado
para uso particular. A Embraer também assinou um pedido com a K2 SmartJets, da
Grécia, para duas aeronaves Legacy 600.
Fonte: Marli Olmos