Pesquisadora associa arqueologia e projeto socioeconômico no Piauí

14/05/2008 12h00

Dentro e fora do Brasil, o nome da arqueóloga Niéde Guidon, pesquisadora e presidente da Fundação Museu do Homem Americano, está associado à teoria que o  homem ocupou o continente americano há mais de 50 mil anos, e não há 10 mil, como acreditava a maioria dos cientistas. 
 
“Niéde fez importantes contribuições científicas. A principal delas foi no sentido de mudar uma concepção que existia há muito tempo, e que derivava da visão americana que os ameríndios chegaram à América pelo Estreito de Behring, cerca de 15 mil anos atrás. Essa teoria era aceita porque os materiais datados nos sítios arqueológicos nos EUA eram de 11 a 15 mil anos, portanto com a migração teriam chegado ao Brasil somente mais tarde. Mas Guidon começou a apresentar claras evidências que os ameríndios são muito mais antigos”, declarou o presidente do CNPq, Marco Antonio Zago, durante a abertura da Palestra ‘Parque Nacional da Serra da Capivara, desenvolvimento econômico e social”, proferida pela pesquisadora Niéde Guidon, nesta quarta feira, (30/04), em Brasília, como parte das comemorações dos 57 anos deste Conselho. 
 
Essa divergência de teorias surgiu em razão de, em pleno sertão nordestino brasileiro, terem sido encontrados vestígios comprobatórios da ocupação humana na América ter ocorrido muito antes dos homens vindos da Sibéria. Os estudos e as descobertas foram feitos próxima à cidade de São Raimundo Nonato (Piauí), no Parque Nacional Serra da Capivara. 
 
Arqueologia 
“Começamos a trabalhar naquela região em 1973. Foi uma missão financiada pelo governo francês, da qual participaram alguns colegas brasileiros da Universidade de São Paulo. No início, o trabalho era dedicado unicamente às pinturas da arte rupestre por causa dos achados mais evidentes. A primeira datação que nós tivemos foi de uma amostra com 24 mil anos, em 1981. Levei um susto com o resultado e resolvi telefonar ao laboratório francês, dizendo que eles haviam misturado as nossas amostras, já que naquela região do Nordeste não poderia ter nada com essa idade,” disse a arqueóloga. Mais estudos foram feitos desde então e foi concluído que o material colhido por Niéde e seus estudantes eram realmente muito antigos e reveladores. 
 
Parte das pesquisas atualmente é financiada pelo CNPq, por meio do Instituto do Milênio "Origem e evolução migratória dos primeiros grupos humanos no sudeste do Piauí". Em vigência desde 2005, o projeto receberá, até 2008, um total R$ 1 milhão. Outro papel importante da pesquisadora foi à dedicação dela para a conservação dos tesouros arqueológicos encontrados no Parque Nacional da Serra da Capivara. Guidon criou a Fundação Museu do Homem Americano, que preserva e administra o parque. O museu conta com o apoio do CNPq, Finep, Petrobras e do Consulado Geral da França para o Nordeste. 
 
No parque, encontram-se uma densa concentração de sítios arqueológicos, a maioria com pinturas e gravuras rupestres, nos quais se encontram vestígios extremamente antigos da presença do homem (com material de até 100.000 anos). Atualmente estão cadastrados 912 sítios, entre os quais, 657 apresentam pinturas rupestres. Em 1991, a Unesco, pelo seu valor cultural, inscreveu o parque nacional na lista do Patrimônio Cultural da Humanidade. Em 2002, foi oficializado o pedido para que o mesmo seja declarado Patrimônio Natural da Humanidade. 
 
Turismo 
Além disso, Niéde faz também um trabalho de cunho social em toda a região. Foram mais de 35 anos de pesquisa e dedicação na área arqueológica, mas, hoje, a cientista declara que sua principal meta é transformar o perfil econômico da região com investimentos em turismo. “No caso do turismo, estudos indicam que, com a realização de uma boa infra-estrutura, escolas e formação, a região terá potencial para receber 3 milhões de turistas. O parque pode ser um pólo turístico internacional fortíssimo. Os lucros com o turismo gerariam mais emprego e, conseqüentemente, melhoraria a renda da população. Esse é um investimento que pode mudar a realidade local”, afirma a pesquisadora. 
 
Para a pesquisadora, não adianta falar em proteção ambiental em regiões como São Raimundo Nonato, se as pessoas estão passando de fome, sendo, portanto, imprescindível criar alternativas de trabalho. “Se algo não for feito o mais rápido possível, os sítios serão destruídos, a paisagem degradada e o ecossistema, único da região, será aniquilado”, afirmou a pesquisadora. 
 
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da CNPQ