O calendário a favor

16/03/2009 07h20

Phydia de Athayde

 

 

O ano de 2008 foi prodigioso para o turismo brasileiro. Bateu-se novo recorde de entrada de dólares trazidos por estrangeiros, somando 5,8 bilhões. Os primeiros reflexos da crise internacional impulsionaram as viagens domésticas, que passaram a ser mais vantajosas para o brasileiro. Agora, como afirma o ministro do Turismo, Luiz Eduardo Barretto, o Brasil deve se preparar para sentir efeitos mais profundos da debacle mundial. "Se mantivermos o padrão do ano passado, será uma vitória", avalia. A temporada do verão 2009, destaca o ministro, foi 20% mais lucrativa do que no ano anterior, o que dá uma sobrevida às empresas ligadas ao turismo. Apesar do temor com eventuais perdas, a visão a médio e longo prazo é positiva, especialmente por conta da Copa do Mundo de 2014: "Aí estou otimista".

 

CartaCapital: Este verão foi melhor do que o de 2008 para o turismo. O crescimento será mantido?

Luiz Eduardo Barretto: Batemos recordes de entrada de divisas em 2008, com 5,8 bilhões de dólares trazidos por turistas, e isso consolidou o turismo na quinta posição dos setores que mais trazem divisas, atrás apenas da carne de frango, soja, petróleo bruto e minério de ferro. Neste verão, o crescimento de quase 20% em relação ao ano passado é um reflexo da crise. A desvalorização do real ante o dólar tornou o produto Brasil mais competitivo lá fora. Tivemos um acréscimo de 10% de argentinos na costa brasileira no verão. Para o brasileiro, a crise teve o efeito de inibir a viagem ao exterior. Ficou mais caro ir para a Europa e para os Estados Unidos. Isso foi positivo para o turismo doméstico. A hora agora é de apostar no mercado interno e no mercado sul-americano. A América Latina viveu os primeiros impactos da crise, mas outros impactos estão chegando. Alcançarão a Argentina e o Chile, portanto, tenho de trabalhar com a incerteza.

 

CC: O objetivo é manter a entrada de dólares semelhante à do ano passado?

LEB: Para nós, manter o padrão de 2008 será uma grande vitória. O verão deu sobrevivência às empresas ligadas ao turismo, porque elas faturaram relativamente bem. Mas não há como prever a duração da crise, e sabemos que o lazer não é um ingrediente prioritário das despesas. Agora o turismo vai entrar numa fase naturalmente de baixa, mas não vamos ficar parados. Teremos nove grandes feriados que no ano passado caíram no domingo. Para o turismo, isso é uma vantagem. Desde outubro apostamos em campanhas publicitárias para o mercado interno, e elas vão continuar. Em tempo de crise, as viagens de curta e média duração ganham relevância em relação às de longo alcance. Vamos trabalhar nisso.

 

CC: Onde a crise já bateu?

LEB: Quem lida com as viagens internacionais sentiu. Quem tem todo o negócio concentrado na visita de europeus e norte-americanos sofrerá mais. O número de estrangeiros que visitam o Brasil tem sido crescente, mas eu estaria sendo precipitado se garantisse que esses números vão continuar assim. Somos realistas.

 

CC: E na perspectiva a longo prazo, com vistas à Copa de 2014 no Brasil?

LEB: Aí estou otimista. Acho que a crise vai passar e que a Copa do Mundo é a maior janela de oportunidades que o turismo brasileiro tem.

 

Fonte: Carta Capital