Turismo a reboque - Em julho, US$ 326 milhões entraram no país e US$ 538 milhões saíram

22/08/2006 00h00

No Brasil, o turismo ainda não mereceu a devida atenção da sociedade, que teima ou finge desconhecer e ignorar o impacto desenvolvimentista que a atividade turística pode provocar. A população ainda não despertou integralmente para os benefícios que o turismo pode trazer, mesmo com a melhora acentuada nos resultados do setor. Comparado com o resto do mundo, porém, o esforço desenvolvido até aqui pode ser considerado incipiente. O turismo, quando cresce, não o faz sozinho, tem a característica de impactar pelo menos 50 outras atividades que, direta ou indiretamente, se beneficiam com seu crescimento, gerando renda, emprego, produção e, conseqüentemente, impostos. A atividade interfere também, e de forma positiva, na formação do Produto Interno Bruto (PIB). Por isso mesmo, a partir da decisão de priorizar o turismo, transformações sociais amplamente benéficas ocorrerão a curto, médio e longo prazos.

Argumenta-se, para justificar o desleixo com que o turismo é tratado por alguns segmentos da sociedade, que mazelas sociais precisam de tratamento prioritário na escala de investimentos públicos. Como dar prioridade ao turismo se a sociedade reclama da falta de investimentos nas áreas de saúde, habitação e educação? Ou ainda: como investir em turismo se não existem recursos para projetos de saneamento básico, transportes e energia elétrica? A resposta vem daqueles que acreditam na potencialidade do setor: se derem uma chance ao turismo, ele vai provar que os investimentos só trarão benefícios para a sociedade. Mas, enquanto a atividade não receber a devida atenção dos agentes públicos, nos três níveis de governo (União ,estados e municípios), o setor continuará potencialmente forte, mas, na prática, sem o fôlego necessário à sua emancipação como verdadeira indústria, a exemplo do que vê em tantos outros países.

Diante dos resultados de julho - noves fora o efeito Varig, dólar barato e outros quejandos -, quando a balança entre o que os turistas brasileiros gastaram no exterior e o que os estrangeiros deixaram no Brasil registrou um déficit de US$ 212 milhões, segundo o Banco Central, conclui-se que algo de estrutural precisa ser feito para que o turismo nacional fique livre da capa da mesmice. Os números não deixam dúvida: US$ 326 milhões entraram no país e US$ 538 milhões, saíram. Segundo o Ministério do Turismo, o crescimento dos gastos de estrangeiros foi de 9,63% com relação ao mesmo mês do ano passado, acumulando, nos sete primeiros meses do ano, US$ 2,5 bilhões, com aumento de 16,43% em comparação com o mesmo período de 2005. Contudo, a contrapartida dos brasileiros destoou: gastaram em viagens ao exterior US$ 3,2 bilhões, causando déficit de US$ 681 milhões.


Editorial Jornal Estado de Minas — 22-08-06