A VarigLog, nova dona da Varig, planeja entregar hoje ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) uma carta-consulta para formalizar o pedido de financiamento para a compra de 50 aviões da Embraer. O negócio, diz o presidente do conselho de administração da VarigLog, Marco Antonio Audi, está avaliado em US$ 2 bilhões. A empresa quer que 85% (US$ 1,7 bilhão) desse total seja emprestado pelo banco. Os 15% restantes viriam da VarigLog.
Mas, na verdade, dificilmente o negócio chegaria a US$ 2 bilhões. O preço de tabela do avião mais caro da Embraer, o 195, é de US$ 35 milhões. A esse preço, a compra de 50 aviões ficaria em US$ 1,75 bilhão. Como sempre há descontos em negociações desse porte, o dinheiro envolvido seria bem menor.

Segundo Audi, além das conversas com a Embraer, há negociações com a americana Boeing e com a européia Airbus - a Airbus nega, porém, ter sido procurada. O objetivo da VarigLog é adquirir 50 aviões com capacidade entre 115 e 135 passageiros para o mercado doméstico. O plano inclui pedidos firmes e opções de compra, mas a definição depende de quantas concessões de horários de vôos (hotrans) a nova Varig terá.

Outro projeto é comprar 12 aviões de grande porte, para 245 passageiros, no mínimo, para vôos internacionais. "O BNDES é um instrumento de compra dos aviões da Embraer. Mas a compra pode ser realizada também via leasing ou via outros bancos", diz Audi.

O executivo esteve na semana passada na fábrica da Embraer, em São José dos Campos (SP), e conheceu o Embraer 195, para 122 passageiros. Gostou tanto do avião que tirou uma foto do seu interior, por meio do celular.

O BNDES tem uma linha para estimular as vendas de jatos brasileiros para empresas nacionais. Na prática, o novo formato de crédito é uma adaptação ao mercado doméstico da linha de concorrência internacional que a Embraer já utilizava na exportação dos seus produtos. Nessa modelagem, a linha cobrirá até 85% de cada avião, o financiamento é quase todo em reais (90% do total; o restante é em dólar) e o spread de risco fica em 1% - a metade do cobrado, em média, nas operações do banco. O financiamento anterior era em moeda estrangeira.
O presidente do BNDES, Demian Fiocca, destacou que a linha foi adaptada, no fim de 2005, para estimular a venda de aviões brasileiros para empresas aéreas nacionais. "Isso não é uma linha para a Varig. É uma linha para todo o setor", afirmou. Nos últimos meses, o banco vinha informando que não poderia financiar a Varig antiga, endividada e sem certidão negativa de dívidas, mas poderia apoiar novos investidores na empresa.

A Embraer limitou-se a comentar, no fim da tarde, a linha estruturada pelo banco. "A Embraer vê com satisfação a ação do BNDES voltada para a implantação de linhas de financiamento e instrumentos financeiros que favoreçam a aquisição por empresas aéreas brasileiras de aeronaves fabricadas no Brasil", disse a empresa.
ANAC - Em nota, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) diz que vai insistir na retomada imediata das rotas da Varig que não foram incluídas no plano da empresa.
O objetivo da Anac é redistribuir as rotas a outras companhias por meio de licitação. Em seu plano, a Varig ficou com 124 vôos. A Anac diz que a Varig está abrindo mão dos 148 vôos restantes.

Jornal O Estado de São Paulo — Cad. Economia & Negócios — 17-08-06