Destaques das olimpíadas universitárias 2006, encerradas neste sábado, dia 29, conciliam esporte e educação e já fazem planos para o Rio 2007

31/07/2006 00h00

Após uma semana de intensas disputas, chegaram ao fim, na noite do sábado, 29, as Olimpíadas Universitárias 2006, realizadas em Brasília. Cerca de 2.700 atletas de 215 Instituições de Ensino Superior de todo o Brasil competiram de olho nas medalhas, mas também na possibilidade de garantir uma vaga no Programa Bolsa-Atleta, do Ministério do Esporte ou mesmo uma bolsa em suas universidades. Os atletas que se destacaram já estão focados nos Jogos Pan-americanos Rio 2007. "Nas Olimpíadas Universitárias o que se celebra é a possibilidade de o jovem atleta não precisar abandonar os estudos para se dedicar a carreira esportiva. Com a continuidade deste projeto, acreditamos que cada vez mais Instituições de Ensino Superior irão aderir a esta idéia que é desenvolver a prática esportiva sem esquecer do lado acadêmico e da formação do atleta como cidadão", disse Edgar Hubner, superintendente de eventos do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e coordenador-geral das Olimpíadas Universitárias.

Para o presidente da Confederação Brasileira de Desporto Universitário (CBDU), Luciano Cabral, o novo modelo das Olimpíadas Universitárias, chamadas de Jogos Universitários até 2004, está consolidado. "A competição desse ano superou as nossas expectativas. Podemos avaliar que o evento se desenvolveu e está consolidado. O nível técnico aumentou e as disputas ficaram mais equilibradas. Hoje as Olimpíadas Universitárias funcionam como uma ferramenta para consolidar o esporte universitário no esporte nacional, o que acaba desenvolvendo o esporte nacional de uma forma geral", disse Cabral.

O estímulo à formação acadêmica dos atletas é um dos pilares que sustentam a base da reformulação das competições estudantis no Brasil, iniciada em 2005 pelo Comitê Olímpico Brasileiro, em parceria com o Ministério do Esporte e a CBDU, e que contempla as Olimpíadas Universitárias e as Olimpíadas Escolares. Nos dois eventos os atletas têm a possibilidade de requisitarem a adesão ao Programa Bolsa-Atleta, do Ministério do Esporte. Durante as Olimpíadas Universitárias 2006 foram selecionados, por técnicos e árbitros, 24 atletas dos esportes coletivos (três homens e três mulheres em cada modalidade) e os três primeiros colocados nas provas individuais, totalizando cerca de 200 atletas com possibilidades de entrarem no Programa Bolsa-Atleta. Preenchidos os pré-requisitos exigidos pelo Ministério, esses atletas passam a receber recursos no valor de R$ 300,00 no ano de 2007. Um incentivo fundamental para quem pretende conciliar o esporte com os estudos.

No campo esportivo, as Olimpíadas Universitárias revelaram e confirmaram diversos talentos brasileiros para a disputa dos Jogos Pan-americanos Rio 2007. Alguns atletas que se destacaram em Brasília certamente defenderão o Brasil no Rio de Janeiro daqui a menos de um ano. É o caso de Nicholas dos Santos, nadador da Universidade Paulista (UNIP), de São Paulo. Nicholas é o atual recordista sul-americano dos 50m livre e se firma como um dos mais talentosos nadadores de sua geração. Em Brasília, Nicholas ajudou a sua universidade a conquistar cinco medalhas de ouro e uma de prata. Este ano, Nicholas está concentrado na busca por uma vaga nos Jogos Pan-americanos Rio 2007. Confiante, o nadador tem pela frente o Campeonato Pan-Pacífico, em agosto, no Canadá. Esta será sua primeira chance de obter o índice para o Rio 2007. "Meu objetivo agora é fazer uma boa participação no Pan Pacífico, nadar abaixo dos 22s40 nos 50m livre e garantir de uma vez minha vaga para o Pan", disse Nicholas, formado em Fisioterapia e atualmente cursando Gestão Empreendedora.

Na piscina também brilhou a nadadora Paula Baracho (cinco medalhas de ouro e uma de prata), da mesma UNIP. Paula participou das duas últimas edições dos Jogos Pan-americanos e dos Jogos Olímpicos de Atenas-04, quando chegou a final do revezamento 4x200m livre. Nayara Ribeiro que esteve nos Jogos Pan-americanos de Winnipeg-99 e Santo Domingo-03, mostrou que a Bahia também tem universidades que apóiam o esporte. Aluna da Faculdade de Tecnologia da Bahia, Nayara conquistou três medalhas de ouro e uma prata durante as Olimpíadas Universitárias. Mas o melhor índice técnico da natação de Brasília ficou com um atleta ainda sem tanta projeção nacional, querendo uma vaga na delegação brasileira que disputará os Jogos Pan-americanos Rio 2007. Felipe Lima, da UNIVAG, do Mato Grosso, especialista no nado peito, conquistou duas medalhas de ouro, nos 50m e 100m peito, sendo o atleta que apresentou as melhores marcas da competição.

No atletismo, destaque para Fabiano Peçanha, da Universidade de Santa Cruz do Sul (RS). Fabiano conquistou o ouro nos 800m e 1.500m raros. Porém, o resultado representou não somente a conquista das medalhas de ouro, mas também uma vitória parcial contra o fantasma da lesão no tendão patelar do joelho direito que o afastou das pistas de dezembro de 2005 a abril. A contusão o impediu de correr em campeonatos importantes, como o Mundial Indoor e o Ibero-Americano. "Voltei aos treinos há três meses e participei como pude dos GPs do Rio, Fortaleza e Belém. Corri bem aqui em Brasília e estou esperançoso em superar esse problema no joelho", disse Fabiano, medalhista de bronze nos 800m nos Jogos Pan-americanos de Santo Domingo-2003.

A brasiliense Lucélia Peres, estudante de Administração da União Pioneira de Integração Social (UPIS), confirmou o favoritismo ao faturar o ouro nos 5.000m e 10.000m rasos das Olimpíadas Universitárias 2006. "Faço questão de participar todos os anos das Olimpíadas Universitárias. Essa em Brasília é especial, com a torcida dos amigos e dos parentes. Vim bem preparada e de uma boa temporada. Acho importante essa iniciativa de unir esporte e estudo, é um incentivo aos atletas para o ensino universitário", disse Lucélia após a prova. Lucélia é bicampeã da Volta da Pampulha e nome certo no RIO 2007.

O destaque do judô ficou com toda a equipe da UNIDF, que conquistou o bi-campeonato na categoria por equipe masculino e o bi-campeonato no geral masculino. Os atletas do Distrito Federal garantiram também o primeiro lugar no resultado geral masculino. No feminino a UNIDF conseguiu o primeiro lugar no resultado geral, o segundo lugar no geral por Federações, e a prata na competição por equipes, perdendo o ouro para a equipe da Universidade Castelo Branco, do Rio de Janeiro.

Contando com 14 medalhas nas disputas individuais e duas nas disputas por equipe, Marcus Vinícius Ferreira da Silva, técnico da equipe de judô da UNIDF, citou o apoio incondicional da universidade ao esporte como um fator decisivo nos resultados das Olimpíadas Universitárias. "Universidades maiores que a UNIDF, inclusive as federais, não tem tanto incentivo aos atletas", comenta Marcus. Segundo ele, todos os seus atletas são bolsistas, contam com o apoio de uma academia para o treinamento físico, têm estágio técnico fora de Brasília, recebem material de treinamento e visitas de profissionais de fora custeada pela universidade.

Takashi Haguihara Júnior, estudante de administração da UNIDF, ganhou o ouro nas categorias meio pesado, absoluto, que é aberta a todas as categorias, com dois representantes por estado e por equipe. "Foi uma surpresa ganhar no absoluto. Como pego caras mais pesados que eu, da categoria pesado, é mais difícil", comentou Takashi. Seu foco agora é a Copa Aurélio Miguel, seletiva para o Mundial que ocorrerá na Coréia do Sul, e o Troféu Brasil que acontece em setembro em São Paulo, última chance para conseguir a sexta vaga do Brasil para os Jogos Pan-americanos no ano que vem.

Mas exemplo mesmo quem deu foi Magnólia Figueiredo. Aos 42 anos, Maria Magnólia Figueiredo, veterana de quatro Jogos Olímpicos e muitos títulos, venceu os 800m rasos, no atletismo, e ganhou o reconhecimento de algumas adversárias com idade para serem suas filhas. Estudante de pós-graduação em Docência do Ensino Superior na Universidade Potiguar (RN), ela foi inscrita com base no regulamento das Olimpíadas Universitárias, que permite às Federações Estaduais a escalação de até três atletas com idade acima dos 28 anos. Mostrando estar completamente de acordo com os objetivos das Olimpíadas Universitárias, Magnólia se disse mais entusiasmada com o projeto educacional e esportivo do que com a conquista da medalha de ouro. "Acredito muito na educação como um agente transformador", disse Magnólia. "É preciso mudar esse pensamento existente no país e que faz muitos atletas largarem os estudos quando começam a se destacar. Eles podem ser bons no esporte, mas também podem ter uma boa formação educacional. A realização das Olimpíadas Universitárias é um grande passo nessa direção", disse a campeã nas pistas e na vida.

As Olimpíadas Universitárias 2006 foram realizadas pelo Comitê Olímpico Brasileiro, Ministério do Esporte e Confederação Brasileira de Desportos Universitários, com apoio do Governo do Distrito Federal e da Federação do Esporte Universitário do Distrito Federal.

COB - 30.07.2006