As potencialidades do setor de turismo (por Walfrido dos Mares Guia)

10/07/2006 00h00

O Brasil tem hoje nas mãos um imenso potencial ainda pouco explorado numa área de atividades que já responde por nada menos que 10% do PIB mundial: o turismo. O clichê diz que o setor é uma vocação natural do país, mas a verdade é que historicamente a sociedade brasileira sempre deu pouca importância ao seu desenvolvimento. Ainda assim, o turismo vem apresentando resultados importantes nos últimos anos, contribuindo para o crescimento da economia, o desenvolvimento regional, a atração de divisas e a geração de emprego e renda.

O impacto do turismo sobre a economia é inegável. Além do óbvio estímulo a atividades típicas do setor - como hotelaria, restaurantes, agências, feiras e eventos, organizadores de eventos, operadores e toda a cadeia de mão-de-obra envolvida nesses negócios - a movimentação de turistas pelo país estimula o consumo de uma série de outros produtos, incluindo móveis, eletrodomésticos, artigos de cama, mesa e banho e veículos, entre outros.

De acordo com pesquisa do Ministério do Turismo e do Sebrae, executada pela Fipe/USP, apenas o setor de hospedagem repõe, por ano, cerca de 100 mil televisores, 65 mil aparelhos de ar condicionado, 159 mil cadeiras, 1,6 milhão de lençóis e 1,5 milhão de toalhas de banho. Os números são impressionantes: chegamos às cifras de 600 mil televisores e 430 mil aparelhos de ar condicionado, sem contar as 17 milhões de peças de cama, mesa e banho, se considerarmos os estoques totais dos hotéis.

O setor de hospedagem cria ainda cerca de 300 mil empregos formais diretos e indiretos no país, com grande possibilidade de geração de renda para regiões menos desenvolvidas. O estudo da Fipe/USP mostra que a capacidade dos empreendimentos hoteleiros de reter renda nas áreas onde estão instalados é maior do que nos casos da construção civil e da indústria têxtil, por exemplo.

O estudo revela com precisão o considerável impacto gerado por apenas um dos setores da cadeia do turismo para a economia brasileira. Apesar de sua relevância, esses dados não eram medidos anteriormente e não entravam no cálculo do peso do setor como um todo para o país.

O setor vem registrando grande dinamismo nos últimos anos e crescentemente atrai capitais estrangeiros. No período até 2008, os investimentos previstos somente em hotelaria já alcançam R$ 3,5 bilhões, com a construção de 134 estabelecimentos e a geração de 16 mil empregos diretos e 70 mil indiretos em todo o país. A importância dessas atividades para a economia e o desenvolvimento de diversas regiões é imenso.

Fipe mostra que a capacidade dos hotéis de reter renda nas áreas onde estão instalados é maior do que na construção civil

O número total de empregos e ocupações, que obedece à sazonalidade característica do setor, também é extremamente relevante. Os empregos com carteiras assinadas em atividades ligadas ao turismo cresceram de 1,724 milhão em 2003 para 1,825 milhão no ano seguinte, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Estudos indicam que para cada emprego formal existe 1,7 emprego informal no setor, o que permite afirmar que foram gerados 270 mil postos de trabalho apenas no ano de 2004. Isso significa que, de cada 100 empregos de carteira assinada no Brasil, 5,8 estão ligados ao turismo.

Além disso, em março, o país registrou um recorde na entrada de dólares pelas mãos de turistas estrangeiros, da ordem de US$ 453 milhões. Esse resultado fez do último verão a melhor temporada de todos os tempos em termos de arrecadação de divisas estrangeiras por meio do turismo, superando a casa de US$ 1,5 bilhão. Para o ano, a expectativa é atingirmos a casa dos US$ 5 bilhões, número equivalente a mais do que o dobro do registrado no ano de 2002.

A entrada de dólares é conseqüência direta do aumento da entrada de turistas estrangeiros no país. Em 2005, fechamos o ano com a chegada de 5,5 milhões de visitantes, número recorde na história. Para 2006, a expectativa é chegarmos perto da casa de 7 milhões de turistas estrangeiros.

Um dos pontos que gostaria de destacar no esforço para atrair cada vez mais turistas estrangeiros para o país foi a implementação de uma estratégia de promoção do Brasil no exterior, desenvolvida pelo ministério por meio da Embratur. Desta forma, o país começou a ter ações efetivas de divulgação e de apoio à comercialização de seus produtos e serviços turísticos em mercados-chave da Europa, América Latina e América do Norte, incluindo a participação em 50 feiras internacionais em 2005. Uma conseqüência direta desse trabalho: de 2002 até este ano, o Brasil saltou do 21º para o 11º lugar no ranking dos países que mais atraem eventos internacionais, segundo a International Congress & Convention Association (ICCA).

O crescimento do setor já faz do turismo o quinto produto de exportação do Brasil, de acordo com dados de 2005 do Banco Central. Ficamos atrás apenas das exportações de minério de ferro, soja, automóveis e petróleo.

Os resultados são, portanto, positivos, mas ainda temos muito por avançar. O país deve começar a enxergar efetivamente o turismo como um importante instrumento de desenvolvimento, geração de emprego e redução de desigualdades sociais e regionais. O crescimento do setor tem a capacidade de transformar a vida de milhares de brasileiros e de áreas que precisam de investimentos, postos de trabalho, capacitação profissional e renda.

A prioridade dada ao turismo por este governo precisa se tornar uma política de Estado permanente, no sentido de garantir que o nosso potencial - baseado em nossa gente, nossa cultura, nossas belezas naturais - se concretize e comece a gerar ainda mais benefícios para a sociedade. O Brasil e os brasileiros só têm a ganhar com isso.   (Walfrido dos Mares Guia é ministro do Turismo)


Jornal Valor Econômico — 1o. Caderno — 10-07-06