A Varig tem piloto? - Só os funcionários deram lance no leilão da empresa. Agora a Justiça decide entre a proposta e a falência
O ano é 1927. O piloto alemão Otto Ernst Meyer funda a Viação Aérea Rio-Grandense. Em 1941, Meyer transfere sua administração para o primeiro funcionário da empresa: Ruben Berta. A Varig, que começara operando um único hidroavião, cresce até possuir 120 aeronaves e 88 escritórios no Exterior, no início dos anos 90. O ano agora é 2006. E as coisas mudaram. A companhia aérea que foi referência da aviação nacional e líder de mercado acumula uma dívida de R$ 7,8 bilhões e enfrenta desde 17 de junho passado um dramático processo de recuperação judicial. Esta à beira da falência. Sua última esperança foi jogada na quinta-feira, 8 de junho. Para esse dia o juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, marcou a realização do leilão que ofertaria as operações de vôo da companhia. Esperava-se que a Varig tivesse um novo dono com capital para investir e tirar a empresa de um prejuízo que bateu R$ 1,5 bilhão no ano passado. Ao todo, seis interessados se pré-qualificaram para a disputa. Entre eles estavam as brasileiras TAM, Gol e OceanAir, além da portuguesa TAP. Mas na hora H apenas um efetivou um oferta: a NV Participações, empresa criada pelos próprios funcionários da Varig. A oferta foi de US$ 449 milhões, menos da metade do preço mínimo definido pelo juiz Ayoub, de US$ 860 milhões. "Precisávamos de mais tempo para analisar os números e ter garantias maiores de que não herdaríamos as dívidas trabalhistas e fiscais", disse à DINHEIRO Carlos Ebner, presidente da OceanAir. Conhecido por "o anjo da Varig", o juiz Ayoub ainda retinha o futuro da Varig nas mãos até a tarde da sexta-feira, 9. Poderia encarar o valor da oferta como "vil" e não autorizar a venda. Nesse caso, a lei o obrigaria a decretar falência e acabar com a esperança de 10 mil funcionários. Mas essa não parecia ser a sua intenção. "A solução pela lei seria a falência, mas eu posso fazer uma interpretação diferente", disse ele, dono de 130 mil milhas em créditos de viagem da companhia. Parece ser essa também a opinião dos integrantes do TGV (Trabalhadores do Grupo Varig), que criaram a NV Participações. Mas essa não é a interpretação dos analistas, nem do mercado. Logo após a divulgação de que apenas os funcionários haviam feito oferta à empresa, as ações começaram a despencar. Terminaram a quinta-feira em queda de 60%. "Nossa primeira impressão é que o resultado do leilão foi negativo", avaliou o analista de transportes do Unibanco, Carlos Albano. Outra dúvida que pairou sobre o negócio é que os membros do TGV não explicaram de onde sairá o dinheiro para cobrir a oferta. Esse mesmo grupo teve rejeitado um pedido de empréstimo-ponte feito ao BNDES recentemente, por não ter apresentado garantias. Na proposta de compra da Varig, a NV Participações diz que pretende usar R$ 225 milhões em créditos concursais (os que estão em recuperação judicial) e R$ 500 milhões que serão emitidos em debêntures pela nova empresa no futuro. Apenas R$ 285 milhões seriam pagos em moeda corrente. Ninguém sabe de onde sairão esses recursos. Logo após o leilão, Oscar Bürgel, um dos diretores do TGV, garantiu que existem pelo menos três investidores estrangeiros envolvidos na negociação. Eles seriam garantidores da oferta. Teriam, inclusive, anexado uma carta de fiança na proposta encaminhado ao juiz.
Os números da Varig :
Empregos diretos e indiretos: 50 mil
Aeronaves: 60
Clientes: 6 milhões
Dívida total: R$ 7,8 bilhões
Prejuízo em 2005: R$ 1,5 bilhão
Participação no mercado: 14%
Revista Isto É Dinheiro — Edição 456— Editoria Economia — 12-06-06