Ministro do Turismo reconhece que é preciso investir no país para aumentar viagens domésticas

17/11/2008 14h50

Cristina Massari
GRAMADO - Se por um lado o Ministério do Turismo lança a campanha "Se você é brasileiro, está na hora de conhecer o Brasil" para incentivar as viagens do turismo doméstico, por outro, os preços dos hotéis brasileiros com tarifas de alta temporada característicos do verão brasileiro vão enfrentar a concorrência de destinos internacionais que andam lançando mão de promoções tentadoras para atrair o turista brasileiro. As ofertas variam de diárias gratuitas ao congelamento de câmbio e descontos nos preços em dólar. E, contra as leis de mercado, o ministro do Turismo reconhece que não tem armas para lutar:
- Infelizmente não vendemos turismo na ponta e não posso interferir nisso. Temos trabalhado essa idéia com os empresários para evitar que mesmo com aumento de demanda não haja aumento de preço para estimular a fidelização do cliente. Isso, numa visão mais de longo prazo. Assim temos duas disputas para competir, o americano que vem aqui tentando atrair mais brasileiros e a disputa sobre o salário, já que o dinheiro que paga a viagem é o mesmo que paga contas e é gasto também em outras coisas.
Neste quadro, destaca-se o Rio de Janeiro, que tem na temporada de verão seu período de maior aquecimento.
- Mas o Rio se acomodou. E tem um parque hoteleiro caro para o padrão que oferta. São Paulo e os hotéis do Nordeste já não agem assim, trabalham com promoções e o Nordeste, por exemplo sofre a concorrência dos navios.
Nos planos do Ministério, conta Barretto, o Rio de Janeiro, que está incluído no repertório de cidades-candidatas à Copa de 2014 e que concorre para abrigar as Olimpíadas de 2016, é prioritário. O ministro articula com os governos estadual e municipal um plano de financiamento para ampliação e reforma do atual parque hoteleiro instalado no Rio, em troca da volta de um sistema de classificação oficial:
- Estamos não só pensando na candidatura de 2016, mas em ter uma experiência-piloto no Rio que possa ser reproduzida em todas as cidades que serão sede de jogos da Copa. De um lado cobramos o padrão hoteleiro, e, de outro, oferecemos financiamento a juros mais baixos, que devem cair dos 10%, 11% a 12%, em média para um patamar de 3% a 4%. A Caixa Econômica está topando isso.
O ministro Luiz Barretto disse ainda que até o fim deste mês o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deverá concluir o estudo de privatização para os aeroportos de Viracopos e Galeão.
- Ao final de novembro, o estudo deve ser encaminhado para a Anac e para o ministro da Defesa, Nelson Jobim, apresentando um modelo de privatização a ser seguido. O governo trabalha com a idéia de iniciar o processo de licitação em março de 2009.
Dos 57 aeroportos brasileiros sob administração pública atualmente, conta o ministro, 14 são lucrativos, o que leva o governo a avaliar se e como o processo de privatização poderá incluir os aeroportos que não são rentáveis.
- Há um debate sobre estes modelos. Se a concessão será pontual, só para o Galeão ou para Viracopos, ou se vamos fazer uma concessão casada. Licita-se o filé mignon, mas com uma carne de pescoço. É preciso que Anac e Ministério da Defesa regulem isso.
Atualmente, alguns aeroportos são operados pela iniciativa privada, entre eles Cabo Frio, Angra dos Reis e Porto Seguro. São aeroportos menores, em geral do governo do estado. Diferente do caso dos aeroportos atualmente administrados pela Infraero, cujos candidatos à concessão seriam empresas de grande porte:
- Temos alguns exemplos, Porto Seguro é uma experiência exitosa. Mas agora são grandes empresas internacionais e acho que as construtoras brasileiras que devem entrar neste mercado. E haverá uma contrapartida de obras de melhorias. Será um compromisso de curto de prazo, um investimento privado enorme, tanto para Viracopos como para o Galeão. Viracopos precisa de uma expansão. É um aeroporto com pistas muito boas mas não tem terminal de passageiros. E o Galeão também terá investimentos. Embora a Infraero já tenha iniciado um conjunto de obras de reformas, investindo R$ 60 milhões... Há posições divergentes na Infraero, é natural, á um debate no governo. Mas a iniciativa privada só vai entrar se o negócio for lucrativo. O empresário não faz filantropia. Quer ter lucro. E acho que Galeão e Viracopos são altamente lucrativos
E, com olhar de espectador, já que o assunto não está na competência do ministério, diz Barretto, torce pelas melhorias nos aeroportos.
- Para o Ministério do Turismo, tudo o que vier a melhorar os aeroportos brasileiros é positivo. Mas, qual é o olhar cabreiro do turismo? É que todos os 57 aeroportos têm que estar funcionando. O turismo não é feito só no Rio de Janeiro e em Campinas. Não podemos abandonar os aeroportos regionais nem os de pequeno porte. Hoje precisamos de um estimulo à aviação regional. E isso é um trabalho de subsídio de estado porque os aeroportos regionais só funcionam quando tem aporte do estado. Com a privatização vamos deixar de investir no filé mignon. Espero que estes recursos que estavam sendo destinados ao Galeão, por exemplo, vão poder ajudar os aeroportos regionais de pequeno porte, com aporte de recurso público. e aviação regional é trabalho de subsidio de estado - avaliou o ministro.
O ministro lembra ainda que o início das operações da Azul e planos de crescimento de empresas como a WebJet e outras menores fortalecem a aviação regional:
- Com a chegada de uma nova empresa a concorrência é sempre boa. A Azul quer operar do Rio ou de Campinas. E vai fazer um ponto a ponto que hoje não tem, que é Aracaju e Natal. A Gol e a TAM vão ter que sofrer o impacto da entrada de uma terceira companhia. Terão que baixar preços e o consumidor que vai ganhar. E tem a WebJet que vai receber 11 aviões e busca um crescimento no mercado. Está com 3,5% de participação e quer chegar a 5%. Vamos ter mais concorrência entre as companhias aéreas. Acho que o consumidor final vai ganhar com isso - acrescentou Barretto.

Fonte: O Globo