Estados travam guerra para sediar jogos

16/09/2008 15h25

São Paulo, 12 de Setembro de 2008 - Uma verdadeira guerra entre os governos estaduais e capitais está sendo travada nos bastidores por um lugar ao sol no mundo das oportunidades vislumbrado no horizonte da Copa Mundial de Futebol no Brasil, em 2014. Até o final de março, quando a Federação Internacional de Futebol (Fifa) anunciará de 8 a 12 cidades que vão sediar os jogos, só tende a subir o tom da campanha de convencimento acerca da capacidade de enquadramento nas exigências da entidade. Dentre as armas utilizadas, está a contratação de consultorias com expertise em projetos de infra-estrutura geral e ligados ao esporte para preparar projetos adequados aos critérios da Comissão de Inspeção da Fifa. Este arsenal inclui até a defesa da Copa do Mundo da Amazônia por parte de Rio Branco (AC), Manaus (AM) e Belém (PA), que concorrem por um espaço entre as sedes.

A dimensão econômica, política e social do megaevento justifica a queda-de-braço. "O capital político envolvido nessa história é imenso. As capitais e os respectivos estados escolhidos terão dividendos de todos os tipos", afirma o coordenador do grupo interministerial para a Copa 2014, Alcino Reis, do Ministério dos Esportes. Por isso - ressalta --, neste momento de forte movimentação das 18 capitais candidatas, o governo federal defende o máximo de neutralidade em relação às candidaturas. O máximo que ele diz fazer é palpitar sobre o número de sedes. "O tamanho do Brasil justifica a escolha de 12 cidades", sugere. A Fifa resiste a essa quantidade e quer restringir esse número a oito, enquanto o máximo esperado das negociações é dez cidades.

A briga está mais concentrada entre as capitais fora do seleto grupo das maiores cidades brasileiras com "cadeira cativa" no mapa da Copa de 2014. É o caso do Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Brasília e Porto Alegre. Do resto das candidatas - Manaus, Belém, Fortaleza, Natal, Olinda/Recife, Maceió, Rio Branco, Cuiabá, Campo Grande, Curitiba, Florianópolis e Goiânia -, seis deverão ser eliminadas, considerando-se que a Fifa opte pelo máximo de sedes (12), o que é pouco provável. Segundo fontes extra-oficiais, a expectativa é que essa meia dúzia de excluídas conquiste pelo menos a condição de subsede, servindo de hospedagem para as seleções de futebol, o que já vai gerar movimento considerável no município .

Nessa situação estão Manaus e Belém, as duas dentre as três capitais do Norte - a terceira é Rio Branco - com mais chance de sediar jogos do campeonato mundial. Segundo Wladimir Antonio Rioli, presidente da Pluri Bank Corp Sport, "a escolha entre essas cidades será política".

Para assessorar a candidatura de Manaus, o governo do Amazonas contratou a Deloitte - Empresa de Auditoria e Consultoria de Negócios. Sua concorrente, a PricewaterhouseCoopers (PwC) presta serviços para o governo do Pará, que também já anunciou a aplicação de R$ 5 milhões na Copa, boa parte disso na reforma do Estádio Olímpico. "A Copa é um evento de negócios como qualquer outro e gera muito dinheiro para a Fifa. A da Alemanha rendeu € 8,5 bilhões. Portanto, a Fifa não vai arriscar nada, rejeitará as candidaturas que não fizerem a lição de casa", afirma Robson Calil, sócio da Deloitte e coordenador das iniciativas da empresa para a Copa de 2014. Prova disso foi o recado dado semanas atrás pela entidade às autoridades da África do Sul, indicando a possibilidade de substituir a África do Sul como sede do mundial de 2010 caso as autoridades "não se mexam" mais rapidamente.

Há dois meses a Deloitte está na capital amazonense com a incumbência de elaborar um ´Plano Mestre, montado de acordo com as exigências da Fifa descritas no Caderno de Encargos. Entre as obras previstas está a reformulação total do estádio Vivaldo Lima (Vivaldão). "Um evento dessa dimensão precisa ser nacionalizado", acrescenta Calil. É natural que capitais do Sudeste e do Sul tenham suas candidaturas fortalecidas por disporem de maior infra-estrutura de transportes e em outras áreas.

Também de olho no rigor das normas do Caderno de Encargos da Fifa, desde maio o governo do Pará, com assessoria da Price, identificou cerca de 280 projetos em andamento ou prestes a serem iniciados, totalizando cerca de R$ 6 bilhões - parte dos quais voltados para preparar Belém para o Fórum Social Mundial em janeiro próximo. Com base neles será elaborado um plano de execução de obras nas áreas de infra-estrutura, turismo e sustentatibilidade, segurança e saúde. "Belém é a porta de entrada da Amazônia e já faz parte do calendário anual de atletismo, abrigando o Grand Prix de Atletismo por causa da capacidade do nosso estádio olímpico ", afirma a coordenadora do Grupo de Trabalho Copa, Lucia Penedo. Segundo ela, esses requisitos, aliados à paixão dos paraenses pelo futebol, supera o fato de os times locais pertencerem à terceira divisão.

De acordo com Marcos Nicolas, diretor da Price e coordenador dos projetos da consultoria vinculados à Copa de 2014, todo o planejamento de Belém e de outras cidades candidatas que deverão fechar contrato com a Price em breve, será feito em cima de um conceito básico: a infra-estrutura montada para ser usada durante um mês em 2014 terá de ser adequada a um aproveitamento futuro. "Não dá para imaginar que a iniciativa privada vai botar uma quantia bem razoável de recursos em obras sem perspectiva de sustentação futura", comenta Nicolas. Ele lembra que a Alemanha incrementou entre 18% e 22% a economia do turismo depois da Copa de 2006. "E olhe que eles são um povo sisudo e nós esbanjamos simpatia", acrescenta.

Ao contrário dos investimentos estimulados pelo mundial de futebol, que ainda vão levar um tempo para sair do papel, este momento é decisivo para as cidades candidatas e o corpo-a-corpo só deve crescer. A Fifa deve enviar uma missão ao País em breve para encontros com especialistas e visitas às cidades candidatas. Movimentos que também devem resultar em novos contratos para as consultorias e a definição de planos de investimentos nos estados, entre outras ações.

E isso tudo porque, oficialmente, o Brasil não pode divulgar ainda a Copa de 2014, pois pelas regras vigentes, a vez é da Copa de 2010 na África do Sul e, portanto, é esse o evento que deve ser difundido. Do ponto de vista formal, o Brasil somente poderá iniciar uma campanha para divulgar o campeonato mundial de futebol depois do término dos jogos nas cidades africanas.

Fonte: Gazeta Mercantil