ENTREVISTA - Deputada Professora Raquel Teixeira: "A Copa e os Jogos podem tornar o Brasil um destino turístico maior"
A senhora é uma especialista em educação, ciência e tecnologia que, este ano, presidiu a Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados. Qual o saldo dessa experiência?
Deputada Professora Raquel Teixeira - Presidir a Comissão de Turismo e Desporto foi uma experiência maravilhosa. Para uma pessoa que tem raízes profundas na área de educação, ciência e tecnologia, conhecer os universos do turismo e do esporte implicou acúmulo de conhecimento. Os dois setores, apesar de aparentemente divergentes, são complementares, imbricam-se e, mais importante do que isso, geram emprego e renda, propiciando, portanto, mobilidade social. São alavancas fundamentais da economia produtiva que têm, obrigatoriamente, de ser apoiados e incentivados pela administração do Estado brasileiro. Independentemente dessas características dos dois setores, tanto o turismo quanto o esporte são área que propiciam aos que nelas trabalham uma taxa de satisfação muito elevada, em virtude proporcionarem, de maneiras diversas, prazer e alegria. Foi, por isso, um experiência extremamente positiva, principalmente para quem há anos luta para transformar a realidade da educação brasileira, batalhando contra os baixos salários do magistério e contra o desprestígio do qual os professores são vítimas.
Qual o balanço que a senhora faz do momento do turismo brasileiro?
Deputada Professora Raquel Teixeira – A indústria do turismo brasileiro, ao longo dos últimos 16 anos, transformou-se por completo. A atividade, até 1995, caracterizava-se pelo amadorismo, o que redundava em canibalismo, em autofagia, cometida pelos agentes do setor. Naquele ano, a Câmara Setorial de Turismo, integrada por representantes do setor público e da iniciativa privada, convergiu para a formatação do primeiro documento basilar do turismo brasileiro. Com a apresentação à sociedade, em 1996, do documento "Política Nacional de Turismo" pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, a atividade começou a se organizar, com foco no planejamento estratégico.
O que propiciou, em sua avaliação, a transformação do produto brasileiro a partir do lançamento, em 1996, do documento Política Nacional de Turismo?
Deputada Professora Raquel Teixeira – Entendo que o Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT) foi o grande responsável por uma verdadeira revolução silenciosa, na medida em que uma grande quantidade de municípios despertou para o fenômeno do turismo. Com o PNMT, levado à cabo pelo Instituto Brasileiro de Turismo – EMBRATUR, os administradores dessas cidades compreenderam como a indústria de viagens e lazer propicia desenvolvimento, na medida em que o turista, ao consumir, internaliza dinheiro novo na economia municipal. Tanto direta quanto indiretamente. Com isso, a arrecadação de impostos aumenta, permitindo ao gestor público oferecer melhores serviços e realizar as obras que se fazem necessárias.
Os investimentos em marketing e propaganda do Brasil no exterior aumentaram significativamente nos últimos anos. Ainda assim, o desembarque de turistas internacionais regrediu em 2009. Por quê?
Deputada Professora Raquel Teixeira – Não há dúvida alguma quanto ao fato de que o Destino Brasil, na esteira das crise econômico-financeiras que abalaram os maiores mercados emissores do planeta, amargou uma dura retração. Exatamente em virtude da crise, que atingiu emissores europeus e norte-americanos, os desembarques internacionais foram inferiores a 5 milhões de turistas em 2009, apesar dos investimentos ascendentes realizados em marketing e propaganda pela EMBRATUR no exterior. No entanto, é obrigatório reconhecer, esse desequilíbrio foi compensado pelo expressivo aumento do consumo doméstico de viagens e lazer, que, em virtude da oferta de crédito, resultou em um crescimento mais do que chinês do turismo interno. O que pode ser mensurado pelo aumento da demanda por transporte aéreo, da ordem de 30%, que implicará, este ano, uma expansão de 12% do turismo doméstico.
O Brasil conquistou o direito de sediar os dois principais festivais da indústria do entretenimento. A Copa do Mundo FIFA de futebol e as Olimpíadas. Em que medida realizar esses megaeventos resultará em ganhos efetivos para a indústria brasileira do turismo?
Deputada Professora Raquel Teixeira – Eu sou uma entusiasta da realização da Copa do Mundo FIFA de 2014 e dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2014, no Rio de Janeiro. Entendo que captar megaeventos é estratégico para um país que deseja, por razões econômicas, firmar-se como destino maior da indústria mundial de viagens e lazer e, também, habilitar-se a ser uma potência esportiva. Esse é o caso do Brasil. No entanto, é imprescindível ter em mente que eventos esportivos não têm por missão transformar a indústria turística de um país. A oportunidade e a consequente responsabilidade de sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas possibilitam ao país investir na solução de estrangulamentos que emperram, ainda, o desenvolvimento do turismo brasileiro. Por isso, a tarefa de preparar o país para os megaeventos significará a antecipação de obras, de medidas visando a revitalização, o aprimoramento da infraestrutura brasileira. Essas ações serão, sem sombra nenhuma de dúvida, benéficas, e tomadas com racionalidade, transparência, economicidade e ética equivalerão a um dever de casa bem feito, que permitirá à indústria brasileira do turismo dispor de ferramentas capazes de fidelizar o turista internacional, consolidando, de uma vez por todas, o setor.
A senhora acredita que a realização desses dois megaeventos resultará em crescimento do produto turístico brasileiro em curto e médio prazos tendo em vista os problemas do país em matéria de infraestrutura?
Deputada Professora Raquel Teixeira – São mais do que conhecidos os problemas brasileiros em matéria de infraestrutura, mais especificamente no setor aeroportuário, que fala intimamente aos interesses da atividade turística. Esse é um nó górdio a ser desatado em regime de urgência. Não apenas em virtude da Copa de 2014 e dos Jogos de 2016. Os principais aeroportos brasileiros, os que têm o papel de distribuir vôos – os aeroportos de Guarulhos e de Brasília, principalmente – estão esgotados, submetendo os passageiros a verdadeiras mortificações. Os investimentos que deveriam ter sido feitos, não aconteceram. Em contrapartida, a demanda por transporte aéreo cresce violentamente, implicando a expansão do mercado de turismo doméstico. Em virtude desse fato, é previsível a ocorrência, em curto prazo, de uma crise aeroportuária, que comprometerá a economia brasileira e, ao mesmo tempo, gerará reflexos negativos nos mercados emissores, onde os grandes operadores não terão interesse em colocar o Destino Brasil em posição privilegiada nas prateleiras de comercialização.
Em relação ao esporte, o Brasil, como hospedeiro dos Jogos de 2016, necessitaria disputar as competições do evento com chances reais de sucesso. Qual, para a senhora, a fórmula mais adequada para um país transformar-se em potência esportiva?
Deputada Professora Raquel Teixeira – Para o Brasil tornar-se uma nação com efetiva competência em relação às potências olímpicas, como a China e os Estados Unidos, terá que investir na detecção de talentos. Essa, como educadora que sou, é uma tarefa que, no meu entendimento, é de responsabilidade do Estado. Para tanto, é fundamental, em um regime escolar de tempo integral, oferecer à juventude a possibilidade de praticar modalidades esportivas as mais diversas. De maneira objetiva, esporte na escola. Sem a preocupação de formar atletas, mas, sim, de detectar crianças e jovens que possuam talento motor para algum esporte específico. Uma vez identificado quem tenha, em função de sua natureza, dotes naturais para uma determinada modalidade, compete ao Estado garantir recursos materiais e financeiros para os jovens que desejarem assumir um compromisso com a prática do esporte de competição.
A lei de incentivos fiscais para o esporte, sancionada em 2006 e desde então em vigor, não deveria garantir esse tipo de ação?
Deputada Professora Raquel Teixeira - O esporte brasileiro, depois de muita luta, foi beneficiado com a entrada em vigor da lei garantidora de incentivos fiscais. Na minha avaliação, contudo, os recursos existentes para o setor estão sendo canalizados, acima de tudo, para o esporte de alto rendimento, para atletas já formados, e não para a detecção de talentos e para a formação e desenvolvimento de jovens atletas. No dia em que o esporte, no Brasil, tornar-se matéria de alto interesse para o Estado, o que redundará em uma política de Estado permanente o setor, uma nova perspectiva será criada. Enquanto isso não acontecer, o Brasil não conseguirá sucesso efetivo nas principais competições de caráter internacional.