Entrevista do ministro do Esporte, Orlando Silva
Ricardo Gonzalez
Após a confirmação do Brasil como sede da Copa 2014, governos e iniciativa privada arregaçam as mangas para o megaevento. Na esfera federal, o ministro dos Esportes, Orlando Silva, começa sacando o cartão vermelho aos que pensem em barganhar com a aprovação de projetos da carta de compromissos do país com a Fifa. ``A Copa é um projeto do país, não de um partido. A Fifa não vai tolerar barganhas``. Em entrevista exclusiva ao JB , por telefone, o ministro disse que a maioria dos investimentos não será do governo, mas da iniciativa privada.
Aprovada a candidatura do Brasil a sede da Copa de 2014, quais são os próximos passos do Governo federal quanto a esse projeto?
- Temos a curto prazo duas tarefas: analisar, em relação ao caderno de encargos da Fifa, tudo o que precisaremos modificar em termos da nossa legislação atual. Feito isso, encaminharemos essas mudanças ao Congresso através de portarias, decretos ou projetos de lei. Temos uma carta de compromisso assinada pelo Brasil com a Fifa, que são garantias governamentais que precisam ser cumpridas. Depois teremos de esperar a escolha das cidades-sede, que espero que sejam 12. Não dá para estabelecer um padrão, afinal, Manaus tem necessidades diferentes de São Paulo, o Rio de Janeiro é diferente de Salvador. A questão toda se resume a planejamento. Ele é que vai inibir as surpresas.
Se essas mudanças passam pelo Congresso, o governo não corre o risco de ter de barganhar com a oposição, como habitualmente acontece? Ou, se não fizer isso, não se corre o risco de as mudanças não acontecerem e o Brasil ficar com o projeto da Copa em risco?
- Não creio e acho bom que o trâmite seja através do Congresso. Lá é a casa do povo. A Copa do Mundo é um projeto de um país, não de um partido ou um grupo. É preciso que haja, e estou certo de que haverá, uma união de todo o país em torno do sucesso da Copa. Não é algo que possa ser objeto de barganha. A presença de políticos de vários partidos e tendências, mesmo de oposição, na cerimônia da Fifa, em Zurique, é uma prova de que não haverá esse tipo de problema.
E se o PT não fizer o próximo presidente, que governará em 2014, isso pode mudar?
- A democracia estabilizou-se no Brasil. Não há risco de um governo não cumprir os compromissos firmados pelo anterior. Repito: não haverá quebra das regras, a Fifa não tolera barganhas.
Que mudanças precisam ser feitas na legislação?
- São várias, nas três esferas de governo. Um exemplo envolve os governos estaduais, as secretarias de fazenda, sobre venda de ingressos. A Fifa impõe um teto na tributação dos ingressos, diferente do que se cobra aqui. E isso terá de ser feito com muito rigor.
Alguns itens no caderno de encargos estão bastante longe do que existe hoje, como segurança, infra-estrutura etc. Como o Governo vai resolver isso?
- Há pontos em que o Governo não tem de entrar, será função da iniciativa privada. O que nós vamos fazer é antecipar investimentos do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) em modernização de infra-estrutura. Não temos que construir nem reformar estádios. Não temos que ampliar a rede hoteleira. Há um investimento enorme a ser feito, mas pela iniciativa privada. Mesmo com relação a estradas, fizemos agora um grande leilão (vencido por consórcios espanhóis), e podemos fazer em outros setores.
Então, o que cabe ao poder público?
- Um dos ítens é a segurança. E já temos visto melhoras. Há muito não se fala em problemas de segurança dentro dos estádios. O problema ainda existe do lado de fora, nas vias públicas. Em Copas do Mundo, são realizadas Fun fests, que são espaços em locais públicos onde são montados palcos para um grande público ver os jogos em telões, com shows e eventos para quem não conseguiu ingressos. Isso exigirá do governo um esquema de segurança tão ou mais complexo do que o de dentro dos estádios.
A questão de saúde é complexa também. A Fifa exige que haja pelo menos um hospital de grande porte, com emergência muito bem equipada, a poucos metros de cada estádio. Hoje não há isso.
- Mas a Fifa não diz que precisam ser hospitais públicos. Próximo ao Morumbi, por exemplo, há um hospital privado que já se colocou à nossa disposição para cumprir todas as exigências da Fifa. Isso pode acontecer em todas as cidades-sede.
Em agosto de 2014, quando a Copa tiver acabado, o que o país vai ter a comemorarar - além do título, se este vier?
- Não dá para prever o futuro, mas acho que estaremos festejando o aumento grande na oportunidade de investimentos, na qualidade dos serviços, no número de empregos e na promoção do Brasil no exterior. E creio em um legado também para a economia do futebol, para que nossos craques não precisem mais ir jogar na Europa e fiquem aqui.
Fonte: Jornal do Brasil