Deputados começam debates para criar política de esporte
A situação é mais grave, como explicou Alexandre Póvoa, vice-presidente de Esportes Olímpicos do Flamengo: "Há dinheiro para o esporte, mas não temos uma política que defina as prioridades para o seu uso. Isso contribui para que tenhamos confederações ricas e clubes pobres".
Num discurso emocionado, Carmem alertou que apesar do volume de recursos públicos destinados ao esporte de alto rendimento (R$ 6 bilhões no último ciclo olímpico), o país ainda carece de definições sobre o a competência de cada ente envolvido, a partir dos clubes, federações, confederações, Ministério e COB.
"E isso ocorre porque não temos uma política de esporte, que seja obedecida independentemente do partido que estiver no poder", disse Carmem. Ela disse que se sente triste por ainda deter recordes no atletismo, mesmo 17 anos depois de ter encerrado carreira. "Se quiserem conhecer a realidade, chamem os presidentes das federações para uma conversa. Eles vão revelar como é difícil obter recursos públicos através das confederações, o que acaba inviabilizando o esporte nos estados".
O presidente da Federação Brasileira de Clubes, Arialdo Boscolo, também criticou a falta de um plano de governo para o setor, apesar dos volumosos investimentos que realiza no esporte, como os R$ 180 milhões anunciados esta semana, com vistas à preparação de atletas aos Jogos Rio 2016. Para o ciclo olímpico, o governo federal destinará R$ 1 bilhão para as modalidades olímpicas e paraolímpicas.
Instituição básica onde são formados os atletas brasileiros, os clubes passaram a contar com recursos do Ministério do Esporte, desde outubro de 2011. O montante repassado à Confederação Brasileira de Clubes é em torno de R$ 40 milhões anuais. Porém, segundo Arialdo Boscolo, que presidiu a CBC até fevereiro deste ano, trata-se de verba específica para novos talentos. "Porém, esse valor ainda é pequeno diante do volume de clubes que trabalham na formação de atletas", alertou o dirigente.
Alexandre Póvoa, vice-presidente de Esportes Olímpicos do Flamengo, do Rio de Janeiro, lembrou que seu clube é um dos principais fornecedores de atletas olímpicos. "Em 10 olimpíadas, participamos com 196 atletas em 19 modalidades. No entanto, não temos acesso aos recursos públicos, inclusive os destinados ao COB" - através da Lei Agnelo Piva.
Em situação financeira difícil, a nova direção do clube carioca foi obrigada a dispensar 60 atletas de alto rendimento do judô, da natação e da ginástica, todos com potencial para integrar a equipe olímpica aos Jogos de 2016. "O Flamengo tem legitimidade para pleitear os novos recursos entregues à CBC. Não podemos disputar essa verba com clubes criados recentemente", afirmou.
O representante do COB, Marcos Vinícius Freire, reconheceu que é a instituição de uma política de esportes para o país é indispensável. E lembrou que estamos diante de uma encruzilhada, com o país preparando sua equipe olímpica aos Jogos que disputará no Rio de Janeiro, em 2016 e é neste sentido que ele está trabalhando, definindo prioridades e metas com dirigentes do Ministério do Esporte.
Marcos Vinícius comentou sobre a aplicação dos recursos da Lei Agnelo Piva, dos quais o COB é o gestor, e entregou ao deputado Benjamim Maranhão o relatório de prestação de contas desses recursos referentes a 2012, quando foram aplicados em torno de R$ 160 milhões.
O representante do Ministério do Esporte, Ricardo Avelar, disse que a prioridade é a preparação de atletas aos Jogos 2016 e é neste sentido que estão sendo destinados os principais recursos do governo. "Vamos dispor de R$ 1 bilhão, sendo que R$ 690 milhões serão aplicados na preparação de atletas, através de projetos conjuntos com o COB e confederações, e R$ 3$ 310 milhões na aquisição de equipamentos e construção de infraestrutura para treinamentos", afirmou Avelar. "O foco é o atleta. Ele precisa chegar bem preparado aos Jogos do Rio de Janeiro".
Autor do requerimento para a audiência pública, o deputado Benjamim Maranhão disse que continuará a debater esse assunto com seus colegas parlamentares. "Estive nos Jogos Olímpicos de Londres, conheci de perto a realidade da cidade e como ela se preparou para deixar uma estrutura à comunidade, depois do evento. É neste sentido que precisamos trabalhar", alertou.
Os deputados Romário (PSB/RJ) e Deley (PSC/RJ), também questionaram os representantes do COB e do Ministério do Esporte sobre o volume de recursos aplicados no esporte e o pequeno retorno em pódios internacionais. "É difícil entender como vamos sair do 22º lugar (classificação nos Jogos de Londres) para a 10ª posição", argumentou o presidente da CTD, deputado Romário. Para tanto, ele argumentou com números oficiais: "Em 1996 o Brasil conquistou 15 medalhas em nove modalidades esportivas. Dezesseis anos depois, em 2012, nos Jogos de Londres, evoluímos apenas duas medalhas também em nove modalidades. Como conseguiremos, nos Jogos do Rio, avançar 12 posições no ranking das medalhas?"