Como a Folha publicou na última segunda-feira, documentos mostram o lobby praticado pela Fifa, em favor de patrocinadores da entidade no setor de energia solar, seguros e produção de brindes. Num dos casos, a entidade afirma que se não for contratada a empresa parceira, será cobrada uma taxa de 17% e pede "cooperação" nas licitações.

Segundo o deputado Jonas Donizette, existe uma maneira "simples" de se garantir o padrão de qualidade exigido Fifa sem precisar de e-mails em favor de patrocinadores.

"É uma situação grave. Não tem essa necessidade de fazer esse tráfico de influência. As licitações para determinados poderiam ter uma cláusula de exigência que, para participar, as empresas deveriam ter um atestado técnico da Fifa. Aí você faz um padrão de qualidade sem qualquer tipo de burla", disse o presidente da Comissão.

De acordo com o deputado, esse tipo de cláusula de exigência é semelhante ao que já é feito em obras de metrô. "Não é qualquer empreiteira que faz, é exigido um portfólio que comprove a capacidade. O tráfico de influência é condenável. Mandar e-mail para dizer para contratar uma empresa não pode acontecer", afirmou Jonas Donizette à Folha.

Segundo o deputado, o primeiro passo para investigar o lobby da Fifa é ouvir Ricardo Teixeira, presidente do Comitê Organizador Local e da CBF. Já existe um convite aprovado na Comissão para que Teixeira explique as denúncias publicadas nas últimas semanas, e os documentos publicados pela Folha serão analisados.

Depois das explicações de Ricardo Teixeira, o próximo passo da comissão será avaliar a possibilidade de convidar integrantes da Fifa e requisitar documentos. Teixeira, contudo, foi apenas convidado e não é obrigado a comparecer - ele ainda não respondeu se vai à comissão.

Fiscalização

Outra frente de investigação deve acontecer na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, onde o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) aguarda a instalação de uma PFC (Proposta de Fiscalização e Controle).

De acordo com o deputado, a comissão pedirá a participação de integrantes do Tribunal de Contas da União para investigar os contratos que envolvem dinheiro público. "Os e-mails publicados são a prova material de que a participação da Fifa no dinheiro público da Copa deve ser investigada", disse.

Procedimento padrão

Em nota, a Fifa admitiu que mandou comunicados às sedes oferecendo parcerias com patrocinadores, mas afirmou que não obriga as cidades a contratarem as empresas.

"Somente informamos, como procedimento padrão, sobre oportunidades de cooperação com os parceiros da Copa-2014 da Fifa, em especial para usar a sinergia e as vantagens deles." A entidade diz entender que as cidades- -sedes devem seguir as leis aplicáveis para contratar produtos e serviços.

O Comitê Organizador Local, presidido por Ricardo Teixeira, declarou que não responde em nome de Carlos de la Corte, consultor terceirizado da entidade.
De la Corte disse que, a pedido, mandou o e-mail com ofício da Fifa apresentando a empresa de energia: "Tanto que o e-mail continha, anexo, um documento assinado por diretores da entidade". O consultor ainda disse que enviou apenas "sugestões".

FILIPE COUTINHO
DE BRASÍLIA
FOLHA ONLINE