CTD inicia discussão sobre o Brasil pós-Copa 2014

A mobilidade urbana, a acessibilidade nos estádios, a venda de bebidas alcóolicas e o que fazer com o patrimônio construído para a Copa do Mundo de 2014, dominaram o debate no Seminário Brasil Pós-Copa 2014: Legado e Gestão dos Estádios, realizado pela Comissão de Turismo e Desporto, hoje 16 de maio de 2012, no Auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados. Em que pese a discussão abranger estes assuntos, a maioria dos participantes garantiram que o Brasil vai fazer a melhor Copa do Mundo. O seminário foi proposto pelos deputados José Rocha (PR-BA) e Romário (PSB-RJ), preocupados com o que acontecerá com os estádios das 12 cidades-sedes após a realização da Copa do Mundo de 2014.
17/05/2012 11h30

Akimi Watanabe

CTD inicia discussão sobre o Brasil pós-Copa 2014

Mesa de abertura do Seminário Brasil Pós-Copa 2014: Legado e Gestão dos Estádios

Na abertura do evento, o deputado José Rocha (PR-BA), Presidente da Comissão de Turismo e Desporto, manifestou preocupação com a utilização dos estádios especialmente em estados com pouca tradição no futebol, como Amazonas, Rio Grande do Norte, Mato Grosso e o Distrito Federal. Ele enfatizou que nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul, por exemplo, este patrimônio já é muito utilizado, inclusive, para outros fins que não sejam apenas as competições esportivas. Para ele, os modelos de gestão dos estádios devem ser definidos o quanto antes, especialmente nas cidades em que não existem grandes clubes de futebol. Segundo acentuou, é urgente se estudar um modelo de gestão que também contemple o fortalecimento dos clubes de futebol, promovam ídolos nesses clubes para que tenham torcidas fortes e consequentemente tornem-se também clubes fortes e competitivos.

Por sua vez, o ex-jogador José Roberto Gama de Oliveira, o Bebeto, membro do Conselho do Comitê Organizador, disse acreditar que a Copa servirá para mostrar para o mundo que o Brasil pode promover grandes eventos.

Já o secretário-executivo do Ministério do Esporte, Luís Fernandes, anunciado como membro do Governo Federal no Comitê Organizador Local (COL), garantiu que as estruturas construídas na Copa, como estádios, portos e aeroportos, poderão alavancar o desenvolvimento do Brasil no período após o evento. Para Fernandes, a Copa também poderá potencializar a criatividade dos brasileiros para gerar novos negócios no País. Ele disse que a colaboração entre Poder Executivo, Poder Judiciário, órgãos de controle e Poder Legislativo poderá garantir que o legado da Copa seja efetivo para o Brasil. Ele disse que não há qualquer tipo de intervenção do governo federal no Comitê Organizador da Copa, o que existe é uma parceria saudável que vem trazendo resultados positivos.

O vice-presidente da CBF, região Centro-Oeste, Weber Guimarães afirmou que os 12 estádios nas cidades da Copa poderão estimular a "remodelagem" do futebol nesses locais e, assim, os espaços poderão ser melhor aproveitados. Ele elogiou a competência do deputado José Rocha e do deputado Romário na realização do Seminário, destacando que José Rocha já mostrou determinação na presidência da Comissão de Turismo e Desporto e também como relator da Lei Pelé. Segundo afirmou ainda, o Brasil é o país do futebol e a Copa foi bem trabalhada para sediarmos desde 2002 e para tanto os estádios vão ter todas as condições de depois fazer grandes eventos, principalmente no futebol.

O conceito de estádio moderno

O primeiro palestrante do Seminário, Ricardo Trade, Diretor Executivo de Operações do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo da Fifa 2014, participou do painel "O Conceito de estádio moderno: Padrão Fifa, coordenado pelo deputado Afonso Hamm (PP-RS), foi direto ao assunto, afirmando que uma série de eventos, como shows e outros espetáculos, poderão ser realizados nos estádios das 12 cidades-sede após a Copa. Segundo Trade, o conceito que está sendo usado pela Fifa é de que o estádio seja uma "arena multiuso". Esse conceito envolve acesso fácil por meio do transporte público, facilidade para compra de ingresso, espaços de alimentação, conforto e opções de lazer, como visita à sala de troféus, locais para compra de souvenirs e tours de visitação em dias sem jogo. "Com esses novos estádios multifuncionais, mais eventos - e não apenas jogos - poderão ser levados para as cidades, gerando mais receita para o próprio futebol", garantiu.

Ricardo Trade explicou ainda que a ideia é que os vestiários e camarins sejam preparados para receber os participantes dos eventos, sejam eles jogadores ou cantores. Além disso, o objetivo é que os estádios contem com salas de imprensa bem equipadas.
"Alem disso, mais jogos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) poderão ser realizados nesses estádios após a Copa, desconcentrando os locais usuais das partidas, como o Rio de Janeiro (RJ)", lembrou Ricardo Trade, afirmando ainda que em alguns desses locais, já está definido quem será o operador posterior dos estádios - em São Paulo, por exemplo, é o clube Corinthians. Mas, em outros, o processo de definição do operador ainda está em curso e o comitê organizador está ajudando na definição. Segundo acentuou ainda já há mais de 23 pessoas trabalhando nos estádios de futebol nas 12 cidades-sede e isso mostra que a geração de emprego e renda já é um importante legado que a copa deixará ao Brasil.
Respondendo aos deputados sobre a questão da mobilidade, Ricardo Trade disse que o COL trabalha pela mobilidade, mas não pode fazê-la, porque entende que a mobilidade não deve ser só para a Copa do Mundo, ela precisa existir para o cidadão no dia a dia.

O vice-presidente da Federação Baiana de Futebol, Manfredo Lessa, falou em nome das federações, afirmando que um dos grandes problemas da Copa será a mobilidade urbana, questionando sobre o que o comitê organizador fará com relação ao tema. Ele lembrou que em Salvador há um metrô ainda em construção há 15 anos e que a cidade tem uma arena moderna e não tem mobilidade para chegar até ela.

Gestão de estádios multiuso

No painel "Gestão de estádios multiuso", coordenado pelo deputado Romário, três palestrantes expuseram ideias centrais para o aproveitamento pós-copa dessas construções.

O Presidente da Associação Brasileira de Operadores e Fornecedores de Arenas Multiuso, João Gilberto Vaz, alertou que a construção de um plano de viabilidade econômica antes do início da obra é o primeiro requisito para a construção de um espaço que possa ser utilizado para eventos esportivos, artísticos e culturais. Para ele é preciso contar, em todos os passos do projeto, com a participação de um operador com experiência na gestão de arenas multiuso. O dirigente destacou ainda que, para o sucesso do empreendimento, é fundamental ter pelo menos um time de futebol "inquilino", que venha a mandar seus jogos no futuro estádio. Ele lembrou que a arena de hoje não é diferente da que se iniciou com o circo romano, a qual tinha vários tipos de operações desde a luta com leões até eventos musicais, o que não pode ser diferente hoje com as arenas multiuso construída ou em construção no Brasil.

"Temos que adaptar o conceito arena multiuso no Brasil e a associação tem esta função. Não se pode fazer uma arena sem antes fazer um planejamento desde o início.", disse, garantindo que o Brasil vai aprender a fazer isso como aprendeu a fazer aviões, satélites e outros, e para isso é preciso apenas capacitar as pessoas.

O Diretor do Botafogo Futebol e Regatas e Gestor do Estádio Olímpico João Havelange disse que o "Engenhão", como é conhecido o estádio, já rendeu ao clube aproximadamente R$ 1,8 milhão, de janeiro a abril de 2012, apenas com pequenos eventos e que no ano passado o lucro para o Botafogo foi de R$ 8 milhões, com a realização de shows, como o do cantor Justin Bieber, eventos de outros esportes, como o Ultimate Fighting Championship (UFC).

"Além disso, em 2013, o clube vai alugar as instalações do Engenhão para a Universidade Gama Filho, cujo espaço será utilizado por 5 mil alunos dos cursos de educação física, nutrição e fisioterapia", destacou Sérgio Landau lembrando que o maior legado a ser deixado pelos estádios depois da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 será a cultura, por meio do lazer e do entretenimento. O Diretor do Botafogo afirmou ainda que um grande desafio do futebol brasileiro é trazer as famílias de volta aos estádios, pois as pessoas têm associado as arenas de futebol à violência.

Por sua vez, o Diretor de seleções da CBF, Andrés Sanches citou exemplos positivos da utilização do Itaquerão, estádio do Corinthians, time que já presidiu, e alertou que o parlamento deve continuar cobrando os preparativos para a Copa e o aproveitamento do legado. "Às vezes andamos pelo Brasil e parece que não haverá Copa do Mundo no Brasil", disse, lamentando haver muita hipocrisia no esporte brasileiro e muita interferência do ministério público. Ele defendeu a venda de ingressos pela Internet e a venda de bebidas alcóolicas, garantindo que os cambistas não vão acabar nunca. Sanches disse que o clube não pretende utilizar as instalações do seu futuro estádio (Itaquerão) para shows, pois o gramado não foi projetado para comportar esse tipo de atividade. Segundo ele, a arena do estádio terá capacidade para 48 mil pessoas e o Corinthians vai pagar ao BNDES os R$ 400 milhões que pegou emprestado para o empreendimento. Ele declarou também que, em março ou abril do próximo ano, o Corinthians irá divulgar todos os gastos que teve com a obra e que mesmo sem ainda ter seu próprio estádio, o clube conseguiu R$ 37 milhões no ano passado só com a venda de ingressos. "O Corinthians é autossustentável só com eventos de futebol", disse. Segundo ele, o time vende de 60% a 70% dos seus ingressos pela internet, evitando filas e desconforto para os torcedores.

"É questionável a viabilidade de as classes D e E terem acesso a grandes arenas multiuso, como a Amsterdam Arena do tome holandês Ajax, devido ao alto preço das entradas. Temos de pensar que público queremos nos estádios. Queremos futebol para rico, para pobre ou para todos?", questionou, respondendo que da forma que se conduz o futebol no Brasil, ele será apenas para os ricos. Para ele só uma parceria saudável da CBF com os clubes de futebol, o governo federal e os governos estaduais poderá ajudar a aproveitar o legado da Copa.

Para ele, os aeroportos também precisam ser melhorados e a questão da mobilidade deve ser mais importante que a própria construção dos estádios.

Já o representante do clube atlético Paranaense, Mauro Holzman disse que o time tem uma arena multiuso desde 1999 e que desde essa época tem buscado gestores para o estádio de foram profissional e não tem conseguido. "No futuro teremos 15 estádios para serem geridos e será que as empresas se interessarão em gerir este legado?", questionou, lembrando que é preciso transformar o legado em algo rentável e não em elefantes brancos.

Competições do futebol brasileiro

O último painel do Seminário: As competições e a presença de público nos estádios, coordenado pelo deputado Carlaile Pedrosa (PSDB-MG), foi apresentado pelo Diretor de Competições da CBF, Virgílio Elísio, que alertou que o Brasil deve aproveitar a Copa para melhorar campeonatos locais. Para ele é preciso aproveitar o "efeito Copa" para melhorar as competições de futebol, a gestão dos campeonatos e a infraestrutura dos quase 700 estádios que existem em todo o País.

Segundo afirmou a Copa do Mundo é toda embasada em profissionalismo e, portanto, é preciso que isso se reflita na organização dos campeonatos e jogos de futebol no Brasil.

"As partidas realizadas no País poderiam ser mais bem planejadas mas, mesmo assim, ainda é necessário que sempre exista um plano de ação que leve em conta a segurança, o transporte e a logística para a competição", afirmou.

Para Virgílio, os jogos precisam ser vistos como considerados eventos e os torcedores, clientes. "Os estádios, inclusive os do interior, deveriam ter a mais completa higiene nos banheiros, nas lanchonetes, nas comidas oferecidas", citou, ao reforçar a necessidade de melhorar o conforto nas arenas. Ele acentuou que a maior parte dos estádios brasileiros tem capacidade para até 10 mil torcedores, mas apenas 8,3% comportam de 15 mil a 20 mil pessoas. Para melhorar essa situação poderia se abrir linhas de financiamento, como do BNDES, destinadas a melhorar a infraestrutura dos pequenos estádios.

O vice-presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Luciano Hocsman, sugeriu que a final da Copa do Brasil fosse realizada em partida única, nos moldes das competições européias, para diminuir a ociosidade nos estádios da Copa do Mundo cujo futebol não atrai grandes públicos aos estádios.

Já o presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Evandro Carvalho, destacou o sucesso de público do Campeonato Pernambucano de futebol deste ano e informou sobre as ações a serem realizadas no estado para atrair mais público aos estádios.

O representante da Federação de Futebol do Mato Grosso do Sul, Romeu Castro, falou da importância de integrar as cidades que não serão sedes da Copa do Mundo para que também possam colher os frutos da realização do evento no Brasil.

Avaliação

O deputado José Rocha, numa avaliação final do seminário, disse que o objetivo foi alcançado, uma vez que foi lançado para a sociedade brasileira o desafio de acirrar o debate sobre a questão. Para ele, o seminário foi um sucesso e sua repercussão pode ser aferida pelos destaques dados pela mídia nacional ao evento.

Luiz Paulo Pieri
Assessoria de Imprensa da CTD
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