CTD debaterá sobre escolinhas de futebol e a exploração do trabalho infantil
A audiência debaterá sobre as escolinhas de futebol no Brasil, centros nos quais, muitas vezes, as crianças ficam vulneráveis à ação de empresários, iludidas pelo sonho de se tornarem "craques, vitoriosos, ricos e famosos". O resultado contrário a essa promessa provoca a dispensa do "futuro atleta", frustrando-o prematuramente na carreira profissional.
O assunto é antigo. Já na CPI da CBF Nike, em 2001, na Câmara dos Deputados, identificaram casos em que centenas de jovens em dificuldades financeira foram explorados por empresários. Os negócios, que ocorrem ainda hoje, promove verdadeiro tráfico de menores.
"Muitos jovens brasileiros têm o sonho de se tornar jogadores de futebol para conseguir uma oportunidade nas vagas das categorias de base de clubes profissionais, os jovens estão dispostos a mudar de suas cidades e deixar suas famílias", explicou a deputada Flávia Morais, justificando seu requerimento para debater sobre o assunto.
Representante da Organização Internacional do Trabalho (OIT) defende que o sistema de seleção e de organização das categorias de base de todos os clubes de futebol do Brasil seja revisto.
Para o coordenador do Programa Internacional para Eliminação do Trabalho Infantil da OIT, Renato Mendes, o episódio é apenas mais um no bojo de um contexto bem mais amplo em que violências graves contra crianças e adolescentes são rotineiras. Ele defende que são necessárias mudanças profundas nas divisões de atletas mais jovens.
"São comuns os atravessadores que se aproveitam da ilusão e desejo das crianças, e da necessidade das famílias. Existe um processo migratório muito intenso e muito sério ligado à transferência de crianças com olheiros que buscam potenciais talentos, especialmente para os clubes grandes. E são comuns os relatos de casos de violação sexual dessas crianças, especialmente dos meninos nas escolinhas de futebol", disse Renato Mendes ao site Repórter Brasil. Segundo ele, as crianças devem ter direito a ensino, convivência familiar e comunitária, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
A preocupação aumenta em função da realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014 e das Olimpíadas em 2016.
"O Brasil precisa ter uma política para o exercício do direito ao esporte que não seja confundida com a busca desenfreada de novas celebridades esportivas.
Existe resistência em se tocar no tema especialmente em relação aos eventos esportivos mundiais que acontecerão no Brasil", observa Renato, da OIT. "O estímulo para a prática de esportes está sendo tão alto que, se não houver um cuidado especial, pode ocorrer uma corrida desenfreada sem os cuidados necessários em relação à educação e formação dos atletas", complementou ao Repórter Brasil.