Crises afetam o turismo brasileiro

06/12/2007 18h30

Não é por falta de sugestões, nem de dinheiro, que o turismo no Brasil não alavanca. No IX Congresso Brasileiro da Atividade Turística (Cbratur), promovido nos dias 4 e 5 passados, pelas comissões de Turismo e Desporto da Câmara; de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado; pela Frente Parlamentar do Turismo; e pelo Sistema CNC-Sesc-Senac, com apoio do Ministério do Turismo, foi amplamente discutido o tema "O Turismo e a Crise dos Transportes no Brasil: ameaças e oportunidades".
A abertura do evento contou com a presença da ministra do Turismo, Marta Suplicy, mas os debates só ocorreram no segundo e último dia. Pela manhã, o tema discutido foi a crise no transporte aéreo. Os trabalhos foram conduzidos pela presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara, deputada Lídice da Mata (PSB-BA). No debate, o chefe de gabinete do Ministério do Turismo, Mário Moysés, defendeu mais investimentos na aviação regional brasileira, de forma a desconcentrar o mercado e reduzir os efeitos da crise aérea. Ele lembrou que a aviação regional já cobriu 400 cidades no país e hoje atende apenas 140 municípios.

Crise aérea
O presidente do Fórum de Secretários Estaduais de Turismo, Virgílio Loureiro, reclamou que hoje os vôos estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste e também defendeu mais investimentos na regionalização do transporte aéreo. "Muitas vezes não existe demanda para um vôo de 180 lugares, mas temos, em muitas cidades do Nordeste, demanda para vôos de 50 lugares", explicou ele. Segundo Mário Moysés, o Ministério do Turismo vem fazendo investimentos em alguns estados do Nordeste para permitir a chegada de mais vôos. Como exemplo de locais que já recebem investimentos, ele citou Aracati (CE), Parnaíba (PI) e a região dos Lençóis Maranhenses.

Lídice da Mata defendeu a regulação do setor aéreo brasileiro pelo governo. A parlamentar é favorável a normas contra atrasos e cancelamentos de vôos. O consultor do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) George Ermakoff, no entanto, mostrou-se contrário a regulações. "O Estado não pode mudar a regulação o tempo todo, senão os investidores vão embora", disse. Para ele, o governo deveria diminuir sua presença no setor e ouvir mais as empresas aéreas na hora de discutir regras.

O major-brigadeiro-do-ar Allemander J. Filho, representante do Ministério da Defesa no 9º Cbratur, defendeu o pacote de medidas anunciado na terça-feira passada pelo ministro Nelson Jobim para inibir os atrasos nos vôos e criar compensações para os passageiros no Brasil. Uma das medidas em estudo, lembrou, é colocar um limite de 30 minutos no atraso de um vôo. A partir daí, a empresa aérea teria que pagar uma compensação ao passageiro prejudicado.

Segundo Allemander, atrasos e cancelamentos de vôos têm sido comuns. "Nós crescemos muito além do que crescíamos antes. Com as passagens mais baratas, mais pessoas viajaram e a infra-estrutura não acompanhou esse crescimento. Por isso, vamos gerenciar a demanda, sim, mas garantir segurança e pontualidade na prestação dos serviços", disse ele. A professora Maria de Lourdes Rollemberg, do Centro de Excelência do Turismo da Universidade de Brasília (UnB), apresentou um estudo sobre o impacto do setor aéreo no turismo e na economia. Segundo ela, o setor aéreo aumentou sua participação na economia entre 2003 e 2006, passando de 0,62% para 0,86% do PIB. "Isso não é pouco, é o mesmo peso da indústria automobilística", disse.

Apesar de toda a discussão, no mesmo dia, em outra reunião, as empresas aéreas ameaçaram aumentar o valor das passagens caso as propostas do ministro Jobim sejam praticadas. Assim não dá, não é mesmo, leitor amigo.

A crise do transporte terrestre
"A crise no transporte terrestre e as conseqüências para o turismo" foi outro tema discutido. O representante do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit), Miguel de Souza, informou que os trechos rodoviários de maior fluxo no transporte de turistas serão prioritários no programa de recuperação de estradas federais. "Alguns trechos já estão em recuperação, outros em fase de estudo de viabilidade econômica, e outros em licitação", informou.

Entre as obras já em andamento, Miguel de Souza destacou as das rodovias BR-101 (que vai do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte), BR-364 (que corta os estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre) e Transnordestina. Esses trechos, em sua avaliação, são estratégicos na integração do transporte entre as diversas regiões do Brasil. O presidente da Conselho Mundial de Turismo e Viagens (WTTC, na sigla em inglês), Jean-Claude Baumgarten, destacou a importância das ferrovias como instrumentos de integração de transportes para turismo. "Além de eficiente, o transporte ferroviário causa baixíssimo impacto ambiental", reforçou.

Falta de segurança nas estradas
O presidente da Associação Nacional de Empresas de Turismo de Fretamento (Antur), Martim Ferreira de Moura, disse que a falta de segurança compromete o turismo interno. "Ao viajar de ônibus, os passageiros temem, além dos buracos nas estradas, os assaltos e a falta de segurança nas estações rodoviárias", destacou. Ele cobrou maior atenção do poder público na conservação das vias de transporte e no reforço do policiamento. A educação para o trânsito foi apontada pelo diretor-geral do Departamento de Polícia Rodoviária Federal, Hélio Cardoso Derenne, como condição para o fortalecimento do setor. Ele destacou os prejuízos causados pelos acidentes de trânsito no Brasil ao setor turístico. "Investir na prevenção desses acidentes e aumentar a segurança para os turistas é fundamental para o desenvolvimento do setor", afirmou.

Atendimento e serviços ao turista
O secretário de Turismo de Portugal, Bernardo Trindade, destacou a necessidade de investimentos contínuos em capacitação técnica. "Não basta termos boas estradas, hotéis confortáveis e meios de transportes eficientes, se não houver pessoal qualificado para atuar em todos os serviços turísticos", afirmou. Ele ressaltou que a qualidade da prestação de serviços é um dos fatores mais importantes para estimular o fluxo de visitantes.

Falta de sinalização nas estradas
O presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis, José Adriano Donzelli, reivindicou a simplificação das exigências para aluguel de veículos por turistas estrangeiros. Segundo ele, o Brasil exige, além da carteira internacional de motorista, a tradução oficial do documento. "Até o condutor de nacionalidade portuguesa enfrenta essa dificuldade no Brasil, pois a carteira dele não é aceita pelas autoridades", comentou. Além disso, Donzelli criticou a falta de sinalização das estradas, o que, em sua opinião, é outro fator que dificulta o aluguel de veículos pelos turistas estrangeiros. "O Brasil precisa adotar medidas para facilitar a mobilidade do turista no País, em vez de dificultar", reiterou.

Eventos Brasil 2007 mobiliza "trade"
Termina nesta sexta o 24º Congresso da Abeoc - Eventos Brasil 2007, que acontece no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo. Representantes das principais entidades internacionais do setor de eventos se reuniram desde quarta-feira. Com o objetivo de apresentar as entidades aos profissionais do setor, estavam representadas no debate a International Congress & Convention Association (ICCA), a International Association of Professional Congress Organizers (Iapco), a Confederación de Entidades Organizadoras de Congresos y Afines de América Latina (Cocal) e a Meeting Professionals International (MPI).

As informações são da Firma, assessoria de imprensa do evento: "A MPI é a caçula das entidades internacionais representadas aqui no Brasil", afirmou Elizabeth Wada. Apesar de ter sido criada em 1972, nos EUA, e de ter 23 mil membros em 65 países, congregando pessoas físicas de toda cadeia produtiva da área de eventos, a entidade chegou recentemente ao Brasil e conta com apenas oito associados até o momento. Como primeiro passo da entidade no Brasil, a MPI realizou uma pesquisa com grandes empresas para entender como é a tomada de decisões para eventos corporativos no Brasil.

"Concluímos que o segmento de viagens corporativas é especializado e muito promissor, mas ainda temos que investir muito em profissionalização para chegar a um patamar de padrão internacional", ressaltou. Beth convidou os presentes a participarem do primeiro evento da entidade no Brasil, que acontece no dia 7 de março de 2008, no Gran Meliá Mofarrej, em São Paulo, e deve contar com presenças internacionais de peso.

A gerente regional da América Latina da ICCA, Maria José Alvez, também convidou os empresários presentes ao Eventos Brasil 2007 a comparecerem ao principal congresso da ICCA, que acontece de 7 a 11 de novembro de 2008, em Victoria, no Canadá. "Vocês são nosso convidados para conhecer a ICCA por dentro", enfatizou. Principal entidade internacional do setor, a ICCA tem atualmente mais de 800 associados. Na América Latina são 59, sendo 21 no Brasil. "A ICCA é uma comunidade global da indústria de eventos, que tem o objetivo de fazer de seus membros líderes em suas áreas, dando-lhes vantagens competitivas, como oportunidades de negócios, educação, networking e promoção", destacou a gerente.

Sofia Aristizabal, presidente da Cocal, informou que a entidade passa por um período de modernização. Com 13 países membros, a entidade, criada em 1985, congrega entidades de classe - no caso do Brasil, a Abeoc. "Queremos consolidar a América Latina como destino para a realização de eventos internacionais. Por isso nosso foco é em capacitação. Estamos de olho nos países centro-americanos para que eles se associem, como o Panamá, Guatemala, Honduras, El Salvador. Também estamos consolidando nosso portal, para que ele seja um canal interativo e informativo aos afiliados", ressaltou Sofia. O portal será lançado do 25º Congresso da Cocal, que acontece em março de 2008, no Uruguai, com o tema "Como otimizar o negócio de Congressos na América Latina".

A Iapco foi representada por Juarez Carvalho Filho, diretor da Abeoc e sócio da entidade desde 1998. Diferentemente da MPI, a Iapco agrega apenas empresas organizadoras de congressos - 106 no total. A entidade prima pelo padrão de qualidade de seus membros e, para isso, exige uma série de pré-requisitos da empresa interessada em se associar. "Depois da inscrição, esses requisitos são fiscalizados. Eles inspecionam tanto a empresa quanto um evento internacional que esteja sendo organizado por ela", explicou Juarez. Além de estar presente em feiras de negócios em todo o mundo, a entidade prioriza o investimento na qualificação de seus membros, oferecendo cursos, fóruns e documentos.

A presidente da Cocal, Sofia Aristizabal, apresentou a entidade em uma palestra sobre entidades internacionais do setor de eventos e falou um pouco sobre o papel do Brasil no mercado da América Latina. "O Brasil ocupa a primeira posição dentre os países latino-americanos que mais realizam eventos anualmente e deve permanecer nessa posição por muito tempo. Por isso mesmo, ele tem uma grande responsabilidade no desenvolvimento do segmento de Turismo de Negócios e Eventos em toda a região. Outros países seguem modelos aplicados aqui, como é o caso da Colômbia, que adotou um modelo de incentivo à captação de eventos internacionais semelhante ao que a Embratur vem desenvolvendo no Brasil", explicou Sofia.

Para a presidente da Cocal, a América Latina ainda é um destino jovem, com forte identidade cultural, mas ainda imaturo em termos gerais. "Estamos crescendo. Brasil, Argentina e Chile têm forte tradição no setor de Eventos, mas já vemos outros mercados despertarem. O Peru e o Panamá, por exemplo, adotaram recentemente políticas governamentais para o setor. O México, que costumava olhar muito para o mercado norte-americano, agora está atentando para o latino-americano. Já representamos 8% do mercado mundial, mas temos capacidade para ir muito mais longe. Necessitamos investir fortemente na profissionalização do setor e na rotatividade de informação entre os países latino-americanos", concluiu.

Fonte: Marcia Brito (Turismo e Negócios - Monitor - Mercantil Digital)