Crise do setor aéreo afetou resultados das empresas de turismo, diz diretor da Embratur
Alex Rodrigues
Brasília - O diretor de Estudos e Pesquisas do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), José Francisco de Salles Lopes, admite que se não fosse pela crise da aviação comercial brasileira, o setor turístico poderia crescer até o dobro do registrado pela 16ª edição do Boletim de Desempenho Econômico do Turismo, realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com a Embratur.
“Hoje, temos um crescimento do número de usuários transportados em torno de 8%. Com certeza, ele chegaria a 15%. E isso falando apenas em termos de usuários domésticos [brasileiros]”.
O diretor da Embratur minimiza os transtornos para o setor turístico causados por atrasos e cancelamentos de vôos, e da percepção de insegurança após os acidentes com aviões da Gol e da TAM, e diz que "é preciso desmitificar" a chamada crise do setor aéreo, que, segundo avalia, foi um reflexo da incapacidade das empresas aéreas de atender a demanda represada. “Se houvesse mais aviões, mais brasileiros estariam viajando”, disse Lopes.
Mas para o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Carlos Alberto Amorim Ferreira, é necessário ver o resultado da pesquisa com ressalvas. “Acho otimista esses números de crescimento. Ao mesmo tempo, acho que mesmo sendo verdadeiros, o otimismo é sem sentido, já que poderiam ser muito melhores”.
Ferreira reconhece que a atual conjuntura é boa para o setor e reconhece que o Ministério do Turismo tem feito um bom trabalho ao divulgar o país no exterior e promover o turismo doméstico, mas cobra do governo uma solução para os entraves que desencorajam as pessoas a viajar, como os problemas de infra-estrutura nos aeroportos.
“Crescemos bastante nos últimos anos, mas isso porque partimos de uma base muito pequena. E continuamos muito abaixo do que deveríamos estar”, diz.
Ferreira questionou a pesquisa quanto ao crescimento do faturamento das empresas. “Não sei em que base foi feita essa pesquisa, mas tenho dúvidas quanto ao que diz sobre o crescimento do faturamento. Eu diria que o turismo doméstico não cresceu, que o pessoal está viajando menos. O único aumento foi nos cruzeiros marítimos e também no número de viagens para o exterior, devido ao fenômeno do dólar barato. As agências de viagem não vão contratar funcionários, a não ser em casos isolados”, afirma.
Segundo o estudo da FGV-Ebape (Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas) as menores expectativas de contratação foram registradas justamente entre as operadoras de turismo. Enquanto 100% das empresas aéreas ouvidas disseram ter intenção de contratar mais trabalhadores, as agências disseram que vão ter que demitir.
O vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih), Eliseu Barros, cita dados da ocupação da rede hoteleira do Ceará para refutar os números do estudo. “Em 2007 teremos uma queda entre 6% e 8%, comparando com 2006”.
De acordo com Barros, a média estadual de ocupação, em 2005, foi de 65% dos quartos. Em 2006, o percentual caiu para 60%. “Em 2007, nós acreditamos que deveremos fechar na faixa de 54%, o que é mais ou menos a realidade de toda a Região Nordeste”.
De acordo com Barros, a situação dos aeroportos brasileiros gerou uma situação de insegurança que se estendeu durante todo o ano. “Isso desmotivou demais os turistas a viajar. Principalmente para longas distâncias”.
De acordo ainda com Barros, com a valorização do real, muitos brasileiros optaram por viajar para o exterior, o que prejudicou o setor hoteleiro. “Não estamos nem otimistas, nem pessimistas. Estamos com a luz amarela acesa”, disse, garantindo que não houve aumento do faturamento dos hotéis.
Fonte: Agência Brasil