COPA 2014: faltou planejamento para atender pessoas com deficiência
Pela manhã, foi abordado o tema "Direito humano ao lazer e a situação da acessibilidade do turismo para as pessoas com deficiência". Os especialistas deixaram evidente o que se confirmaria na audiência da tarde: ao planejarem a Copa do Mundo no Brasil, os gestores não consultaram especialistas para preparar as cidades, em geral, com acessibilidade a todas as pessoas.
Mais tarde, representantes das Secretarias Extraordinárias da Copa de Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza apresentaram seus planos de preparação à Copa das Confederações e confirmaram os pontos destacados pelos convidados do evento matutino. O presidente da CTD, deputado Romário (PSB-RJ), apontou algumas inconsistências nos planejamentos expostos, sobretudo em relação à acessibilidade, uma de suas bandeiras no Parlamento.
Segundo o IBGE, 45 milhões de pessoas - 23,9% da população brasileira - têm algum tipo de deficiência, das mais discretas às mais severas.
"Na preparação para a Copa do Mundo, repete-se o que aconteceu com os Jogos Pan e Parapan-americanos de 2007, no Rio de Janeiro", disse a deputada Rosinha da Adefal (PT do B-AL), cadeirante. "Construíram uma Vila para os atletas, bonita, mas sem o mínimo de conforto para as pessoas com deficiência. Encerrado o Pan, tiveram que fazer adaptações para receber os atletas paraolímpicos. Houve casos em que cozinhas dos prédios da Vila foram transformadas em banheiros, pois não havia espaço nas portas para passar uma cadeira de rodas", lembrou a deputada. "Neste caso, não ficou legado algum, sem falar nos locais das competições, onde a acessibilidade também era mínima".
O secretário Nacional de Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, Antônio José Ferreira, disse que discutir temas como acessibilidade no turismo ainda é um tema novo diante dos problemas que são antigos. "A adaptação da rede hoteleira e a quantidade de leitos acessíveis aos deficientes é um desafio e a oferta desses espaços nos grandes eventos deverá ser maior".
Membro da Sociedade para Viagens Acessíveis e Hospitalidade (Society for Accessible Travel & Hospitality), Scott Reis, reconheceu que houve avanços no Brasil. "Ainda não é uma maravilha, há dificuldades, mas muitos países não estão fazendo o que se faz por aqui".
Para ele, é preciso investir nas companhias aéreas, por exemplo, para facilitar a vida dos clientes com deficiência. "É preciso investir em aeroportos, hotéis, restaurantes, locais turísticos, arenas de competições, bancos, supermercados, transportes. É uma cadeia que precisa estar em condições para receber esse novo público".
Wilken José Souto Oliveira, do Ministério do Turismo, disse que o governo trabalha com esse tema desde 2003. Um projeto que está sendo desenvolvido premiará casos de sucesso nos vários segmentos que atendem as pessoas com deficiência. Além disso, também será realizado um seminário nas 27 capitais para discutir sobre como bem receber e atender o turista idoso ou com capacidade reduzida.
SECOPA
Na audiência pública da tarde, conduzida pelo presidente da CTD, deputado Romário (PSB-RJ), os representantes dos governos municipais e estaduais de Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza responderam, principalmente, sobre o avanço das obras de acessibilidade e legados públicos.
O deputado federal licenciado, Domingos Neto, disse que a Prefeitura de Fortaleza "executa melhoramentos nas obras de infraestrutura, como no sistema viário, ciclovias e inclusão de sistema de transportes, como o BRT."
Jorge Pereira de Jesus, da Secopa da Bahia, que apresentou dados sobre o estádio, já concluído, afirmou que na área de transportes fica uma frustração: "Há anos tentamos construir o metrô, mas há um impasse entre a União, o Estado e o Município que só agora está chegando ao fim para que o projeto seja executado".
Já o estádio Mineirão, em Belo Horizonte, passou por testes de jogos e três eventos culturais. "Mas ainda se faz ajustes de engenharia", disse Mário Guimarães Neto, gerente do Programa Copa do Mundo 2014 em Belo Horizonte. "Há algumas dificuldades, como a falta de intervenções nas licitações para obras do aeroporto, por exemplo. As três licitações até agora foram desertas", afirmou.
Para o deputado Romário, se há atrasos "é porque faltou planejamento, até porque as obras no aeroporto são um puxadinho". O parlamentar também lembrou que o Ministério Público de Minas Gerais pediu, justamente hoje, o fechamento do estádio Mineirão até que sejam corrigidas distorções, como a falta de sinalização para deficientes, assentos para pessoas obesas etc.
"Se aplicassem a legislação teriam evitado problemas que estão enfrentando. O Brasil ratificou a Convenção da Pessoa com Deficiência e tudo que é construído deve ser com a visão global, isto é, para todos. Se tivéssemos esse princípio em tudo, obras e serviços, teríamos um mundo para todos e não para pessoas separadas. A acessibilidade não é apenas uma questão física - cegos, mudos, pessoas com deficiência físicas ou mentais - mas a principal barreira é a falta de atitudes. É preciso treinar pessoas, desde a cúpula até quem vai servir o refrigerante no estádio ou no hotel, para que entendam como é lidar com esse público diferenciado", concluiu a deputada Rosinha.
A Comissão de Turismo e Desporto volta a se reunir nesta quarta-feira, às 15h, para mais uma audiência pública, desta vez com o presidente da Autoridade Pública Olímpica, Márcio Fortes, e o presidente da Embratur, Flávio Dino.
Foto: Antônio Araújo