Confirmado como sede, Brasil precisa cumprir exigências da Fifa e promessas feitas
Bernardo Pombo
Mãos à obra!
RIO - Por ora, vale fazer festa pela escolha do Brasil como sede da Copa de 2014 . Mas a chancela dada pela Fifa nesta terça-feira não é garantia de que a 20ª edição do maior evento do futebol mundial será mesmo realizada aqui. Se o governo brasileiro e o comitê organizador do Mundial não cumprirem todas as exigências da Fifa e as promessas feitas no caderno de encargos durante os próximos cinco anos, a entidade pode transferir a competição para outro país.
A confirmação oficial da sede do 20º Mundial só será feita mesmo no dia 1º de junho de 2012, data limite, imposta por contrato, para uma eventual mudança. Mas a Fifa nem precisa esperar tanto e a qualquer momento pode desclassificar o Brasil se entender necessário. O mesmo pode acontecer, até junho do ano que vem, com a África do Sul em relação à Copa de 2010. Para o jornalista de O GLOBO, Jorge Luiz Rodrigues, o Brasil terá que cumprir tudo à risca para não perder o direiro de sedir o Mundial.
- Só o Brasil pode derrotar o Brasil. A Fifa não aceita aquela história de não cumprir prazos. A entidade faz análises trimestrais para ver se as coisas estão andando. Qualquer coisa fora do planejamento ou das datas estipuladas, ela manda uma notificação exigindo explicações em 72 horas. Tudo será fiscalizado - lembra.
Para não ficar refém dos lugares escolhidos como sede da sua principal competição, a Fifa tem na manga sete cartas: são os países que a entidade considera capazes de organizar em até dois anos uma Copa do Mundo. Alguns já têm toda a estrutura necessária por terem recebido um Mundial recentemente, como Alemanha (2006), Japão e Coréia do Sul (ambos em 2002), França (1998) e Estados Unidos (1994). Os outros países a quem a Fifa pode recorrer para uma substituição de última hora são Inglaterra e Canadá.
- A Fifa se reúne no dia 1º de junho de 2012. Se a organização não estiver andando, a entidade retira a candidatura imediatamente. A Copa do Mundo tem uma particularidade porque o Brasil terá que realizar em cinco anos o que faria em 25 ou 30. Ou seja, isso seria muito bom para ajudar no desenvolvimento do país - diz Jorge Luiz Rodrigues.
Copa já mudou de sede uma vez, em 86
O jornalista da Espn Brasil e Rádio CBN, Juca Kfouri, é sucinto na sua análise sobre o que pode comprometer a organização da Copa do Brasil.
- A nenhuma confiabilidade dos cartolas que estão à frente da iniciativa, o que nos permite prever uma sucessão de escândalos nos próximos sete anos - acredita Kfouri.
Se uma mudança de sede acontecer, não será a primeira vez. A Copa do Mundo de 1986 deveria ter sido disputada na Colômbia, mas o país perdeu esse direito por causa de problemas econômicos - e extra-oficialmente, também pela situação de extrema violência que imperava nas principais cidades, especialmente devido ao narcotráfico. A competição, então, foi realizada no México, que já havia sido sede do Mundial em 1970.
Sorte dos torcedores locais. Dezesseis anos depois de terem visto Pelé, no auge da carreira, liderar o Brasil na conquista do tricampeonato, os mexicanos puderam apreciar novamente outro gênio da bola em seu grande momento: Maradona, que levou a Argentina ao bi mundial. E, ao que tudo indica, se o Brasil não sediar a Copa de 2014, será muito mais difícil depois. Jorge Luiz Rodrigues explica.
- A oportunidade está aí e o Brasil não poderá desperdiçá-la, porque com o fim do rodízio de continentes a chance de sediar a Copa depois é zero. Seria um vexame social e moral se o país perder essa nomeação em 2014. Mas para não perder precisará de competência, organização e investimento. A Alemanha, que tem as melhores rodovias do mundo, investiu quatro bilhões de euros apenas nas suas estradas para a Copa de 2006. A população brasileira vai ganhar muito com isso. Vai ter que melhor rapidamente a segurança, a educação, a mão-de-obra, o transporte e assim por diante. O país terá que se desenvolver rapidamente - encerrou.
Fonte: O Globo Online