Brasil está atrasado em programas de combate ao doping no esporte

Com 5.600 controles por ano, cerca de 4.000 só no futebol, o Brasil está atrasado cinco ou dez anos no combate à prática do doping. A revelação, do médico Eduardo Henrique de Rose, uma das maiores autoridades mundiais no assunto, foi durante a audiência pública na Comissão de Turismo e Desporto (CTD) da Câmara dos Deputados, atendendo a requerimento do deputado Romário (PSB-RJ).
25/06/2013 20h20

CTD

Brasil está atrasado em programas de combate ao doping no esporte

Audiência Pública na CTD

Da audiência, realizada nesta terça-feira (25 de junho) também participaram o diretor executivo da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), Marco Aurelio Klein, e o presidente da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag), Ademir Valério da Silva.

Comparativamente aos resultados internacionais, o Brasil ainda tem um índice baixo de casos positivos, em torno de 0,75% sobre os exames realizados, contra 1,2% registrados na área internacional.

De Rose disse que, para o Brasil ter um efetivo combate ao doping será necessário, além de legislação eficiente, uma investigação policial, como ocorre na França, por exemplo. Ele lembrou o caso de velocistas do atletismo, em São Paulo, flagrados pelo uso Eritropoietina (EPO). "Essa droga não é comercializada em farmácias. Portanto, se alguém usou é porque a EPO foi roubada de hospitais e vendida para os atletas." E conclui: "Não é só identificar o usuário do doping, mas chegar a quem está oferecendo o produto e como ele chega aos atletas. Mas nós não temos autoridade para essa investigação, por isso dependemos da ação policial".

Agência

O diretor executivo da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), Marco Aurélio Klein, afirmou que o novo órgão do Ministério do Esporte elaborou um planejamento com cinco pontos chaves: Informação, educação, prevenção, inteligência e ação.

"O objetivo é tornarmos o Brasil livre do doping, chegando aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, sem casos registrados", disse o dirigente. E concluiu: "Nosso objetivo é orientar o atleta para que chegue limpo à competição, pois isso é questão de valores e de ética no esporte, com todos competindo de maneira justa".

Futebol

O deputado Romário questionou sobre a validade dos exames antidoping realizados nos jogadores que disputam todas as categorias do Campeonato Paulista, promovidas pela Federação Paulista de Futebol. Os exames são realizados no Laboratório da USP, que não é credenciado pela Agência Mundial Antidoping (Wada). "Esses resultados não têm valor para a Wada", afirmou De Rose. "Apenas o laboratório Ladetec, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é credenciado pela Wada".

Marco Aurélio Klein, por sua vez, confirmou que essa irregularidade é uma infração ao Código Mundial Antidopagem. O representante da CBF, Fernando Solera, apesar de ter confirmado presença à audiência, não compareceu. "Faltou coragem para vir debater o tema", afirmou Romário.

O presidente da CTD lembrou que Solera ocupa a mesma função na federação paulista, configurando tráfico de influência. E alertou que essa prática é avalizada pelo presidente da Federação Paulista, Marco Polo Del Nero, também vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol.