Arenas

17/11/2008 16h00

Rafael Zanette
Você com certeza já deve ter ouvido falar a respeito das arenas nos últimos anos. Virou uma espécie de modismo falar deste tema, ainda mais depois que a Fifa declarou que a Copa do Mundo de 2014 será no Brasil. Virou promessa de campanha eleitoral e o projeto de quase todo clube de futebol a construção das arenas multiuso.
Todos querem ser candidatos a sede da Copa, portanto é comum você entrar no site oficial do clube e ver o projeto de sua arena, com um mega-estacionamento, acesso fácil, capacidade para 20, 30 ou até 60 mil pessoas. O empreendimento é sempre revolucionário e irá mudar a vida do clube, será?
Em primeiro lugar, não são todas as cidades que podem ser sedes de uma Copa do Mundo e a escolha está ligada a outras características estruturais que fogem do controle dos clubes, como rede hoteleira, trânsito, viabilidade de acesso, sinalização, aeroporto, etc. Portanto, não adianta querer fazer a melhor arena num local onde não há um aeroporto internacional ou não tem rede hoteleira capaz de suprir a demanda de um evento com tamanha estrutura.
Segundo, a viabilização das arenas não é algo simples. Talvez seja até fácil fazer o projeto e colocar no site como será a futura arena de seu clube ou cidade. Mas o problema está na origem do recurso e o que se pensa é que um clube particular não pode querer que esse dinheiro venha do governo. Porque se abrir exceção para um clube, os outros se sentirão no direito de querer algo semelhante. Aí, abre-se um leque enorme, pois outros esportes também teriam este direito. Assim, a discussão já foge da esfera esportiva e entra nos aspecto social, como, por exemplo, a reforma de uma escola particular ou uma praça de recreação.
O fato é que no Brasil os gestores vão na “onda” de algumas tendências mundiais e fazem projetos fora de suas realidades. Para começar a pensar numa arena, deve-se avaliar sua real necessidade e se o empreendimento pode ser rentável. O próximo passo é fazer uma pesquisa de mercado para saber sobre a viabilidade de um projeto desta natureza. Em seguida, é preciso fazer um planejamento para que a arena seja auto-sustentável e como será erguida. E após a finalização, o que ela poderá gerar de receita para a cidade e/ou para o clube.
Um ponto importante é adaptar as arenas à realidade local. Os grandes complexos esportivos mundiais quase sempre possuem nomes de grandes empresas, o chamado naming right, que pode ser uma excelente fonte de receita. Porém, no Brasil esse conceito perde um pouco valor, pois a Rede Globo não chama a arena pelo nome da empresa. Como no caso do Atlético-PR, que tinha seu complexo esportivo chamado Kyocera. No entanto, a Globo chamava apenas de Arena da Baixada. Ou seja, se o Morumbi passar a se chamar Arena Pão de Açúcar, a mídia provavelmente não a chamará pelo nome da empresa.
Outro ponto é a capacidade da arena. Não adianta querer fazer um projeto para R$ 40 mil pessoas se a média de público é 3 mil. Se uma cidade tem 300 mil habitantes e outra tem 10 milhões, o projeto tem que ser diferente.
Enfim, são vários aspectos que precisam ser analisados, até porque o fato de ser uma arena é um conceito diferente de um estádio ou de um ginásio. Tudo que pode gerar receitas para o clube vindo daquele espaço deve ser pensado, desde o estacionamento até os ingressos para os jogos, além dos estabelecimentos comerciais que podem funcionar com ou sem os jogos. Vários tipos de eventos podem ser realizados naquele espaço, como shows musicais e congressos. Enfim, os jogos de futebol são apenas parte de um universo muito mais amplo.
A rotatividade de eventos talvez seja o grande segredo do Madison Square Garden, em Nova York, uma das melhores arenas do mundo. Lá podem ser realizadas desde lutas de boxe até jogos de basquete. Por isso, os clubes das mesmas cidades deveriam se unir num mesmo projeto, deixar a rivalidade de lado e realizar seus jogos numa mesma arena. Com isso, eles diminuiriam os custos e aumentariam a receita.
Portanto, as arenas são uma tendência natural no esporte brasileiro e uma excelente fonte de receita. Algo que já ocorre nos países mais desenvolvidos e que por aqui, virá com toda força, principalmente com o impulso da Copa de 2014. No entanto, é necessário que os clubes e as cidades façam uma pesquisa de mercado, um planejamento e que busquem recursos na iniciativa privada, sem se esquecerem de adaptar à realidade local.

Fonte: www.fanaticosporfutebol.com.br