Aeroportos: 365 dias depois
Arquitetura arrojada, engenharia de primeiro mundo, no entanto, funcionamento precário. O Tribunal de Contas da União (TCU) já encontrou irregularidades no uso de recursos nas obras de expansão dos aeroportos de Guarulhos, Vitória e Macapá
Um ano depois da maior tragédia da aviação brasileira e das inúmeras promessas e medidas anunciadas para colocar a casa em ordem nos aeroportos brasileiros é triste constatar que poucas ações foram colocadas em prática pelo governo e, ao que tudo indica, teremos problemas no percurso. A queda do preço das passagens e o gigante crescimento do número de passageiros – estima-se que em 2010 só Congonhas terá 22,1 milhões de embarques e desembarques - , estão em direção oposta aos investimentos em infra-estrutura nos terminais. Se não, vejamos: os aeroportos de Guarulhos, Congonhas e Brasília, responsáveis por 40% do transporte aéreo de passageiros do país continuam operando acima da capacidade. As promessas de reduzir em 40% o movimento dos vôos no aeroporto de Congonhas, o mais movimentado do país, não foi cumprida – ficando em apenas 20% -, já que a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) liberou conexões e escalas e o aeroporto voltou a ser um centro de distribuição de vôos. O número de vôos com atraso, que foi estratosférico no auge da crise aérea em meados do ano passado, continua entre 30% e 35%, segundo a própria Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).
Guarulhos, que tem uma capacidade de 16,5 milhões de passageiros/ano, operou o ano passado no vermelho: 18,8 milhões. A conclusão das obras do novo terminal, que ampliará a capacidade para 29 milhões de pessoas, está prevista somente para 2014. É só fazer a equação: estudos apontam que em 2015 o número de passageiros no aeroporto André Franco Montoro (Guarulhos) será de 30.8 milhões.
A varejo, as deficiências nos aeroportos não param aí: nada menos que 17 pistas de capitais brasileiras não dispõem de equipamentos de aterrisagem por instrumentos (ILS), nove operam sem radar (Boa Vista, Ponta Porã, Porto Seguro, Porto Velho, Ribeirão Preto, Rio Branco, São José do Rio Preto, Uberlândia e Vitória) e três (Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre) têm pistas menores que o recomendado.
Do Rio de Janeiro também vem chumbo grosso. Recentemente o governador Sérgio Cabral pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a administração do Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim, na Ilha do Governador, passasse a ser do governo estadual. Segundo Cabral “não dá mais para continuar com esse lenga-lenga da Infraero. O Tom Jobim tem uma administração de quinta-categoria. Não é só no setor de passageiros, onde tudo tem de ser feito, mas também no terminal de cargas, que, embora excepcional, está subaproveitado. Com a Infraero, não sai nada”, disparou o governador.
Do Sul, a luta das autoridades do turismo no Paraná para tirar do papel a terceira pista do aeroporto Internacional Afonso Pena não pode passar ao largo. É lamentável, para uma capital como Curitiba, ter que mendigar junto à Infraero a necessidade da ampliação da estrutura aeroportuária e ter que ouvir de um diretor da Estatal que “a terceira pista do Afonso Pena será sem dúvida uma realidade, mas ainda não está entre as prioridades da empresa”. Essa terceira pista poderia caracterizar o Aeroporto Afonso Pena como hub macro regional, ligando o sul do país à Europa e a países do Mercosul. De acordo com Antonio Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Paraná (Abav-PR) , há uma demanda reprimida por vôos internacionais diretos, partindo de Curitiba. “Mas não é prioridade da empresa”, afirma o diretor da Infraero, peremptório. Perguntar não ofende: o que é prioridade para a autarquia?
Para o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), que atuou na CPI do Apagão Aéreo, o problema é mais que político e econômico, mas de segurança nacional. Do 1.1 bilhão de reais previsto no ano passado para ampliação e reformas de aeroportos, apenas 35% foram utilizados. No site da Infraero, no entanto, o aproveitamento foi de 43%. Para a manutenção da estrutura dos aeroportos estavam disponíveis R$ 345 milhões, mas foram gastos apenas R$ 172 milhões.
Para piorar a situação, o Tribunal de Contas da União (TCU) já encontrou irregularidades no uso de recursos nas obras de expansão dos aeroportos de Guarulhos, Vitória e Macapá. Que os céus nos protejam.
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