A herança do Pan e o sonho olímpico
Um ano depois dos Jogos Pan-Americanos, a comunidade esportiva brasileira ainda celebra o sucesso da festa no Rio de Janeiro, enquanto a cidade aspira vôos mais altos e propõe-se a sediar a Olimpíada de 2016. Entre um passo e outro, no entanto, ainda há muito trabalho a ser feito, uma quantidade enorme de problemas a atacar e várias soluções a desenvolver. Desafios do tamanho do sonho olímpico.
Conforme reportagem publicada ontem no Caderno de Esportes do JB, todas as instalações permanentes do megaevento do ano passado integram o projeto da candidatura para 2016. Novas construções estão previstas, como a Vila Olímpica, as Vilas de Mídia e o Centro de Tênis. Mas ao mesmo tempo em que planejam o futuro, seria interessante que as autoridades conferissem uma destinação mais social à aparelhagem esportiva herdada do Pan, atualmente subutilizada pelos cidadãos, de cujos bolsos saíram os R$ 5 bilhões gastos na festa.
A Arena Olímpica - erigida no Complexo Esportivo do Autódromo, na Barra - custou R$ 119 milhões. Depois dos Jogos, a administração do ginásio foi transferida para uma empresa de eventos, que paga à prefeitura cerca de R$ 270 mil por mês para utilizar o espaço. Não se pode dizer que tenha se transformado num elefante branco, mas a estrutura ainda aguarda destinação mais específica que justifique sua opulência e custo. O Parque Aquático, de R$ 75 milhões, seria usado como centro de treinamento de alto nível e escolinha para atletas carentes, em convênio com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). Decorrido um ano dos Jogos, o projeto não saiu do papel. No momento, as piscinas estão estão em obras de manutenção e sem eventos agendados. Dirigentes da CBDA acreditam que a programação saia do marasmo depois da Olimpíada de Pequim, no mês que vem.
Da mesma ociosidade padece o velódromo, erguido ao custo de R$ 12 milhões. No curto período em que foi administrado pela prefeitura, recebia atividades promovidas pela Federação Estadual de Ciclismo (como cursos gratuitos). Quando o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) assumiu o controle, as aulas foram encerradas. Restou a promessa de retomada de projetos ainda este ano.
Talvez o Estádio João Havelange (de R$ 380 milhões) seja mesmo a jóia da coroa das obras deixadas pelo Pan. O complexo esportivo brilha imponente no Engenho de Dentro - mas sem a prometida revitalização do bairro, destoa do restante da paisagem. Mantido pela iniciativa privada (com o Botafogo à frente do grupo), rende à prefeitura R$ 36 mil por mês de aluguel. Dirigentes do setor garantem que o estádio foi idealizado para sofrer alterações e ampliações e que estaria 90% pronto para receber uma Olimpíada. Contudo, os desafios para sediar os Jogos Olímpicos não se resumem à boa infra-estrutura esportiva. Concorrendo com gigantes do mundo desenvolvido (Madri, Tóquio e Chicago), o Rio precisa demonstrar excelência em transportes e rede hoteleira. E foi exatamente nestes dois pontos que o Comitê Olímpico Internacional viu as maiores debilidades da candidatura carioca.
Em relação aos transportes, a proposta de implantação de faixas exclusivas para ônibus, com estações de embarque e desembarque, solucionaria parte do problema. A criação da Linha 4 do metrô (até a Barra) seria outra peça fundamental, mas o projeto ainda hiberna nas gavetas governamentais. Quanto às acomodações, o COI exige que a sede dos Jogos possua 40 mil quartos de hotéis - enquanto o Rio dispõe de pouco mais de 23 mil. Autoridades prevêem o uso de transatlânticos e apartamentos em condomínios para suprir a carência. E tocar o sonho adiante até a decisão final do COI, no ano que vem.
Fonte: Jornal do Brasil - RJ Opinião