A competitividade do turismo

15/03/2007 18h30

JOAQUIM ANDRADE, JOSÉ ÂNGELO DIVINO, MARIA DE
LOURDES ROLLEMBERG MOLLO E MILENE TAKASAGO
Pesquisadores do Centro de Excelência em Turismo da
Universidade de Brasília (CET/UnB)

Correio Brasiliense, 14/03/07

Em estudo comparativo sobre a competitividade turística dos diferentes países, o Fórum Econômico Mundial apresenta o Brasil em 59º lugar. Para essa posição, contou negativamente, com destaque, a questão da segurança, onde alcançamos a 90ª posição. Estudo sobre a economia do turismo no Brasil, do Núcleo de Economia do Turismo (NET), pertencente ao Centro de Excelência em Turismo (CET), da Universidade de Brasília, chama também a atenção para o problema ao constatar que a violência é um dos fatores que exerce maior impacto negativo sobre a demanda turística no Brasil. O efeito do aumento de um homicídio por grupo de 100 mil habitantes reduz em 580 visitantes a demanda por turismo nos municípios analisados.
Esse tipo de estudo é importante não apenas para ajudar no desenho e na implementação de políticas públicas que priorizem adequadamente a solução dos problemas mais graves, mas também para mostrar que há potencialidades positivas a serem estimuladas e aproveitadas. Nesse sentido, o NET estimou a matriz de insumo produto e a matriz de contabilidade social do Brasil para 2002, e calculou a oferta e a demanda turística no Brasil. Com esse tipo de dado é possível analisar o turismo no conjunto da economia brasileira, de forma a perceber a inter-relação entre ele e os demais setores da economia, tanto do ponto de vista de fornecimento de insumos, quanto do ponto de vista da formação do produto ou serviço final. Dados sobre a contribuição para o PIB brasileiro do turismo como um todo e das atividades que compõem o turismo podem também ser calculados, assim como os seus potenciais como geradores de emprego e renda.
Ao calcular a oferta e a demanda turística e, então, o preço do turismo, o NET encontrou um efeito negativo importante sobre a demanda turística provocado por aumentos nos custos dos serviços turísticos, tais como: preço de hotéis, restaurantes, diversão e transportes. Esse resultado é coerente com a pesquisa do Fórum Econômico Mundial, que também apontou como um dos itens mais negativos para a competitividade brasileira o elevado preço do turismo. Nesse item, o Brasil fica em 80º lugar.
Como aspectos positivos nessa competitividade brasileira, ocupando a 28ª posição, destacam-se a infra-estrutura de transporte aéreo e a infra-estrutura do turismo em geral. O estudo mencionado, do NET-CET, mostra efeitos positivos significativos da infra-estrutura turística, constituída de atrações turísticas, como museus, parques e monumentos, e da infra-estrutura básica, constituída de saneamento, urbanização, sinalização turística, hotéis, restaurantes e outros.
O estudo do NET constatou também que os recursos naturais, em particular a presença de praias no destino turístico, é o principal fator de aumento de demanda, o que preocupa quando observamos que, nesse item, incluído no trabalho do Fórum no conjunto de recursos humanos, culturais e naturais, o Brasil acha-se em posição bem pouco favorável, ocupando a 67ª posição.
O índice estimado no trabalho apresentado no Fórum Econômico Mundial reflete a qualidade do produto ofertado pelo turismo em diversos países, mas não reflete a demanda por turismo dos mesmos, pois países como a França e a Espanha, que são os dois primeiros receptores de turismo mundial, encontram- se nas posições 12ª e 15ª do ranking, respectivamente.
As condições de oferta, todavia, são fundamentais para o planejamento do desenvolvimento do setor. No mencionado estudo do NET-CET para o Brasil observa-se, por exemplo, que não basta estimular a demanda por turismo, para desenvolvê-lo, porque a oferta de turismo é inelástica, ou seja, a quantidade de serviços turísticos oferecidos não responde facilmente a mudanças de preços. Assim, um aumento da demanda, sem aumento planejado e estimulado da oferta pode só elevar preços do turismo, com resultados finais pequenos em termos de quantidade de serviços turísticos e de ganhos para o setor.