Audiência discute impacto social das demissões da Jari Celulose S/A nas comunidades do Vale do Jarí
A Deputada Janete Capiberibe (PSB/AP) abriu a Audiência expondo as possíveis consequências negativas da demissão em massa: “ Essas demissões vão acabar com dois anos de conquista e crescimento que movimentaram a economia na iniciativa privada”. De acordo com a Deputada, 70% dos empregos no Vale do Jarí estão vinculados à fábrica, que é responsável por 50% do PIB local. O Presidente do Sintracel, Silvino Oliveira Gonçalves Filho, acrescentou que não só a economia local será afetada, mas as comunidades sofrerão um grande baque social.
A representante do Grupo Orsa, Maria Marliete Martins, afirmou que, em razão do acúmulo de prejuízos sofrido pela Jarí Celulose, não haveria outra solução senão a oferecida. Maria Martins listou entre os principais fatores prejudiciais à empresa as crises cambial e de exportação, a impossibilidade de ancoragem no rio Jarí, o baixo preço da celulose no mercado exterior e a desatualização tecnológica da fábrica. Segundo a representante, atualmente, a Jarí Celulose não tem condições de competir com outras empresas semelhantes.
De acordo com relatório enviado à CTASP pelo Presidente do Grupo Orsa, Sérgio Amoroso, que não pode comparecer à Audiência, um dos principais obstáculos que a empresa enfrenta é a falta de benefícios fiscais. A esperança é mudar o modo de produção de celulose comum para a celulose solúvel, que é mais rentável. No entanto, Sérgio alegou que sem novo financiamento do Governo, não há como preservar o funcionamento da fábrica.
Tal afirmação foi considerada dúbia por diversos membros da Audiência. Mauro Rodrigues Souza, representante do MTE e Sidney Rosa, Secretário Especial de Produção do Pará, evidenciaram a falta de informação detalhada por parte da empresa. Mauro Rodrigues afirmou que antes de qualquer investimento, é necessário ter uma contraproposta da Jarí Celulose, de forma a garantir que os recursos não sejam perdidos e a assegurar a empregabilidade dos trabalhadores. Sidney Rosa partilhou da preocupação: “Nós precisamos conhecer a situação do Grupo Orsa em relação à Jarí. Foi dito que o empréstimo resolveria a situação, o que não ocorreu”, comentou a respeito do subsídio de 145 milhões, aprovado em 2007 e liberado pelo BNDES.
Alguns parlamentares não aceitaram a explicação da empresa; o Deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e o Deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA) ponderaram a possibilidade da demissão em massa ser uma maneira de assegurar novo investimento. “As relações do Grupo Orsa com os trabalhadores nunca foram corretas. As razões alegadas são fictícias, com motivos escusos. [As demissões] são um terrorismo para concessão do empréstimo”, afirmou o Deputado Arnaldo Jordy. “Falta compromisso social por parte da empresa”, acrescentou o Deputado Luiz Carlos Heinze.
Segundo o Deputado Zé Geraldo (PT- PA) devem ser feitos investimentos no Vale do Jarí que gerem novos empregos independentes da empresa, investimentos menores que potencializem a agricultura.
Ao final da Audiência, o Presidente da CTASP, Deputado Sebastião Bala Rocha, sugeriu que fosse criado um grupo de trabalho conjunto para estudar mais a fundo a situação.