Trabalho Infantil: Educação é peça-chave para combate, concordam palestrantes

Mais de três milhões de crianças e adolescentes brasileiras entre 10 e 17 anos são vítimas do trabalho infantil, de acordo com dados do Censo 2010. Para a total erradicação deste tipo de atividade, os convidados da audiência pública promovida nesta terça-feira (16) pela Comissão de Seguridade Social e Família acreditam que a educação é fundamental, principalmente para desnaturalizar o problema. O evento se baseou no Dia Nacional de Combate ao Trabalho Infantil, comemorado no dia 12 de junho também pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Uma das medidas constantemente citadas pelos convidados para combater a ocupação ilegal seria ampliar o sistema integral de ensino para os jovens.
01/03/2011 13h30

Maria A. Garcia

Trabalho Infantil: Educação é peça-chave para combate, concordam palestrantes

 

 Destas vítimas de trabalho infantil, pelo menos 2,7 milhões poderiam estar regularizadas em um projeto de aprendizagem como o Adolescente Aprendiz, promovido pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). Segundo o ministro do TST e coordenador do projeto, Lélio Bentes, o Brasil está comprometido com as metas postuladas pela OIT de erradicar as “piores formas” de trabalho infantil até 2016 – a exemplo de trabalho com lixo, produção de carvão vegetal e doméstico – e todas até 2020. “Temos nos empenhado no sentido de assegurar aos adolescentes com mais de 14 anos de idade o direito constitucionalmente assegurado de profissionalização”, declarou Bentes, que participou do evento como palestrante.

 Metas para erradicação: desafio

 Apesar do empenho – o que assegura o Brasil entre referência mundial em relação às políticas de enfrentamento ao trabalho infantil, além da expressa redução dos índices desde a década de 90 – a secretária executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, Isa Maria Oliveira, acredita que o país não logrará êxito em alcançar as metas estabelecidas pela OIT. “Nas nossas avaliações, não vamos alcançar a erradicação das piores formas até 2016”, avaliou a secretária. Somente no trabalho doméstico, segundo levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD/IBGE) em 2011, foram pelo menos 258 mil casos.

 

Para Oliveira, a principal estratégia para o combate ao trabalho infantil é a escola de qualidade e inclusiva. “É importante estar na escola. Mas estar na escola e não aprender também não pode. Nós temos altas taxas de matrícula. Se o nosso problema na educação fosse matrícula, a gente estaria em uma situação confortável”, comentou. A secretária também citou o incentivo à escolarização de todos os membros da família também como dispositivo para livrar o trabalho infantil do senso-comum.

 

Trabalho infantil e defasagem escolar

 

A ministra do TST, Kátia Arruda, também comentou sobre a escola inclusiva para a criança e o adolescente. Ela enfatizou que dados oficiais apresentam uma íntima relação entre o trabalho infantil e a defasagem escolar, cujo índice alcança 90% quando se trata dos jovens que se iniciaram precocemente no mercado laboral. “O trabalho infantil mantém um círculo vicioso de pobreza. A pessoa que faz trabalho infantil dificilmente consegue romper este círculo. Segundo dados do PNAD, pessoas que trabalharam com menos de 14 anos de idade tem salário menor que R$ 1 mil”, disse. Tanto Arruda quanto a pesquisadora Fernanda Sucupira, da ONG Repórter Brasil, discorreram acerca dos mitos que rondam o imaginário do brasileiro quanto ao tipo de ocupação (abaixo). O evento também contou com a presença da atriz Cristina Pereira, representando o Movimento Humanos Direitos (MHud). A artista chegou a se emocionar a medida que falou do assunto. “É necessário implantar a escola integral. Mas como? Tem que ter o envolvimento de toda a sociedade”, discursou.

 

No dia 12 de junho de 2012, a OIT apresentou o primeiro relatório global sobre o trabalho infantil. A data, posteriormente, tornou-se nacional após a promulgação da lei nº 11.542/2007. A audiência pública foi requerida pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) e subscrita pelos parlamentares Darcisio Perondi (PMDB/RS), Benedita da Silva (PT/RJ), Conceição Sampaio (PP/AM) e Adelmo Carneiro Leão (PT/MG).

 

Mitos sobre o trabalho infantil, segundo palestrantes.

 

Quem trabalha sobe na vida – “Em estudos, pelo menos 92% dos adultos resgatados do trabalho escravo eram também trabalhadores infantis”, mencionou a ministra do TST, Kátia Arruda.

Trabalho é melhor do que ficar nas ruas sem fazer nadacometendo crimes – “As duas ilicitudes não podem ser apresentadas como únicas alternativas para as crianças e adolescentes”, comentou Arruda. “Várias formas de trabalho infantil favorecem que as crianças e adolescentes sejam levados para o crime organizado, para o tráfico de drogas ou a exploração sexual infantil”, afirmou Fernando Sucupira, pesquisadora da ONG Repórter Brasil

Fulano (a) começou a trabalhar cedo e se tornou alguém na vida – “Muitas pessoas utilizam da própria trajetória como argumento, mas na verdade elas se saíram bem apesar do trabalho infantil, não por causa dele”, frisou Sucupira.

 

 

Assessoria da CSSF