A cada ano 35 mil pessoas começam a fazer diálise no Brasil

Para discutir a situação dos pacientes renais e transplantados, formas de tratamento e prevenção desse tipo de doença, a Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) promoveu o seminário “Rins Saudáveis”.
01/03/2011 13h30

Os rins são os principais órgãos excretores e a principal função é filtrar o sangue e purificá-lo, principalmente da ureia, depois de filtrar ele joga pra fora do corpo, junto com água, por meio da urina. Elimina as toxinas ou dejetos resultantes do metabolismo corpora. Além disso, mantém um constante equilíbrio dos líquidos no organismo, evitando os inchaços e o aumento da pressão arterial.

Para o médico Hélio Vida Cassi, presidente da ABCDT (Associação Brasileira de Centros de Diálise e Transplante) o maior problema é a falta de acesso ao tratamento. Faltam vagas nas clínicas, os recursos repassados pelo SUS são insuficientes e a correção dos valores inadequada, não acompanha a inflação. De acordo com a portaria 389 do Governo Federal, são repassados por consulta com médico nefrologista, dez reais.

“No Brasil o governo paga cerca de 60 dólares por sessão de diálise, na Argentina ou Equador, são 80 dólares. Nos Estados Unidos o repasse chega a 260 dólares”, exemplifica Hélio.  

Ele alerta que a cada ano 35 mil pessoas passam a fazer diálise no Brasil. Hélio informou que, em Natal, por exemplo, não há mais leitos para pacientes de diálise. Ele estimou que, abrir uma clínica de diálise, pode custar R$ 4 milhões, e este custo inviabilizaria novos estabelecimentos.

O especialista sugere readequar os valores dos exames, diálises e reunir pacientes, médicos e até indústria farmacêutica para encontrar soluções para o problema. Renúncia fiscal e a desoneração das folhas de pagamento das clínicas são ideias para beneficiar o setor.

Causas e prevenção

 A médica Carmen Branco Martins, da Sociedade Brasileira de Nefrologia, afirmou que atualmente 100 mil pessoas fazem diálise no Brasil e existem 750 unidades cadastradas no país, sendo 35 apenas na cidade de São Paulo. Informou que existem três modalidades de tratamento da doença renal crônica: a hemodiálise, a diálise peritoneal e o transplante de renal. A principal diferença entre os dois primeiros procedimentos é que a diálise peritoneal pode ser feita em casa.

“Sabemos que as principais causas de doença renal crônica no Brasil, são a hipertensão arterial e o diabetes mellitus e que cerca de 2/3 dos pacientes em diálise tem menos de 65 anos, e isso pode e deve ser combatido com prevenção. Reduzir o sal na dieta (brasileiros ingerem em média 12,5 g/dia), aumentar a atividade física e consequentemente reduzir o sobrepeso e a obesidade, são atitudes simples mas que ajudam de forma decisiva na saúde renal” afirma Carmen Martins. 

Ela esclarece ainda que, para evitar problema renal, é necessário evitar fumo e álcool. Alguns sintomas podem indicar doença nos rins, como cansaço, insônia, inchaço nos pés e tornozelos, inchaço nos olhos e mal-estar. A médica ressaltou que metade da população economicamente ativa do país está acima do peso.

Projeto de Lei

Para Renato Padilha, presidente da Fenapar (Federação Nacional das Associações de Pacientes Renais e Transplantados do Brasi), a realização do seminário no Congresso foi um momento importante para reunir quem trata ou vive com a doença renal. “Estamos construindo uma saúde e um país melhores”, ressaltou.

A Fenapar surgiu em 2013 no Piauí. Hoje é formada por 14 associações filiadas em todo o país, a Federação é uma união de esforços com planejamento claro e objetivo, e interação junto à comunidade científica em prol de melhores políticas para o tratamento renal no Brasil.

Entre as demandas dos pacientes renais, de acordo com Padilha, está a continuidade do PL 155/15 da deputada Carmen Zanotto (PPS-SC), em tramitação no Congresso. O Projeto reconhece ao paciente renal crônico, a partir da paralisia total dos rins nativos em hemodiálise e diálise peritoneal e da constatação do comprometimento de sua funcionalidade, o mesmo tratamento legal e os mesmos direitos garantidos às pessoas com deficiência.

A enfermeira Aline Gullo, da Associação Brasileira de Enfermagem em Nefrologia, defendeu a atenção global ao paciente nefropata. Ele disse que o país tem 202 milhões, 24 por cento com hipertensão e 6 por cento com diabetes, ou seja, um enorme potencial para novos pacientes renais crônicos. A enfermeira destacou que 80 por cento das pessoas que têm doenças renais não sabem que estão doentes.

“A detecção tardia é um grande problema, temos que priorizar a prevenção da doença, a atenção à saúde e viabilizar os investimentos corretos”, destacou Aline.

O coordenador-geral de Média e Alta Complexidade do Ministério da Saúde, José Eduardo Fogolin, explicou que a Portaria 389/14, publicada pelo ministério em março do ano passado, mudou a forma de cuidar do paciente renal crônico no Brasil. As mudanças ainda estão em fase de implantação.

Ele assinalou que o cuidado não está sendo mais pautado especificamente para a hemodiálise. "É uma mudança na forma do cuidado, que antes era pautado especificamente para hemodiálise. Agora está ampliado para a pessoa que ainda não tem necessidade de hemodiálise, na fase pré-dialítica como chamamos, e também aos que estão em hemodiálise, podendo ter oferta de outros serviços e não apenas a hemodiálise, na máquina de diálise, mas também a diálise peritoneal."

Também participaram do seminário representantes da sociedade civil, entidades, pacientes e familiares. No final, houve debate e a indicação de novos encontros para avançar e agilizar soluções para o problema.

Assessoria CSSF