Pronunciamento do Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito

Pronunciamento do Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito, durante cerimônia anual de entrega de comendas da Ordem do Mérito Aeronáutico, nesta terça-feira (23/10), em Brasília, e comemoração do dia do Aviador e da Força Aérea Brasileira.
24/10/2012 13h48

DIA DO AVIADOR (23/10) - Ordem do dia do Comandante da Aeronáutica

Ribeirão Preto, 1888, as férteis terras da florescente cafeicultura paulista testemunhavam, silenciosamente, outra infatigável jornada dedicada às intensas e reveladoras aventuras literárias de um adolescente genial.

Aos 14 anos de idade, o filho do engenheiro Henrique Dumont concluía, com absoluto entusiasmo, mais uma obra do imaginativo francês Júlio Verne. As páginas de seu diário registrariam os sentimentos que mudariam o futuro da humanidade: “Este livro faz-me pensar que se pode conseguir viajar pelos ares à vontade. Terá que aperfeiçoar os balões... Na realidade ou construir outras máquinas voadoras e porque não chegar à lua”.

Inspirado nessa insondável liberdade da terceira dimensão, delineava-se, precocemente, o projeto da conquista dos céus, missão que nortearia toda a trajetória de vida de Alberto Santos Dumont.

Tão audacioso planejamento seria embasado nos preciosos ensinamentos reunidos pelo precursor da aviação brasileira, o padre santista Bartolomeu Alexandre de Gusmão, ao inventar, em 1709, o primeiro aerostáto operacional – a intrigante passarola.

Já familiarizado às leis físicas dos mais-leves-do-que-o-ar, o gênio incansável do Ícaro de “Saint Cloud” conduziria o Brasil à outra histórica primazia no campo aeronáutico mundial – a dirigibilidade dos balões.

Entre os inúmeros fatos marcantes, dessa empreitada de retumbante sucesso, ocuparia lugar especial nas memórias de Dumont, a opinião de seu venerado Júlio Verne, sobre os motores de aviação da época: “quanto ao futuro dos balões aerostáticos, acredito como Santos Dumont, que o problema está em inventar um motor... que possa este, lutar contra o vento”.

Os enigmáticos desígnios da infinita busca do homem pelo conhecimento colocavam, lado a lado, em menos de duas décadas, leitor e autor, ciência e ficção a serviço do bem coletivo.

E foi esse supremo valor humano, o responsável por manter acesa a centelha da genialidade altruísta, motor que impulsionava o pai da aviação a superar, indomitamente, todas as limitações técnicas de sua época, a fim de dar asas ao homem.

No inolvidável 23 de outubro de 1906, o voo autopropulsado do intrépido 14-bis consolidaria-se, definitivamente, como o marco fundamental da duradoura liderança brasileira no setor aeroespacial internacional.
Desde então, essa excelência, em tão inovadora área do saber, tem sido zelosamente amparada nas imensuráveis e patrióticas realizações de outros visionários aviadores, sucessores do pródigo mineiro, franzino na aparência, porém magnânimo em seu legado.

Entre as mais ricas contribuições ao poder aeroespacial nacional, rendemos, neste dia do aviador, o lídimo preito às trajetórias profissionais de militares, da envergadura dos marechais-do-ar Eduardo Gomes e Casimiro Montenegro, eternos paraninfos da integração nacional e do ensino das ciências aeronáuticas.

Pois, nós, os audazes bandeirantes do ar do presente, recebemos, plenos de orgulho, a nobre missão de fornecer perenidade às iniciativas, que fazem o Estado brasileiro chegar aos seus cidadãos, nos rincões do vasto território brasileiro, nas asas de modernos vetores de fabricação nacional.

O sucesso nessa sinérgica tarefa, em várias oportunidades, tem extrapolado a esfera nacional, transmutando-se em amplas e sólidas iniciativas de cooperação com os irmãos das américas.

Testemunharam essa postura da Força Aérea Brasileira, tanto os nossos irmãos haitianos, chilenos e, recentemente, equatorianos, quando afligidos pelas descomunais forças da natureza; como as ilustres representações diplomáticas brasileiras, apoiadas pelas linhas do correio aéreo internacional.

Em mais uma oportunidade, o curioso e inventivo menino de Cabangu revelava acurada precisão em suas visões de futuro, pois, para o maior dos aviadores, o meio aéreo viria a ser o principal vetor de integração dos continentes.

Desbravadores dos céus das américas, certamente, a firme convicção do patrono da aeronáutica em defender, mesmo não sendo um belicista, a criação de um vigoroso contingente de pilotos militares, formados em modernas escolas de aviação, impulsionou o Brasil a acompanhar o mundo, no ininterrupto aperfeiçoamento da arma aérea.
Hoje, todos os integrantes da Força Aérea personificam a concretização desse intento, mantendo-se, tenazmente, empenhados em corresponder aos legítimos anseios de defesa, de um dos países mais ricos do mundo – o nosso amado Brasil.

Para nós, abnegados soldados de um país livre e democrático, honra-nos, acima de tudo, possuirmos a maior de todas as liberdades, ofertar, sempre que a pátria requerer, o bem humano mais precioso – a vida.

O exercício desse sublime valor, inspirado no exemplo de Alberto Santos Dumont, mantém vívida a esperança no contínuo reconhecimento da sociedade brasileira, consubstanciado em modernos equipamentos e sólido amparo à família militar.

Que a Força Aérea mantenha-se firme no instigante propósito de contribuir para um Brasil empreendedor em sua indústria aeronáutica; soberano em suas fronteiras; e digno da contínua admiração mundial, em face da responsável liderança no setor aeroespacial.

Pois, as palavras dispostas, na entrada da singela residência de Cabangu, desejam permanecer ecoando, como símbolo de orgulho para o país berço da aeronáutica mundial – a tua obra está feita. Com ela conquistaste o espaço e o tempo. Foste o primeiro a entrar no azul.

Parabéns aviadores, sucesso a nossa Força Aérea Brasileira.

Tenente-Brigadeiro-do-Ar JUNITI SAITO
Comandante da Aeronáutica