Número de brasileiros deportados dos EUA passa de 3 mil

Brasileiros que emigram para os EUA pagam até R$ 80 mil aos aliciadores para atravessarem a fronteira com o México e são orientados a jogarem fora o passaporte e não se apresentarem aos consulados. Número de deportados não para de crescer
30/06/2022 16h07

Billy Boss CD

Número de brasileiros deportados dos EUA passa de 3 mil

Brasília – O número de brasileiros deportados dos EUA, desde 2019, passa de três mil. Nos voos de repatriação, as pessoas, incluindo crianças, viajam algemadas, alguns, depois de passarem seis meses presos naquele país. Esses são alguns dos dados apresentados nesta quinta-feira, 30, durante reunião de audiência pública realizada na CREDN destinada a debater as condições de detenção e deportação de brasileiros pelos EUA.

O evento foi requerido pelo deputado Leonardo Monteiro (PT-MG). Segundo ele, “dados da Polícia Federal revelam que mais de 80 mil brasileiros já foram presos por tentarem atravessar a fronteira do México com os EUA. Desse total, 52 mil são de Minas Gerais, sendo 17 mil deles de Governador Valadares”.

Com mais de 20 anos de trabalho sobre migrações, a professora Sueli Siqueira, da Universidade do Vale do Rio Doce (UNIVALE), afirmou que “o migrante não é um pobre, miserável, ele paga entre R$ 60 mil e R$ 80 mil para migrar”. Ela revelou, ainda, que o perfil daqueles que migram também tem mudado. “O desejo de ir,  juntar alguma coisa e voltar, já não é a realidade. As pessoas vão para ficar”, afirmou.

Aqueles que conseguem chegar aos EUA, mas são detidos pelas autoridades migratórias, podem encarar até seis meses de prisão. Além das humilhações e constrangimentos, são submetidos a 9h de voo, algemados e acorrentados às poltronas dos aviões quando deportados.

Julio da Silveira Moreira, professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), destacou que, em um dos 66 voos com brasileiros deportados, haviam 50 crianças repatriadas separadas dos pais. Ele defendeu o retorno do Brasil ao Pacto Global para Migração Segura, Ordenada e Regular, da Organização das Nações Unidas (ONU), o qual deixou em 2019 e um papel menos passivo da diplomacia brasileira em relação às denúncias.

A representante dos brasileiros no exterior, residente nos EUA, Ester Sanches, calcula que residam naquele país, cerca de 1,8 milhão de brasileiros.  “Nos dois últimos anos, com a tragédia da Vale, as pessoas que receberam R$ 200 mil de indenização, decidram ir para os EUA”, assegurou. “Precisamos de políticas públicas para os brasileiros no exterior, além de resgatarmos a iniciativa para que os brasileiros no exterior possam ter um representante no Congresso Nacional”, defendeu.

Representante do Ministério das Relações Exteriores na audiência, o ministro Aloysio Gomide, diretor do Departamento Consular do Itamaraty, disse que, apenas nos EUA, são 11 as repartições consulares. As três maiores estão em Nova Iorque, Miami e Boston. “Também temos 17 consulados honorários, subordinados aos consulados, para atendimento da nossa comunidade naquele país”, disse.

Sobre as deportações, garantiu que esses brasileiros já teriam esgotado os recursos jurídicos possíveis. “São pessoas que não têm mais condições de recorrer da decisão da Justiça dos EUA. Nós trabalhamos para acelerar o processo de retorno, para evitar que permaneçam presos por períodos longos”, explicou.

O diplomata também lamentou que muitos busquem os chamados “coyotes”, aliciadores, para ingressar ilegalmente nos EUA. Acrescentou, ainda, que os atestados de nacionalidade, que permitem aos indocumentados serem incluídos nos voos de deportação, não são emitidos em três casos: para aqueles que estão há muitos anos nos EUA, não falam português e não têm laços com o Brasil; aos que têm familiares nos EUA, para não separar as famílias; e para aqueles que têm graves problemas de saúde.

Gomide destacou, também, que a Polícia Federal mantém dois agentes nos EUA, na região da fronteira com o México. “Eles estão lá para atuarem em cooperação com as agências norte-americanas, no combate às máfias que lucram com o tráfico humano”, garantiu.

 

 

 Assessoria de Imprensa - CREDN