Médicos Sem Fronteiras: ação humanitária e solidariedade pelo mundo

Você provavelmente já ouviu falar deles. Sabe que atuam em áreas de conflito armado e com grupos humanos em situação de risco. O que você talvez não saiba é que seu trabalho vai além das emergências geradas pelas guerras e, não raras vezes, acontece quase ao seu lado.
15/10/2015 15h55

foto: Médicos Sem Fronteiras

Médicos Sem Fronteiras: ação humanitária e solidariedade pelo mundo

Médicos Sem Fronteiras atuam em cooperação humanitária na Guiné.

Há 44 anos os Médicos Sem Fronteiras (Medecins Sans Frontieres) trabalham de forma incansável pelo bem da humanidade. Com um Prêmio Nobel em seu histórico e uma vasta experiência adquirida ao longo de quatro décadas trabalhando diretamente com aqueles que mais necessitam de apoio pelo mundo.

A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional recebeu em maio representantes da Organização Internacional Médicos Sem Fronteiras para tratar da realização de um seminário sobre cooperação humanitária, com o objetivo de provocar uma discussão com a sociedade sobre o papel e as possibilidades deste tipo de ação. 

Criada em 1971, na França, por médicos e jornalistas, a organização humanitária internacional independente Médicos Sem Fronteiras (MSF) leva ajuda médica e humanitária às populações atingidas por desastres naturais, guerras, epidemias, desnutrição e excluídas de qualquer acesso à saúde, sem discriminação de raça, religião ou afinidades políticas. Presente em mais de 60 países, com 36 mil profissionais de diferentes áreas e nacionalidades, os Médicos Sem Fronteiras se mantém com doações de pessoas e entidades privadas. Sua atuação é baseada em três princípios fundamentais: neutralidade, imparcialidade e independência.

Seu surgimento foi o resultado da percepção das dificuldades encontradas no atendimento humanitário internacional. Estes problemas já começavam no acesso aos locais onde a assistência deveria ser prestada e iam até aos entraves burocráticos e políticos que impediam que a ajuda se concretizasse.

Em 1999 a Organização recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Com o valor recebido lançou a Campanha Mundial de Acesso a Medicamentos, cujo objetivo era evitar a morte anual de milhões de pessoas, vítimas de doenças infecciosas tratáveis.

O MSF no mundo

O primeiro programa médico em grande escala estabelecido pela Organização ocorreu em 1975, durante a crise de refugiados do Camboja, sob o domínio do Khmer Vermelho. Em 1980, após a ocupação do Afeganistão pelos Estados Unidos, o MSF forneceu proteção e estrutura para as vítimas da guerra. Em 1984, com a grande fome que assolou a Etiópia, o MSF estruturou um grande projeto contra a desnutrição severa e denunciou parte do governo por desvio da ajuda humanitária, sendo por isso expulso do país.  O ano de 1986 trouxe a necessidade de organizar clínicas móveis e hospitais para tratar dos feridos e traumatizados na luta entre o governo e o grupo separatista Tigres Tamil. Dois anos depois, em 1988, a Organização leva ajuda às vítimas do terremoto da Armênia.

Em 1994, 800 mil ruandeses da etnia tutsi são assassinados pelos seus compatriotas hutus. Isto levou o MSF – que já estava instalado naquele país – a pedir, pela primeira vez, a intervenção armada internacional sob o argumento de que “médicos não podem parar um genocídio”. 2003 chega com graves conflitos na Libéria; o MSF oferece assistência a milhares de deslocados e transforma casas em hospitais.

Um terremoto devastou o Haiti em 2010. A Organização, que já estava presente no país, tratou de mais de 173 mil pacientes e executou 11 mil cirurgias. Enquanto isso, na África, em 2011, é criado o Sudão do Sul. O MSF continuou trabalhando na área reconhecida agora como o mais novo país do mundo. Mais de 300 mil pessoas foram deslocadas pelos conflitos entre 2010 e 2011. Mais de 55 mil refugiados sudaneses foram atendidos pelas equipes do MSF nos acampamentos espalhados pelo país.

Em 2012, após 20 anos de conflito, os embates na República Democrática do Congo (RDC) atingem novo pico. Milhares de pessoas fogem, deixando vilarejos e campos de refugiados vazios. O MSF mantém atendimento de emergência, campanhas de vacinação e programas regulares em todas as províncias do país. Neste mesmo ano explodiu a guerra na Síria. Os Médicos Sem Fronteiras concentram esforços no atendimento às pessoas afetadas pelo conflito e atuam em três hospitais no norte da Síria transformando casas e uma granja em hospitais. Impedido de acessar outras áreas da Síria, o MSF inicia apoio a mais de 50 unidades de saúde espalhadas pelo país.

No ano seguinte, em 2013, um tufão atinge as Filipinas. A Organização estruturou uma resposta de emergência, levou ajuda humanitária às ilhas remotas inacessíveis e construiu um hospital semipermanente.

E no Brasil

A atuação dos Médicos Sem Fronteira no Brasil se inicia em 1991, durante uma epidemia de cólera na Amazônia.  Em 1993 a Organização chega ao Rio de Janeiro para atuar junto à população de rua. Em 1995, na favela de Vigário Geral, no Rio de Janeiro, é montado um posto de atendimento do MSF para as áreas de clínica geral, ginecologia e obstetrícia, pediatria, odontologia, psicologia, serviço social, consultas e procedimentos de enfermagem. Três anos depois o projeto foi repassado para uma organização gerida por moradores locais capacitados pelos Médicos Sem Fronteiras.

Um programa de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e Aids é inaugurado no Rio de Janeiro em 1996. Desenvolvido em comunidades da Zona Norte da cidade, a ação consistiu na distribuição de preservativos e na elaboração de oficinas temáticas.

A partir do ano 2000, novas ações são preparadas pela Organização: em 2003 o MSF inaugurou o Centro de Atenção Integral à Saúde, na comunidade de Marcílio Dias, no Complexo da Maré (RJ), oferecendo atendimento em clinica geral, ginecologia, pediatria, saúde mental e serviço social. Em 2005, o centro passou a ser gerido por uma organização local. Neste mesmo ano o Médicos Sem Fronteiras inicia o recrutamento de profissionais no Brasil para trabalhar em seus projetos no mundo. No ano seguinte é criado um escritório no Rio de Janeiro para recrutar pessoal, captar recursos financeiros e promover ações de comunicação.

O ano de 2007 é marcado pela criação de uma Unidade de Emergência no Complexo do Alemão (RJ), onde são oferecidos atendimento de emergência, cuidados de saúde mental, transferência em ambulância para hospitais da região e orientações sobre a rede pública de saúde do município. Estas atividades foram encerradas em novembro de 2009. Um ano depois, em 2010, o MSF cria a Unidade Médica do Brasil (BRAMU) para apoiar os projetos de doenças negligenciadas. Quando enchentes atingiram os estados de Pernambuco e Alagoas as equipes do MSF ofereceram apoio psicológico e cuidaram da melhoria das condições de água e saneamento.

Em 2011, profissionais do MSF-Brasil, ativos ou não, uniram-se para formar uma associação. Cidades do Rio de Janeiro atingidas por fortes chuvas contaram com o apoio de psicólogos do MSF e treinaram profissionais de saúde mental que trabalharam na região atingida pelas cheias. Em outubro, o MSF respondeu a uma crise humanitária envolvendo imigrantes haitianos na cidade de Tabatinga, no Amazonas. Na ocasião houve a distribuição de itens de primeira necessidade e a realização de atividades de promoção de saúde.

Em 3/10 um hospital dos Médicos Sem Fronteiras localizado em Kunduz, no Afeganistão, foi bombardeado durante mais de uma hora por forças militares dos Estados Unidos e do Afeganistão. Os ataques aéreos destruíram o edifício principal do centro de trauma do MSF, inviabilizando as atividades do hospital, inaugurado em 2011, que agora se encontra fechado. Com isso, dezenas de milhares de pessoas estão sem acesso a cuidados médicos de emergência e cirúrgicos em uma cidade devastada por semanas de confrontos intensos.

Em nota publicada em sua página e redes sociais, a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional lamentou o ocorrido e cobrou rigor nas investigações:

Nota sobre o ataque ao hospital dos Médicos Sem Fronteiras

Com profundo pesar recebemos a notícia do bombardeamento de um Hospital da Organização Não Governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Kunduz, no Afeganistão, ocorrido em 3/10.  Perpetrada pelos Estados Unidos, esta ação, que deixou 19 mortos – 12 funcionários da organização e sete pacientes, dentre os quais três crianças –, além de 37 feridos, é um bárbaro crime de guerra e como tal deverá ser considerado na hora de se investigar o ocorrido e apurar responsabilidades.

Aos Médicos Sem Fronteiras, apresentamos todo o nosso apoio e solidariedade. À Organização das Nações Unidas (ONU), reiteramos nosso pedido de rigor e seriedade nas investigações. Aos Estados Unidos e à Comunidade Internacional, lembramos que no mundo de hoje, atos como este não podem mais ser tolerados e considerados ‘efeitos colaterais’ de uma guerra que há anos arrasa um país já destroçado pela voracidade capitalista que alimenta o terrorismo, massacra civis inocentes e destrói o futuro de paz que buscamos para a humanidade.

 

Box

Os Médicos Sem Fronteiras cancelaram um seminário que fariam, no próximo mês de novembro, na Câmara dos Deputados. O evento apresentaria a importância das ações humanitárias, sua crescente necessidade no cenário global e o desenvolvimento do trabalho do MSF no mundo.

 

 

 

Cláudia Guerreiro

Assessora de comunicação da CREDN

Câmara dos Deputados - Anexo II , Ala A, sala 131

Tel.: (61) 3216-6732