Guerra é desafio para o Brasil em termos energéticos e de produção de alimentos

Nesta terça-feira, 31, a CREDN realizou audiência pública para discutir os impactos da guerra no cenário geopolítico global, os efeitos no agronegócio, econômicos e sociais no Brasil
31/05/2022 17h52

Billy Boss CD

Guerra é desafio para o Brasil em termos energéticos e de produção de alimentos

Brasília – Especialistas e acadêmicos entendem que a Guerra no Leste da Europa representa um desafio para o Brasil em termos energéticos e de produção de alimentos. Em evento realizado nesta terça-feira, 31, a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional debateu os impactos da guerra no cenário geopolítico global, os efeitos no agronegócio, e os impactos econômicos e sociais para o Brasil.

O Embaixador Paulino Franco de Carvalho Neto, secretário de Assuntos Multilaterais Políticos do Ministério das Relações Exteriores, destacou que o país está pronto para contribuir com o diálogo entre as partes. A exemplo do que dissera o ministro Carlos França, também na CREDN, no dia 18 de maio, ele apontou que o país não vê outra alternativa à solução do conflito que não passe pelo Conselho de Segurança da ONU e o diálogo entre todos os atores envolvidos.

“Expulsar a Rússia de organismos não resolve o conflito. Defendemos a pronta investigação de todas as violações cometidas durante o conflito e entendemos que o grande risco das sanções é que suas consequências recairão sobre os demais países e afetará o sistema de comércio global”, explicou o representante do Itamaraty.

“Observamos um impacto muito grande na inflação dos alimentos e produtos energéticos. O gás natural subiu mais de 100%, o trigo, 60%. A elevação nos preços ameaça a segurança alimentar, pois há ainda uma tendência de aumento dos preços, de acordo com o Banco Mundial. Mesmo que o conflito terminasse, a tendência de aumento nos preços se manterá por algum tempo”, destacou Nathalia Sampaio Sene Fernandes, coordenadora do Núcleo de Inteligência de Mercado da Diretoria Técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Ela assinalou, ainda, que o mapeamento geológico no Brasil abarca apenas 26% do território e isso teria de ser ampliado para que o país busque alternativas que reduzam a sua dependência de fertilizantes. “O mundo já vem de uma queda nos estoques mundiais de grãos, o que é mais um elemento a pressionar a alta nos preços. EUA, México e França são alguns dos países que têm adotado medidas de incentivo para a produção de alimentos e isso é positivo”, ressaltou.

Já o professor Ronaldo Carmona, da Escola Superior de Guerra (ESG), entende que há um impasse em relação à guerra, pois Rússia e Ucrânia não reúnem condições de conquistar uma vitória militar.

Ele também defendeu mudança na política industrial brasileira, “uma vez que há uma recomposição por parte dos demais países diante de um cénario de crise de energia, crise de alimentos, e crise financeira e monetária”, afirmou.  

Segundo Carmona, “a posição do Brasil guarda equidistância do conflito para reunir condições de dialogar com todos os atores envolvidos e atende melhor aos interesses nacionais”, concluiu.

Raphael Padula, professor do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), focou nos EUA e no seu histórico de intervenções que são justificadas sempre que a supremacia militar norte-americana é ameaçada.

“É o caso, agora, da guerra na Europa, estimulando o expansionismo da OTAN e interferindo na Ucrânia para manter ali um governo simpático aos seus interesses. O complexo industrial-militar dos EUA também tem esse interesse na guerra”, afirmou.

Assessoria de Imprensa - CREDN