Deputados divergem sobre declarações de técnico do Ipea na Venezuela
Em audiência pública da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, o deputado Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP) também questionou declarações feitas pelo técnico sobre os pré-candidatos à presidência da República Aécio Neves (PSDB-MG) e Eduardo Campos (PSB-PE). Barros afirmou que a ex-deputada venezuelana María Corina Machado seria, para ele, a responsável pela morte de 40 pessoas em protestos de rua na Venezuela, eximindo o Estado venezuelano de responsabilidade pelas vítimas de confrontos entre estudantes e forças de segurança naquele país.
Mendes Thame questionou também a destinação de mais de US$ 500 mil para o escritório na Venezuela coordenado por Pedro Barros. O parlamentar argumentou que a repartição foi estabelecida sem consentimento expresso do Congresso Nacional que, segundo ele, é o órgão encarregado de aprovar acordos internacionais.
O deputado quis saber ainda sobre os critérios utilizados para escolher a Venezuela, sobre a natureza da relação entre o escritório e os órgãos governamentais brasileiros e ainda qual seria a relação entre o técnico do Ipea e o governo venezuelano.
Critério e postura
Do mesmo partido e estado de Thame, o deputado Emanuel Fernandes criticou a falta de conhecimento sobre os critérios usados para a escolha da Venezuela para receber o escritório. “Por que escolheu-se a Venezuela, mas, cinco anos depois, não se estendeu isso para Colômbia, Peru ou quaisquer outros países?”
Para Fernandes, não existe problema em um técnico o Ipea expressar sua opinião, mas que existem, sim, problema quando “o coordenador do Ipea na Venezuela critica a oposição brasileira. “São duas coisas completamente diferentes”, argumentou.
Também o deputado Alfredo Sirkis (PSB-RJ) criticou a postura adotada por Pedro Barros. “Ou você é representante do governo brasileiro em outro país ou você é militante chavista. As duas coisas não se casam”. Segundo o deputado, esse tipo de postura respinga na credibilidade do Ipea. “Enquanto você for representante do Ipea na Venezuela você não pode fazer declarações sobre os conflitos internos da Venezuela. Há um claro conflito de interesses aí.”
Liberdade
Outros parlamentares, no entanto, defenderam o direito do técnico se expressar sobre questões políticas venezuelanas e brasileiras. O deputado Ivan Valente (Psol-SP) defendeu o direito de Barros. “Elas não tem o menor peso. Só tem importância porque a mídia brasileira está obcecada com a Venezuela”, reclamou.
O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) concordou com Valente. “O técnico se manifestou politicamente sobre um tema que é tabu para a imprensa brasileira e, por isso, foi ‘linchado’ midiaticamente”, disse. Para o parlamentar, o Ipea já deveria estar presente em todos os países do Mercosul. “Não existe nenhum problema na questão, aliás, poderia haver escritórios em outros países estratégicos para o Brasil”, disse.
Em respostas aos questionamentos de parlamentares, Pedro Silva Barros, respondeu que recebe uma remuneração equivalente a de um diplomata brasileiro e negou que receba qualquer benefício extra do governo. Ele lembrou que a relação comercial existente entre o Brasil e a Venezuela é uma das mais vantajosas mantidas pelo Brasil. “Ela é extremamente superavitárias e são importantes para nosso comércio exterior e mais ainda para a nossa indústria.”
Barros explicou que, apesar de fronteiriços, Brasil e Venezuela sempre estiveram “de costas um para o outro”, já que os brasileiros sempre priorizaram as relações com o Cone Sul (Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile), enquanto a Venezuela sempre esteve politicamente voltada para o Caribe. Ele acrescentou que o país vizinho tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo e lembrou que a aproximação entre as duas nações não começou com os governos Lula e Chavéz, mas, sim, durante as gestões de Itamar Franco (1992-1994) e, no país caribenho, de Rafael Caldera (1994-1999).
Alfredo Sirkis replicou, no entanto, que parte do enorme superávit comercial do Brasil se deve também ao colapso da Venezuela que, segundo ele, “se tornou praticamente um emirado, só produz petróleo”.
Edição – Janary Júnior