Celso Amorim afirma que EUA não querem negociar com o Brasil

Conselheiro internacional do Presidente da República, Amorim se disse preocupado com a mobilização de navios e tropas dos EUA na costa da Venezuela.
20/08/2025 17h49

Alan Santos

Celso Amorim afirma que EUA não querem negociar com o Brasil

Política Externa

Brasília – O Assessor-Chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, Embaixador Celso Amorim, afirmou nesta quarta-feira, 20, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN), que os EUA não querem negociar com o Brasil. Ele disse, ainda, que “a adoção de tarifas unilaterais representa o fim do sistema multilateral de comércio”.

Amorim compareceu à Comissão em atendimento a requerimento de autoria do deputado Filipe Barros (PL/PR), presidente do Colegiado. Na avaliação do parlamentar, “como é facilmente perceptível, Celso Amorim é o chanceler de fato, enquanto Mauro Vieira apenas cumpre ordens, permitindo que o Itamaraty, antes conhecido por sua excelência diplomática, caia cada vez mais na total irrelevância”.

O tarifaço aplicado pelos EUA aos produtos brasileiros dominou as discussões e Amorim destacou que Trump nunca quis negociar com o Brasil. Segundo ele, “nunca vi uma carta como a enviada por Trump. Não há desejo dos EUA de negociar com o Brasil. Nunca vi esse nível de desrespeito e intromissão”, explicou. Amorim também disse que não recomendou a Lula que ligasse ao presidente dos EUA.

Ele explicou que a decisão dos EUA de impor tarifas tem fortalecido a estratégia brasileira de diversificação das suas relações comerciais. Neste sentido, informou que o presidente Lula conversou, pouco antes da audiência na CREDN, com Emmanuel Macron, da França, a quem pediu que fossem feitos esforços para se aprovar o Tratado de Livre Comércio MERCOSUL-União Europeia. Nesta direção, acrescentou que o BRICS também é uma opção ao tarifaço norte-americano.

Oriente Médio

Sobre a crise no Oriente Médio e a resposta de Israel ao ataque terrorista do Hamas, de 7 de outubro de 2023, Celso Amorim voltou a defender a solução de dois Estados, com o reconhecimento do Estado Palestino. “Esta é uma questão delicada. Nós condenamos a prática terrorista e reconhecemos o direito de Israel de existir, mas também não podemos aceitar a morte em massa de palestinos. Defendemos a solução de dois estados”.

Amorim justificou a retirada do Brasil da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA) como forma de impedir que o antissemitismo seja usado para instrumentalizar qualquer governo. “O antissemitismo é detestável. A retirada do Brasil da Aliança Internacional em Memória do Holocausto se deu para evitar a sua instrumentalização política”, disse.

O Embaixador aproveitou a oportunidade para destacar que as relações com os países vizinhos são prioritárias, mas que, neste momento, o diálogo com a Venezuela tem sido difícil. Filipe Barros e outros parlamentares questionaram o Embaixador quanto à dívida de R$ 10 bilhões que a Venezuela tem com o Brasil e a imposição de tarifas de 70% aos produtos brasileiros.

“Temos que ter relações, é uma imposição da geografia. Sobre as eleições, as atas nunca apareceram e nós nunca reconhecemos politicamente os resultados. Sobre as tarifas de 70%, estão sendo tratadas no mais alto nível. Quanto à dívida, havia perspectivas positivas. Hoje, as nossas relações não são tão calorosas que permitem retomarmos a cobrança dessa dívida”, reconheceu.

Assessoria de Imprensa - CREDN