“Tenho vergonha de ter visto o Brasil exportar corrupção”, afirma Araújo em audiência na CREDN

“Tenho vergonha de ter visto o Brasil exportar corrupção para toda a América Latina. Tenho vergonha de ter visto o Brasil não defender a democracia na Venezuela. Tenho várias vergonhas, mas estamos corrigindo isso”, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo
27/03/2019 17h55

Marcelo Camargo/Agência Brasil

“Tenho vergonha de ter visto o Brasil exportar corrupção”, afirma Araújo em audiência na CREDN

Alexandre Magno

Brasília – “Tenho vergonha de ter visto o Brasil exportar corrupção para toda a América Latina. Tenho vergonha de ter visto o Brasil não defender a democracia na Venezuela. Tenho várias vergonhas, mas estamos corrigindo isso”, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em audiência pública realizada pela Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira, 27.

Em quase 7h de debates, o chanceler rebateu as críticas feitas à gestão do Itamaraty e à Política Externa que vem implementando desde janeiro. De acordo com o ministro, a aproximação do Brasil com os Estados Unidos, por exemplo, pretende recuperar o tempo perdido. “O relacionamento com os Estados Unidos talvez seja a parceria mais negligenciada nos últimos anos no Brasil, por uma visão que os Estados Unidos seriam uma parceria que não se deveria trabalhar em várias áreas”, afirmou.

Ernesto Araújo foi além: “tudo que é feito com os Estados Unidos é entreguismo. Tudo que é feito com a China é racionalidade econômica. Há uma conotação política forte nestas análises”, destacou.

Araújo também explicou que o Brasil passou por um complexo de inferioridade com os Estados Unidos. “Agora, estamos tratando com os Estados Unidos de outra forma. Estamos fortalecendo relações com o maior polo econômico do mundo, capaz de contribuir com o Brasil em diferentes áreas, incluindo segurança”, explicou.

Na sua avaliação, o reconhecimento norte-americano de que o Brasil deveria integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) demonstra a relevância alcançada pelo país na cena internacional. De acordo com Araújo, o tema ainda terá de ser discutido, “mas a declaração já coloca o Brasil em outro patamar e esse ingresso irá gerar investimentos e cooperação com as nossas Forças Armadas e indústria de Defesa”, detalhou.

Vistos

O ministro das Relações Exteriores destacou ainda que a política de isenção de vistos sem reciprocidade, atende às demandas por mais turistas e empregos no Brasil. Na sua avaliação, o país não se apequena por conta desta medida que beneficiará principalmente o Brasil.

OMC

“O Brasil não está na mesa central da reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC) e nós estamos recolocando o país nesta agenda. Temos que estar presente nestas definições”, afirmou. O Brasil, disse, não está saindo da OMC e quer reforçar o papel do organismo como principal instrumento de negociação comercial.

Ernesto Araújo explicou que, no âmbito da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o apoio dos Estados Unidos também tem sido determinante. “O governo passado não conseguiu lograr a confiança necessária para que este processo fosse concluído”, assinalou.

Em relação ao Acordo de Salvaguardas Tecnológicas firmado com os Estados Unidos, o ministro garantiu que não existe ameaça à soberania nacional e o Brasil, de acordo com Araújo, conseguiu um texto diferente daquele que Washington normalmente firma com outros países.

Venezuela

Sobre a crise na Venezuela, ele explicou que o Brasil continua se pautando pelo princípio da não intervenção e com foco na ajuda humanitária, sem conteúdo político. “Toda essa operação de ajuda humanitária foi executada pelos venezuelanos do governo interino. É muito triste ver isso como algo negativo. Era algo muito pequeno, um caminhão de arroz e medicamentos. Principalmente, pelo fato de que as milícias de Maduro tenham impedido que essa pequena contribuição chegasse aos venezuelanos”.

Ele assinalou ainda que o processo de redemocratização da Venezuela irá gerar muitas oportunidades para o Brasil, especialmente para o Estado de Roraima. 

Multilateralismo

“O Brasil é a favor do multilateralismo, mas de um sistema em que o Brasil seja um dos polos. Uma atividade maior e não menor, mas com os países determinando as agendas”, afirmou em relação ao apoio brasileiro ao sistema multilateral.

“No caso da China, o que queremos é um processo negociador. Não vamos firmar com a China apenas aquilo que interessa para eles”, afirmou.

Ele concordou também que os contratos firmados pelo BNDES com diversos países precisam ser investigados. “Este é um dos temas que prejudicou muito a imagem do país no exterior”, acrescentou.

Quanto à Parceria para a Prosperidade, ideia que surgiu nos Estados Unidos, trata-se de uma medida que pretende tornar mais fácil as relações econômicas e comerciais com aquele país. “A nossa estratégia comercial abrange uma abertura negociada em diferentes frentes. O Brasil recupera o seu protagonismo na OMC e na OIT onde trabalhamos muito para que a agenda seja determinada pelos países membros e não por ONGs”, disse.

O evento atendeu aos requerimentos de autoria dos deputados Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), Cláudio Cajado (PP/BA), Perpétua Almeida (PCdoB/AC), Alessandro Molon (PSB/RJ), Tadeu Alencar (PSB/PE), Camilo Capiberibe (PSB/AP), Glauber Braga (PSOL/RJ) e Vanderlei Macris (PSDB/SP). 

 

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