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Revitalização da bacia do rio São Francisco é mais importante do que a transposição, entendem técnicos


“A ministra Marina Silva (do Meio Ambiente) está fazendo tanta concessão que vai acabar perdendo a cabeça” – afirmou o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Apolo Heringer Lisboa, em audiência pública, dia 8 de maio, na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara, sob o tema “Diagnóstico da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco”.

“A transposição do rio São Francisco é como um grande supermercado numa região de famílias pobres, sem poder comprar nada. Não tem sentido. É inadequada. Suspeita. Mentirosa. É o Iraque do governo Lula. Aconselho o Lula a cair fora disso” – disse o pesquisador, afirmando que o Nordeste tem muita água nos açudes, “não tem é distribuição... é a indústria da seca”.

O professor da UFMG lamentou a ausência do presidente da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), Luiz Carlos Everton de Farias, um dos expositores convidados, mas que não compareceu à audiência alegando ter assumido o cargo recentemente. “A ausência da Codevasf é um desrespeito; aliás, não respeitam nem o Plano Diretor do Rio das Velhas (afluente do rio São Francisco). A Codevasf é política” – disse Lisboa.

A assessora do Projeto de Articulação Popular para a Revitalização do Rio São Francisco, Andréa Zellhuber, afirmou que “pescadores do rio São Francisco estão desesperados com a escassez crescente de peixes”. Para ela, “todo o esforço de recuperação da bacia será em vão se o modelo da produção agrícola não for modificado, incorporando práticas de conservação de solo e água”.

Andréa Zellhuber destacou que as verbas destinadas para a bacia do rio São Francisco precisam de controle social e também que não estão levando em consideração, no projeto de transposição, as mudanças climáticas.

O superintendente de Recursos Hídricos do Estado de Sergipe, Ailton Francisco da Rocha, disse, na sua explanação, que é o “modelo econômico equivocado” o grande causador da degradação da bacia do rio São Francisco. Rocha entende que sem um pacto federativo “pouco se avançará na questão”.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira, assinou, dia 7 de maio, a ordem de serviço para o início da transposição do rio São Francisco, que deverá consumir R$ 5 bilhões até o final do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “A expectativa do governo é inaugurar em 2010 os mais de 700 quilômetros de canais de concreto que desviarão parte das águas do rio São Francisco a quatro estados do Nordeste: Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba”.

A audiência pública foi aberta pelo presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado Nilson Pinto (PSDB/PA), e presidida pelo deputado Iran Barbosa (PT/SE), presidente da Subcomissão Especial Destinada ao Acompanhamento de Questões Relacionadas ao Rio São Francisco e propositor da audiência juntamente com o deputado Juvenil Alves (sem partido/MG), relator da subcomissão.