Marcha das Mulheres Indígenas: “corpos e espíritos nos espaços de decisão”
Esses crimes não são a única forma de violência que atinge as indígenas.
“Nós somos atacadas de todas as formas. Com racismo, com violência, com assédio sobre nossos corpos, sobre nossos territórios, com desrespeito às nossas vidas. As mulheres indígenas estão sofrendo violência de todos os lados e maneiras”, afirma a antropóloga social Joziléia Daniza Kaingang, em entrevista ao Jornal Sul21.
Para Joziléia “o problema é atravessado pela omissão ou ausência do Estado na elaboração e implementação de políticas públicas que garantam os direitos dos indígenas e, especialmente, das mulheres”.
É dentro deste contexto de crimes e violação de direitos que acontece de 7 a 11 de setembro, em Brasília, a Segunda Marcha das Mulheres Indígenas: as originárias reflorestando mentes para cura da Terra.
Para debater o papel das mulheres indígenas no combate às ameaças enfrentadas pelos seus povos, a Comissão de Legislação Participativa da Câmara do Deputados faz, na sexta (10/9), às 10h, uma audiência pública.
“São esperadas mais de 4 mil mulheres indígenas e a segunda marcha dá continuidade à mobilização nacional de luta pela vida, iniciada em 22 de agosto. Queremos ampliar as discussões com as populações indígenas e com a sociedade em geral sobre o desrespeito recente com essa parcela da população”, ressalta o deputado Waldenor Pereira (PT/BA), presidente da CLP, que propôs o debate.
Em nota emitida no último dia 27, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) coloca que “por enfrentarmos muitos vírus, incluindo a política genocida de Bolsonaro, começamos a nossa ‘Primavera Indígena’ que pretende ocupar Brasília de forma constante, em 2021, além de seguirmos nas redes sociais e nos territórios mobilizados. Afirmamos que de 7 a 11 de setembro as mulheres indígenas estarão na linha de frente para enterrar de vez a tese do Marco Temporal”.
O Supremo Tribunal Federal (STF) deve retomar o julgamento do “marco temporal” na quarta (8/9). A decisão vai definir o futuro das demarcações das terras indígenas no país. A iniciativa é defendida por ruralistas e setores interessados na exploração dos territórios, além de limitar os direitos dos povos indígenas previstos na Constituição.
“O marco temporal é inconstitucional, uma lei que colocaram lá no STF para querer nos apagar, apagar nossa vida e história. Mas a gente está aqui. Resistimos há 521 anos”, afirmou Alessandra Corap Munduruku, da Federação dos Povos Indígena do Estado do Pará, durante audiência pública da CLP em 24/8.
A primeira marcha, em 2019, reuniu 2.500 mulheres de 130 povos indígenas. O documento final desse encontro dizia “não basta reconhecer nossas narrativas, é preciso reconhecer nossas narradoras. Nossos corpos e nossos espíritos têm que estar presentes nos espaços de decisão.”
Pedro Calvi / CLP