Jornalistas e deputados querem Poderes mais transparentes
A colunista política Dora Kramer disse que o Parlamento, por ser o poder coletivo, deve compreender que não é com a imprensa se calando, se omitindo, que vai se preservar. A afirmação resultou dos debates em torno da ética e transparência nas atividades do Legislativo, Judiciário e Executivo. O tema reuniu jornalistas e parlametares por iniciativa das Comissões de Legislação Participativa e de Direitos Humanos e Minorias e a Ouvidoria Parlamentar. A audiência foi proposta pelos deputados Roberto Britto (PP-BA), Mário Heringer (PDT-MG) e Chico Alencar (Psol-RJ).
O deputado Roberto Britto observa que a busca pela transparência do Estado brasileiro é uma realidade que foi incluída na agenda política nacional após a redemocratização do país, no final dos anos 1980. "Neste contexto, forçoso reconhecer que a prática democrática no Brasil é pautada, entre outros aspectos, pela cobrança cada vez mais intensa de ética e transparência na formulação e execução das políticas públicas".
O deputado Chico Alencar afirmou que o contraditório torna o Parlamento mais transparente que o Executivo. "O presidente da República pode dizer a seus ministros para não divergir, um presidente da Câmara e do Senado jamais poderá fazer isso". O jornalista do site "Congresso em Foco", Sylvio Costa, afirmou que um número cada vez maior de pessoas, decepcionadas com o funcionamento dos poderes públicos, começa a questioná-los. Em sua opinião, isso ocorre porque as instituições, como o Congresso, apenas fingem resolver suas mazelas", mas não o fazem.
O consultor da Associação Contas Abertas, Gil Castello Branco, disse que a falta de transparência nas informações públicas no Brasil se deve à mentalidade vigente, que confunde público e privado. "Frases emblemáticas, como a de um deputado que disse que não iria colocar suas coisas na internet, são exemplo disso", afirmou. Catello Branco afirmou que se trata de um equívoco, porque "não são as coisas dele, são recursos públicos, que nós cidadãos geramos".
O jornalista da Folha de S.Paulo, Fernando Rodrigues, afirmou que a cultura da transparência não só nos poderes públicos, mas na sociedade em geral, é fruto de um processo longo. "Chegamos tarde ao baile da democracia, há mesmo de um quarto de século", afirmou o jornalista, que participa do seminário Ética e Transparência nos Poderes da República.
O professor de Jornalismo da Universidade de São Paulo (USP), Eugênio Bucci, afirmou que os veículos de comunicação institucional da Câmara e do Senado servem "muito mais" como veículos de propaganda dos parlamentares já eleitos que como meios de transparência dos poderes públicos. "Em época eleitoral, por exemplo, os candidatos não podem ter programas, mas os já eleitos podem aparecer na Voz do Brasil, e com isso conseguem projeção na opinião púbica que outros não têm", afirmou.
Para o jornalista da Rede Globo, Merval Pereira, isso ocorre porque ainda não há na sociedade brasileira uma mentalidade clara do que deve ser o exercício de funções públicas. "É curioso que o presidente do Senado se espante com a cobrança da sociedade. É um exemplo de um Brasil que se recusa a mudar e não entende um mundo novo que já está na nossa porta, como a internet, que mudou totalmente a relação da sociedade com os poderes públicos e com os meios de comunicação", destacou.