Seminário debate potencial econômico da essência de produtos da Amazônia
Mais de 100 empresários e representantes de comunidades tradicionais dos municípios do Vale do Juruá, no interior do Acre, participam, durante este sábado (3), de um seminário que tem a finalidade de encontrar alternativas para o aproveitamento da matéria-prima de produtos na Amazônia nas indústrias de cosméticos, farmacêutica e alimentícia. O encontro está sendo realizado no auditório do Sesc, em Cruzeiro do Sul, e conta com a participação de técnicos do Sebrae e da Embrapa.
O primeiro seminário "Essence Amazônica" foi promovido pela Prefeitura de Cruzeiro do Sul em parceria com o Sebrae. Técnicos de indústrias brasileiras e um representante de Moçambique ministraram palestras para os empreendedores do Vale do Juruá e ouviram a classe empresarial e lideranças locais para saber como são aproveitados os produtos da região que têm um alto valor de mercado, se forem aproveitas como matéria-prima nas indústrias.
A mandioca, que é um produto usado apenas na produção de farinha e outros tipos de alimentos, de acordo com o designer José Luiz de Paula Júnior, pode servir como matéria-prima na produção de perfumes. Segundo o especialista, assim como a mandioca, mais de mil produtos da Amazônia podem ser aproveitados para a produção de perfumes.
"Nosso objetivo é tentar agregar valor nas coisas que hoje as pessoas consomem e não dão tanto valor, como é o caso da mandioca. Para se ter uma ideia, os melhores perfumes europeus são produzidos com álcool de cereal e o nosso é com álcool de cana. E sempre perguntam, porque que o perfume europeu é de maior qualidade e fixa mais. O álcool é um grande componente e estamos tentando mostrar aqui para os produtores que o grande valor agregado à mandioca não está na farinha, no álcool que ela pode gerar com valores incríveis", garante Júnior.
Outro ativo biológico apontado como um produto de alto potencial econômico durante o seminário é o açaí. No encontro, a PhD em biodiversidade Cláudia Blair explicou que o açaí da região do Juruá, por ser nativo, apresenta um grau de substâncias superior do que é produzido em outras regiões do país e pode ser melhor aproveitado para gerar renda para as famílias.
O líder indígena da comunidade Yawanawa, Biracy Júnior, disse que na sua aldeia já existem projetos para extrair matéria-prima de produtos da floresta, mas ainda é preciso de incentivos para que as iniciativas possam se consolidar como possibilidades de melhorias para as comunidades locais.
"Não existe uma exploração maior nesse sentido porque a gente sobrevive apenas do nosso conhecimento tradicional e isso dá apenas para a nossa subsistência familiar. Mas, há alguns anos, a gente vem trabalhando e temos uma cooperativa extrativista que durante quatro anos trabalhamos com a extração de óleos, principalmente da andiroba e da copaíba. A gente parou por falta de incentivo para que esse projeto continuasse", disse o líder indígena.
O consultor e empresário João Costa, de Moçambique, participou do encontro com o objetivo de trocar experiências. Costa é neto do primeiro presidente de Moçambique, Samora Machel. Segundo ele, assim como na Amazônia, em seu país existem comunidades carentes que ainda não despertaram para o potencial econômico que tem cada região.
"A ideia é não só para perfumes, mas para tudo aquilo que o vegetal pode ser devidamente aproveitado e lançar no mercado no sentido de ajudar a comunidade. Por exemplo, lá temos problemas sérios de diabete e o cidadão carente não tem acesso ao medicamento. Então, porque não transformar essa matéria-prima em um produto barato e que chegue à comunidade?. Aqui no Brasil vocês têm essa biodiversidade e têm praticamente os mesmos problemas que o povo africano. Então, esse primeiro encontro traz essa abertura e tenta abrir a mentalidade do governo e dos empresários", acredita Costa.