Audiência Pública - Crise Financeira Internacional
ECONOMISTAS DIVERGEM SOBRE IMPACTOS DA CRISE NO BRASIL
Economistas divergem sobre os impactos da crise financeira internacional na economia brasileira.
Enquanto os especialistas do Ipea, órgão técnico do governo, defendem que a crise não interrompeu o ciclo de crescimento do país; o economista que trabalha no mercado financeiro afirma que serão necessárias reformas mais profundas para enfrentar a crise.
Em audiência nas Comissões de Finanças e Tributação e de Desenvolvimento Econômico, o diretor do Ipea Renault Barreto disse que o Brasil vive desde 2006 um ciclo virtuoso de crescimento econômico sustentável.
O nível de investimentos em relação ao PIB, segundo ele, é de quase 20%, próximo ao índice verificado durante o período do milagre econômico, que era de 25%.
O economista explica que isso teve impacto positivo no mercado de trabalho e conseqüentemente no consumo.
Para manter esse ciclo de crescimento, Barreto aponta três medidas: garantir e acelerar a liberação dos recursos do PAC, manter e ampliar os programas sociais do governo e manter a política de recuperação do poder de compra do salário mínimo.
"A economia brasileira mudou bastante nos últimos cinco anos e, evidentemente, eu não posso usar a mesma hipótese de 2003 para tentar confirmar a tese de que vá se recuperar um quadro de pré-ciclo virtuoso porque as condições seriam as mesmas. O papel do governo é proativo para assegurar que, nessa lacuna de incerteza financeira e instabilidade aberta pela crise financeira, os efeitos da crise sejam minimizados e garantir que a economia real continue com o vigor dos últimos anos. É claro que em alguma medida ela será impactada, mas esperamos que o impacto seja mínimo e o ciclo virtuoso seja preservado"
Já o economista Tony Volpon, da Capital Markets, prevê que o Brasil voltará a ter taxas de crescimento medíocres de até 2% ao ano por conta da crise.
Hoje, ela está em 4,2%. Volpon defendeu reformas estruturais que garantam o crescimento sustentável da economia.
"Por que a economia não cresce fora desses momentos de extrema abundância de capital e alta de preço de comodities? Eu acho que por uma razão muito clássica: a chamada altíssima taxa de juros. Eu acredito que a economia brasileira não cresce porque existe alguma coisa sobre essa economia que gera taxa de juros reais que não vemos em nenhum outro lugar do mundo. Até nesses últimos cinco anos de forte crescimento, expansão dos investimentos, as taxas de juros reais caíram em certos momentos, mas ainda não chegaram nada perto daquilo que vemos em outras economias emergentes ou desenvolvidas. Isso é fruto de uma variedade de fatores estruturais que fazem essa taxa ser tão alta"
O deputado Fernando Coruja, líder do PPS e autor do requerimento para audiência, questionou os números apresentados pelo governo que estão atualizados até outubro deste ano.
Ele acredita que os efeitos mais fortes da crise estão sendo sentidos agora em novembro.
O presidente da Comissão de Finanças, deputado Pedro Eugênio, disse, no entanto, que o governo não pode inventar dados negativos e que os efeitos da crise ainda não foram suficientes para afetar o crescimento da economia.
De Brasília, Geórgia Moraes - RádioCâmara
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008