Violência nas escolas preocupa educadores e psicólogos

A exclusão é apontada como um dos fatores que leva à violência escolar. O diálogo é a porta que abre caminhos para combater o problema.
27/11/2017 07h09

Acervo/Câmara dos Deputados

Violência nas escolas preocupa educadores e psicólogos

Professor Fabiano Sämy deu um emocionante depoimento pessoal sobre violência escolar

Representantes de professores, do Conselho Federal de Psicologia e do terceiro setor afirmaram que o caminho para combater a violência nas escolas passa necessariamente pelo envolvimento dos professores, da gestão escolar, das famílias e, claro, dos alunos. Foi durante audiência pública na Comissão de Educação para debater a violência nas escolas públicas.

Caio Callegari, da ONG Todos pela Educação, disse que a educação de qualidade passa por quatro níveis: acesso à escola, acompanhamento escolar, a condição da escola e a aprendizagem propriamente dita. E enfatizou que a violência escolar impacta fortemente todas estas instâncias. E para reforçar o que disse, ele mostrou o estudo desenvolvido em 2016 pelo Banco Mundial com o Itaú BBA e o Todos Pela Educação. “Ensino Médio: o que querem os jovens?” ouviu 1551 estudantes entre 15 e 19 anos nos meses de setembro e outubro do ano passado. A segurança foi apontada por 85,2% dos alunos como item de maior importância e de menor satisfação em relação à escola. Callegari reforçou que o Plano Nacional de Educação já traz na meta 7, que trata da qualidade da educação, a estratégia 23 que aponta, textualmente, um desses caminhos: “garantir políticas de combate à violência na escola, inclusive pelo desenvolvimento de ações destinadas à capacitação de educadores para detecção dos sinais de suas causas, como a violência doméstica e sexual, favorecendo a adoção das providências adequadas para promover a construção da cultura de paz e um ambiente escolar dotado de segurança para a comunidade”.

A doutora em Psicologia e professora da Unicamp, Ângela Fátima Soligo, citou um outro estudo: “Violência e preconceitos na escola”, realizado entre 2013 e 2015, em todos os estados brasileiros detectou que existem três formas de violência: “contra” a escola, com salários e condições de trabalho inadequadas; “da” escola, em que se identificou uma violência institucional por parte de professores e da própria gestão escolar, reforçando a violência que já existe até mesmo pelo silêncio e pela omissão diante dos casos; “na” escola, em que se verifica a violência na relação entre os próprios alunos e na relação deles com os professores, com agressões física e verbal e com o afastamento e o isolamento dos alunos. A psicóloga afirmou: “é necessário, é fundamental o diálogo. Os alunos denunciam a ausência de diálogo, de escuta. Eles querem ser ouvidos!”. Ângela apontou alguns fatores que agravam o quadro de violência nas escolas: a competitividade sem limites dentro das escolas, a patologização do aluno, que é apontado como alguém que não tem cura e nem solução, a excessiva medicalização dos estudantes. Para a doutora, é necessário educar para o respeito. Ela defende que o papel da psicologia na comunidade escolar é ajudar a promover melhores interações no ambiente escolar.

O professor de educação física Fabiano Pereira Sämy, fez um emocionante relato de sua experiência pessoal. Na infância e na adolescência, ele foi o que se convencionou chamar de aluno-problema: brigava, se envolveu com gangs, praticava furtos e se envolveu com drogas. Era um estudante agressivo. Hoje, como professor do CEF1 na Candangolândia (DF), ele afirma, sem medo de errar que “a violência começa com a exclusão”. Os alunos excluídos, Fabiano explica, acabam se reunindo em sub-grupos. E esses sub-grupos, acabam sendo cooptados por líderes, em geral, violentos. Um ambiente que ele conheceu numa das escolas onde trabalhou. Para quebrar esse ciclo, ele levou a pratica do boxe para dentro da escola. O esporte, com regras estabelecidas e claras, estabeleceu dentro da escola um lugar em que “a violência era permitida, dentro de limites”. A experiência foi exitosa e, para Fabiano, há pelo menos três bons antídotos contra a violência escolar: buscar o que nos une, dar pertencimento aos alunos e criar pontes de diálogo e afeto.

A audiência pública sobre violência nas escolas públicas foi solicitada pela deputada Pollyana Gama (PPS-SP). Ela apresentou dados sobre a violência escolar. Veja aqui.

A audiência pública está disponível aqui.

Reportagem: Claudia Brasil

Convidados:

CAIO CALLEGARI - Representante do Todos pela Educação - Apresentação

ÂNGELA FÁTIMA SOLIGO - Representante do Conselho Federal de Psicologia

FABIANO PEREIRA CÔRREA SÄMY - Representante do Instituto de Desenvolvimento Sistêmico Para a Vida – Apresentação