Por um Brasil que leia mais

Em entrevista à Comissão de Educação e Cultura, deputado Marcelo Almeida (PMDB/PR) conta sua paixão por leitura e fala sobre sua perceção do Brasil enquanto país de leitores. O Deputado, também presidente da Frente Parlamentar Mista da leitura, expõe os resultados do II Seminário do Livro e da Leitura realizado na Câmara dos Deputados no dia 20/05.
28/05/2010 16h10

Por um Brasil que leia mais

Deputado Marcelo Almeida

Um leitor apaixonado por leitura: “Eu acho que com o romance a gente viaja sem sair de casa. A gente se apaixona por aquela mulher que nunca viu e começa a entender um pouco mais o que é o amor.” Mas bem consciente dos desafios de disseminar o hábito de ler. “Alguns preferem tomar vitamina do que ter que mastigar. Ler é mastigar. Tem que digerir.” Em entrevista ao deputado Marcelo Almeida (PMDB/PR), presidente da Frente Parlamentar Mista da Leitura, a Comissão de Educação e Cultura (CEC) junto com a Rádio Câmara fez um balanço do II Seminário do Livro e da Leitura no Brasil ( realizado dia 20/05) e conversou sobre temas como tecnologias digitais e o livro; bibliotecas públicas e seus leitores; políticas estaduais na promoção da leitura. Acompanhe abaixo a entrevista ou acesse o programa Jogo Rápido.

CEC e  Rádio Câmara – Percebe-se que no Brasil, em relação a países desenvolvidos, o índice de leituras por habitantes é ainda muito baixo. O senhor acha que é o preço do livro ou falta, na verdade, o estímulo à leitura?

Marcelo Almeida -É uma conjuntura. O Brasil tem 30 milhões de analfabetos funcionais, que não conseguem ler um texto do chapeuzinho vermelho e 15 milhões de analfabetos totais. O problema começa pela casa, com a mãe, a tia, a irmã que acabam não ensinando o irmão mais novo a ler. O livro é sempre renegado e fica muito aquém do folclore, do teatro e das artes. Também acredito que é um círculo vicioso porque um livro de R$40,00 ainda é muito caro para o cidadão que recebe um salário mínimo.

CEC e  Rádio Câmara - Algumas pessoas tem livro em casa, tem uma família de leitores, e mesmo assim não se sente estimulada. O senhor acha que há uma competição com as novas tecnologias que tiram um pouco essa vontade ler o livro?

Marcelo Almeida -Dá para fazer uma metáfora. Alguns preferem tomar vitamina do que ter que mastigar. Ler é mastigar. Tem que digerir. Eu acredito também que a falta de interesse pela leitura está relacionada com a forma que ela é inserida pelo ensino educacional do país. Tem que começar com uma coisa que seja mais fácil mesmo. Mesmo que tenha uma cara de auto-ajuda, não tem problema. O que temos que fazer é que essa pessoas fique viciada em ler. Acho que os passos que a escola pública ainda dá, infelizmente, acaba sendo uma obrigação e não um prazer.

CEC e  Rádio Câmara - Como o senhor avalia as mudanças proporcionadas pelas novas tecnologias?

Marcelo Almeida - O escritor chamado Humberto Ecco fala que os livros não acabarão. No fundo, o livro é como se fosse uma roda. Não existe roda quadrada. Daqui a cem anos a roda continua redonda. Livro é como uma tesoura. Não tem jeito, a melhor maneira de cortar um papel é com tesoura. O livro é igual uma colher. Daqui a 200 anos as pessoas vão tomar sopa com uma colher. E esse mundo que vem do livro digital é algo muito recente. Nessa primeira década do século 21 não vai fazer uma grande transformação. Veja que no ano passado na Alemanha foram vendidos 75 mil livros eletrônicos. A previsão é de que até o ano que vem sejam vendidos 170 mil livros eletrônicos, sendo que o mundo tem 2 milhões. Então ainda é muito pouco.

CEC e  Rádio Câmara - Quando se fala em disponibilidade do livro  remete-se a biblioteca pública. O senhor acredita  a disponibilização de livros em bibliotecas, públicas ou privadas, seria suficiente para que a leitura aumentasse?

Marcelo Almeida -Não. Pelo menos as bibliotecas que freqüento no sul do Brasil são de difícil acesso. Ela não é aconchegante. A biblioteca tinha que ser como um abraço da avó: ter um bom lugar para sentar, uma boa iluminação, ser arejada e com livros de capa dura. Acho que a biblioteca é ainda mais um espaço físico do que um espaço cultural.


CEC e  Rádio Câmara - Nós reparamos que as bibliotecas que estão conseguindo atrair as pessoas se tornaram centros culturais. Elas tratam o livro dentro de um contexto de vários eventos. O senhor acha que isso funciona melhor?

Marcelo Almeida - Muito melhor. Você precisa ter um pouco de cada coisa para que aquilo dê certo. Eu gosto muito dos centros culturais. Hoje no centro de São Paulo você já percebe muito isso. Tem a tecnologia da informação. Tem a tecnologia da comunicação. Tem uma tela de cinema, uma música hip hop e tem também os livros.

CEC e  Rádio Câmara - Quais são os hábitos de leitura do senhor, deputado Marcelo Almeida?

Marcelo Almeida - Eu tenho muito carinho por romance. Eu acho que com o romance a gente viaja sem sair de casa. A gente se apaixona por aquela mulher que nunca viu e a entender um pouco mais o que é o amor. Eu também sou um homem de estações. Agora estou em uma estação um pouco mais africana. Eu leio muito Jonh Coetese, A Desonra; Mia Couto; e também nos livros portugueses: Miguel Sousa Tavares, O Equador, No Teu Deserto; Inês Pedrosa. No Brasil também tem tanta coisa boa: Milton Hatoum, Dois Irmãos. No Paraná há grandes escritores: Cristovão Tezza, O Filho Eterno; Laurentino Gomes; e temos obras como Os Sertões; Vidas Secas. Tenho paixão por um livro chamado Correspondência, Machado de Assis e Joaquim Nabuco; também tem obras que nos encantam como John Grisham; O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder.


CEC e  Rádio Câmara - O Senhor acha que a leitura tem a dimensão que, de fato, ela merece, no Congresso Nacional?

Marcelo Almeida - Não. A leitura não tinha uma inserção dentro do Congresso Nacional. A minha percepção é que com os seminários que realizamos, os contadores de história, editores, as pequena ou grandes livrarias, passam a ter um espaço para falar sobre direito autoral, sobre o livro digital, sobre a fotocópia. E por incrível que pareça, esse é um assunto que não tem aresta, que desçe redondo. Ninguém é contra.

CEC e  Rádio Câmara - A  partir do II Seminário do Livro e da Leitura. O que o senhor acredita que a Frente Parlamentar da Leitura vai conseguir produzir?

Marcelo Almeida - O Brasil tem um Plano Nacional do Livro e da Leitura e com esses dois seminário já foi realinhado um Fundo Setorial pró Leitura. São R$ 70,00 milhões de reais por ano para serem gastos pelos munícpios que já tem seus planos de incentivo à leitura.. O Segundo passo importante é a recriação do Instituto Nacional do Livro. Isso é uma proposta que foi fechada na época do Collor. E o terceiro ponto é a importante discussão que temos feito sobre a propriedade intelectual dos livros, já com o mundo digital chegando, que é o Ebook, Ereader, que é o leitor eletrônico.

Também estamos concretizando algo que está previsto dentro da lei do livro. Dentro de 60 dias o correio vai apresentar, aqui na Câmara Federal, uma tarifa diferenciada para envio de livros, ou seja, vamos pagar bem menos para enviar um livro.

No nível da leitura também começamos a ter um trabalho muito forte de formação de agentes de leitura. O Paraná já tem alguns. Inclusive há o seguinte projeto do governo federal: o cidadão se cadastra, e a prefeitura faz uma licitação com pessoas de 18 a 29 anos que tenham algum sentimento por livro e por leitura. Então, o vencedor da licitação ganha da prefeitura uma bicicleta, 200 livros, um jaleco e um boné para que ele dissemine a leitura e o livro nos bairros mais pobres da cidade.

Percebo como o II Seminário foi relevante. Nós enchemos o Auditório Nereus Ramos aqui do Congresso Nacional. Isso é impressionante porque pouca gente lê no Brasil. Mas eu fico muito feliz de o Congresso querer discutir o assunto do livro e da leitura no país.

 
CEC e  Rádio Câmara – O tema do próximo Seminário do Livro e da Leitura já está definido?

Marcelo Almeida - Ainda não, mas acredito que será focado no financiamento dos programas municipais e estaduais. Eu penso em no próximo ano pedir para cada deputado federal e cada senador da república, independentemente do partido, para que arrume de cem a duzentos mil reais só para o assunto livro e leitura. O que já faz uma enorme diferença porque é bem pequena a verba que temos. Então precisamos pensar em como incentivar melhor o livro e a leitura.

por Vanessa Vieira.

Entrevistadores: Humberto Martins – Rádio Câmara
                        Vanessa Vieira – Comissão de Educação e Cultura