Pesquisadores pedem mais investimentos no ensino infantil

15/10/2007 18h50

Investir na primeira infância pode ser mais barato e eficiente, do ponto de vista educacional, do que concentrar esforços na escolarização a partir dos 6 anos, como define a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Pesquisadores que participaram hoje do Seminário Internacional sobre Educação Infantil, promovido pela Comissão de Educação e Cultura, apresentaram dados que apontam para a necessidade urgente de rever as prioridades no atendimento de crianças de até 3 anos. Eles ainda indicaram a educação infantil de qualidade como a política social mais adequada para combater a pobreza e a exclusão social.

De acordo com o pesquisador da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), John Bennett, "nas famílias de baixo poder aquisitivo ou em extrema situação de pobreza, o acesso precoce à escola pelos seus filhos é garantia de condições sociais mais dignas para toda a família". Na opinião do especialista, o esforço para universalizar a educação infantil pública deve ser de todas as esferas de governo e de toda a sociedade.

Bennett citou como exemplo bem-sucedido o projeto Starting Strong (começando forte), iniciativa voltada para a educação infantil que envolve 12 países da União Européia, em conjunto com Austrália e Estados Unidos, sob a coordenação da OCDE.

Papel inclusivo
O professor da Universidade de Vanderbilt (USA), David Dickinson, também destacou o papel inclusivo da educação infantil. "Políticas para garantir educação universal de qualidade a todas as camadas da sociedade, sobretudo às mais pobres, é a forma mais eficiente de promover a igualdade e a justiça em uma sociedade", frisou.

Diretor do Centro para os Direitos Humanos das Crianças da Universidade de Loyola (EUA), o professor James Garbarino citou o programa Fome Zero, do governo federal, como uma forma eficiente de melhorar a educação infantil. Garbarino mostrou pesquisa feita entre 18 países europeus, além dos EUA, Canadá e Japão, sobre a relação entre concentração de renda e qualidade de vida. A pesquisa, segundo ele, revela que onde havia menor concentração de renda, independente da renda média da população, as pessoas viviam com mais segurança e a infância era mais bem atendida.

O presidente da Comissão de Educação do Senado, senador Cristovam Buarque (PDT-DF), concordou que as desigualdades socioeconômicas do País só diminuirão quando houver educação de qualidade para todos os brasileiros. Ele lamentou o "desperdício de 82% dos cérebros" no processo educacional até o fim do ensino médio. Cristovam lembrou que, atualmente, 33% dos estudantes que ingressam no sistema educacional concluem o ensino médio. Desses, apenas a metade sai da escola com uma formação de qualidade.

Resultados rápidos
James Garbarino argumentou que os resultados das políticas públicas para crianças na faixa etária da primeira infância são muito rápidos. Ele citou como exemplo o atendimento a crianças vítimas indiretas (vizinhos e estudantes de escolas de Nova Iorque) dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Pesquisas com essas crianças, seis meses depois, mostraram que 80% delas já haviam se recuperado dos traumas.

Garbarino também afirmou que as ações e programas para a primeira infância devem ser desenvolvidos a partir de uma perspectiva ecológica, ou seja, que considere o contexto e o ambiente onde são aplicadas. Segundo o professor, não adianta garantir apenas mais livros, mais brinquedos e alimentação adequada, sem estabelecer mecanismos que também assegurem a segurança socioeconômica da família, em especial das mães - responsáveis pela educação dos filhos na maioria dos casos.


Reportagem - Antonio Barros e Roberto Seabra
Edição - Francisco Brandão

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