Especialista em educação critica ensino médio polivalente

17/09/2007 18h45
Otávio Praxedes

Cláudio Castro: investir em escolas técnicas de nível médio é jogar dinheiro fora.

O presidente do Conselho Consultivo da Faculdade Pitágoras e articulista da revista Veja , Cláudio de Moura Castro, disse hoje que o principal problema do ensino médio ofertado no Brasil é a multiplicidade de objetivos. Segundo o economista, o curso tenta, ao mesmo tempo, preparar os estudantes para o vestibular e para o mercado de trabalho, mas não faz nem uma coisa nem outra.

Para Castro, que participou na Câmara do Seminário Internacional sobre Ensino Médio Diversificado, promovido pela Comissão de Educação e Cultura, nem as escolas particulares são exceção à regra. Ele citou resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), de 2003, que coloca o Brasil entre os piores do mundo em compreensão de leitura. Segundo a pesquisa, os filhos de operários europeus, com 15 anos de idade, são mais capacitados a ler documentos internos de empresas do que as estudantes da mesma faixa etária da elite brasileira.

Para o ministro da Educação, Fernando Haddad, o ensino médio é o maior desafio para o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), lançado pelo governo no início deste ano. No plano, o governo assume o compromisso de ampliar, até 2010, de 140 para 354 o número de entidades descentralizadas da rede federal e tecnológica. O projeto é aumentar de cerca de 230 mil para cerca de 700 mil o número de vagas nessas escolas.

Famílias abastadas
Cláudio de Moura Castro afirmou que o governo joga dinheiro fora quando investe em escolas técnicas de ensino médio, com oficinas caríssimas. Ele argumentou que há pesquisas segundo as quais os alunos desses cursos são provenientes de famílias abastadas, "que poderiam pagar a melhor escola particular na cidade, mas preferem estudar de graça". Segundo Castro, esses estudantes buscam formação acadêmica e não profissionalizante. "Eles são obrigados àquela chateação de serrar, limar, mas estão buscando mesmo é aprovação no vestibular", disse.

O deputado e ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza (PSDB-SP) afirmou que o ensino médio precisa ser diversificado para que os alunos possam escolher diferentes trajetos ao longo dos estudos. Na proposta de Paulo Renato, os alunos poderiam escolher carreiras profissionais específicas ou estudos preparatórios para carreiras acadêmicas. "Hoje, o nosso ensino médio é extremamente homogêneo, e seus objetivos, muito abrangentes", disse

O presidente da Comissão de Educação e Cultura, Gastão Vieira (PMDB-MA), afirmou que a comissão já havia advertido o Ministério da Educação de que estratégia de fazer do ensino médio uma mera preparação para o vestibular era um "equívoco".

Resultados insatisfatórios
O ministro da Educação, Fernando Haddad, admitiu que as principais medidas do governo federal para melhorar o ensino médio foram ações indiretas, das quais se esperavam resultados colaterais. "Aumentamos o acesso ao ensino superior, com programas como o Prouni [Programa Universidade para Todos], entendendo que essas ações pudessem robustecer o ensino médio, mas indicadores têm mostrado que os resultados [nesse sentido] não foram satisfatórios," disse.

Apesar das críticas, Castro saudou a idéia do governo de aumentar a oferta de ensino profissionalizante em articulação com a educação de jovens e adultos (EJA), que é voltado para estudantes que não conseguiram concluir os estudos na idade prevista.


Reportagem - Edvaldo Fernandes
Edição - Regina Céli Assumpção

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